Resumo: Os estudos atuais têm mostrado que
considerável percentagem de jovens vem reduzindo a quantidade e a
qualidade de suas interações face a face e adquirindo hábitos de
internautas que podem resultar em isolamento social. Levando-se em
consideração que uma redução na quantidade das relações sociais pode
trazer riscos à saúde, foi desenvolvido o presente estudo que teve como
objetivo contribuir na discussão sobre a comunicação no ciberespaço e
seus relacionamentos interpessoais no anonimato ressaltando alguns
pontos positivos e negativos que a tecnologia oferece em nosso meio
social. O estudo se ancorou numa revisão bibliográfica com a análise de
livros, teses, dissertações e artigos em periódicos especializados no
referente assunto. Além de entrevistas realizadas com vinte
adolescentes com a faixa etária entre 12 a 17 anos e nível de
escolaridade variando entre ensino fundamental a ensino médio.
Palavras-chave: Comunicação; Ciberespaço; Relacionamentos Interpessoais.
COMMUNICATION IN CYBERSPACE:
INTERPERSONAL RELATIONSHIPS IN ANONYMITY
Abstract: Current studies have shown that a
considerable percentage of young people has reduced the quantity and
quality of their face to face interactions and acquiring habits of
Internet users that can result in social isolation. Taking into account
that a reduction in the amount of social relations can bring health
risks, we developed the present study aimed to contribute to the
discussion of communication in cyberspace and their interpersonal
relationships in anonymity highlighting some strengths and weaknesses
that technology offers in our social environment. The study is anchored
on a literature review with analysis of books, theses, dissertations
and articles in professional journals regarding the matter. In addition
to interviews with twenty adolescents aged between 12-17 years and
level of education ranging from elementary school to high school.
Keywords: Communication; Cyberspace; Interpersonal Relationships.
Keywords: Communication; Cyberspace; Interpersonal Relationships.
Atualmente percebe-se a grande proporção que a tecnologia,
através da internet (espaço virtual), tem se inserido em nosso meio
social. A literatura tem mostrado que os pesquisadores começam a
reconhecer a relevância de estudos envolvendo a comunicação no
ciberespaço por alguns motivos, como por exemplo: com a internet um
grande número de jovens reduziu suas possibilidades de contato social
direto; o contato social através da internet difere significativamente
da interação face a face; o relacionamento via internet exacerba a
fantasia e reduz as oportunidades de um conhecimento verdadeiro
incluindo-se, aí, a impossibilidade de observação direta do desempenho
em situações sociais reais (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2002). Em
virtude disso, o presente estudo propõe uma reflexão sobre: a
comunicação no ciberespaço e seus relacionamentos interpessoais no
anonimato.
Nos últimos anos, as relações virtuais entraram de modo repentino na
vida das pessoas. Se imaginarmos que indivíduos de diferentes faixas
etárias em todo o lugar do mundo utilizam horas do seu dia para navegar
por sites de todos os tipos e se comunicar com diversas pessoas,
inclusive aquelas que nunca tiveram um contato físico e pessoal, podemos
reconhecer a importância de uma análise mais apurada do presente tema.
Diante de tais considerações, parece que o modelo tradicional da
informação que passa de uma pessoa para a outra está ficando obsoleto,
parcialmente devido a algumas especificidades dos ambientes eletrônicos
(LEMES, 2008). De acordo com Lévy (1999), o computador como suporte
de mensagens potenciais já se integrou e quase se dissolveu no
ciberespaço, essa turbulenta zona de trânsito para signos vetorizados.
O ciberespaço, sendo um mediador entre informações, é um espaço que
existe no mundo da comunicação em que não é necessária a presença
física do homem para constituir a comunicação como fonte de
relacionamento. O ciberespaço é apresentado por Lévy (1999), como sendo
um princípio co-presente a qualquer outro espaço e podem ser
deslocados à velocidade da luz. Dentro deste contexto, uma questão que
se torna relevante para a discussão é: “Será que nossos relacionamentos
no ciberespaço propiciam fatores positivos ou negativos a nossa vida?”
É no anonimato do “lugar virtual” que se experimenta solitariamente
uma nova sociabilidade. O viajante pode caminhar por diversas infovias
até encontrar o grupo ou tribo com que mais se assemelha. Ao encontrar
sua tribo, o indivíduo fixa-se neste endereço eletrônico e passa a
experienciar e compartilhar de um lugar simbólico e marcado por
relações de pertencimento de caráter ideológico, afetivo, sexual ou
racial (SILVA & TANCMAN, 1999).
Se, por um lado, a internet veio para acrescentar de forma positiva
possibilitando relações sociais simultâneas e acesso imediato a
qualquer parte do mundo, inaugurando uma nova percepção do tempo e das
relações interpessoais. Por outro lado, está sendo utilizada também
para a propagação de transgressões, delitos e crimes virtuais. O
anonimato na internet pode facilitar as transgressões e crimes virtuais.
Hoje, com a ajuda da tecnologia, pedófilos distribuem entre si,
arquivos contendo fotos e vídeos pornográficos de menores. Além disso,
sites ensinam como preparar bombas caseiras, cometerem suicídio e tantas
outras atividades geradoras de violência (LEMES, 2008).
No anonimato das conversas on-line, qualquer pessoa é capaz de
expressar seus desejos e fantasias com uma liberdade que jamais teria
no mundo real, além de projetar com mais intensidade no outro suas
aspirações, ansiedades e receios. A Internet, assim, proporciona uma
gratificação imediata, uma experiência prazerosa que, pode reforçar
determinados comportamentos e necessidades não supridas no mundo real.
Os internautas também têm dificuldades para reconhecer a dependência
pelo uso exagerado da Internet. Somente no século XIX que a
dependência passou a ser associada a um transtorno da mente,
adicionou-se a este conceito de dependência, à presença de um
transtorno na vontade do individuo (RAZZOUK, 1998). O primeiro a
designar o termo dependência de Internet foi Ivan Goldberg, para
definir uma categoria diagnóstica, caracterizada pelo uso compulsivo e
patológico de Internet (GOLDBERG, 1996).
O uso abusivo da rede está criando uma categoria de pessoas
solitárias, que se refugiam na Internet, perdendo o interesse pelos
afazeres e prazeres do mundo real, desencadeando problemas de ordem
conjugal, social, queda da produtividade no trabalho, além de problemas
de ordem física (MORAES, PILATTI & SCANDELARI, 2005).
Ao refletir sobre os relacionamentos interpessoais no ciberespaço,
também se faz necessário apontar as pesquisas recentes que mostram que
considerável percentagem de jovens vem reduzindo a quantidade e a
qualidade de suas interações face a face e adquirindo hábitos de
internautas que podem resultar em isolamento social (DEL PRETTE &
DEL PRETTE, 2002). Parece contraditório, mas a realidade é que temos
uma tecnologia de comunicação tão tremenda, que gerou um nível de
incomunicação brutal. Pessoas isoladas em seus cantos, mergulhadas em
seus mundos cibernéticos.
Diante de tais constatações, torna-se relevante ressaltar que a
deterioração da saúde pode ser causada não somente por um desgaste
natural do organismo, mas também, pela redução da quantidade ou
qualidade das relações sociais (RAMOS, 2002). Sabe-se, que a pobreza ou a
má qualidade nas relações sociais podem desencadear riscos à saúde, e
tem sido considerada tão danosa quanto o fumo, a pressão arterial
elevada ou a qualquer outro fator que possa comprometer a saúde.
(ANDRADE & VAITSMAN, 2002).
Levando-se em consideração os fatores citados acima, foram
entrevistados vinte adolescentes com a faixa etária entre 12 a 17 anos e
nível de escolaridade variando entre ensino fundamental a ensino médio
com objetivo de ilustrar o presente estudo. A entrevista investigou os
seguintes aspectos: (1) Quantas pessoas têm na sua rede social e com
quantas você se relaciona; (2) Dentre as pessoas que citou na pergunta
um, com quantos você pode contar. As entrevistas foram realizadas, em
sua maioria, no próprio local de vivência dos participantes
entrevistados.
Em relação à questão sobre quantas pessoas existem nas suas redes
sociais e com quantas eles se relacionam pessoalmente, foi interessante
notar que todos os jovens entrevistados só responderam a primeira
parte da pergunta, como pode ser observado nos próximos fragmentos: “Facebook: 385 pessoas, Orkut: 523, msn: 243, twitter: 20”; “No orkut tenho 250 pessoas, MSN tenho 400 pessoas.”; “Facebook:
200 pessoas, Orkut: 942 pessoas, MSN: 650 pessoas.”; “Orkut: 500, MSN:
350, Twitter: 780, Facebook: 1.002.”; “MSN: 383, Orkut: mais de 900,
facebook: mais de 600. O que eu mais uso é o facebook.”
Entretanto, nenhum participante noticiou com quantas dessas pessoas se
relacionam de fato. Todos tiveram o anseio de expressar quantas pessoas
existiam em suas redes sociais, como se a quantidade de indivíduos
pertencentes a suas redes significam qualidade em suas relações sociais.
Para assegurar o que foi ressaltado no tópico anterior, quanto às
possíveis fragilidades que podem haver nos relacionamentos interpessoais
vividos no ciberespaço, foi elaborada a pergunta dois. A partir da
pergunta dois, percebeu-se que apesar de todos os participantes
possuírem muitas pessoas nas suas redes sociais, eles afirmam que
dentre todas essas pessoas, só podem contar com a minoria dentro de seu
círculo de amizades, como pode ser observado nos seguintes relatos: “Eu posso contar só com quatro pessoas”;
“Com umas dez mais ou menos.”; “Cinco pessoas somente.”; “No máximo
umas trinta.”; “Seis pessoas”; “Com quinze pessoas”; “Não tenho
certeza, deve ser umas quinze ou mais. Eu espero!”
A partir das considerações acima, verifica-se que por mais que
exista um relacionamento virtual entre os participantes do estudo,
também há uma ausência de convívio social, o que pode causar severos
efeitos negativos na capacidade cognitiva geral (KATZ & RUBIN,
2000), além de depressão e estresse (FREIRE & SOMMERHALDER, 2000).
Conforme assegura Ramos (2002), a degradação da saúde pode ser causada
não somente por um desgaste natural do organismo, mas também, pela
redução da quantidade ou qualidade das relações sociais.
Em analisar a comunicação no ciberespaço e seus relacionamentos
interpessoais no anonimato, foi possível perceber que existem fatores
positivos e negativos que acometem seus usuários. Vale ressaltar a
necessidades de discussões neste campo já que a sociedade moderna do
próximo milênio estará cada vez mais conectada a essa rede mundial de
computadores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, G. B. & VAITSMAN, J. Apoio social e redes: conectando solidariedade e saúde. Ciência e saúde coletiva, v. 7, n. 4, p. 925-934, 2002.
DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Psicologia das relações interpessoais: Vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes, 2002.
FREIRE, S. A., & SOMMERHALDER, C. Envelhecer nos tempos modernos. In: NERI, A. L. & FREIRE, S. A. (Eds.), E por falar em boa velhice. Campinas, SP: Papirus. p. 125-135, 2000.
GOLDBERG, Ivan. Internet Addiction – Internet Addiction Support
Group. In: MORAES, G. T. B.; PILATTI, L. A.; SCANDELARI, L.
Comportamento patológico provocado pelo uso indevido de Internet: uma
leitura do ambiente produtivo e social. XXV Encontro Nacional de Engenharia de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de Nov de 2005.
KATZ, L., & RUBIN, M. Mantenha o seu cérebro vivo. São Paulo, SP: Sextante. 2000.
LEMES, S. C. O anonimato na Internet como facilitador das transgressões e crimes virtuais. Porto
Alegre, 2008. Especialização - Curso de Especialização em Psiquiatria
Forense, Saúde mental e lei, Universidade Federal de Ciências da Saúde
de Porto Alegre – UFCSPA, 2008.
LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo, Ed. 34, 1999.
MORAES, G. T. B.; PILATTI, L.; SCANDELARI, L.. Comportamento
patológico provocado pelo uso indevido de Internet: uma leitura do
ambiente produtivo e social. XXV Encontro Nacional de Engenharia de
Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de Nov de 2005. Anais Eletrônico... Porto Alegre: XXV ENEP, 2005. Disponível em http://pg.utfpr.edu.br/dirppg/ppgep/ebook/2005/E-book%202006_artigo%2016.pdf. Acesso em 05/10/2011.
RAMOS, M. P. Apoio social e saúde entre idosos. Sociologias, 7, 156-175. 2002.
RAZZOUK, D. Dependência de Internet: uma nova categoria diagnostica?. 1998. Disponível em http://wwwpriory.com/psych/dpnet.htm, Acesso em 09/10/2011.
SILVA C. A. F., TANCMAN, M. A dimensão socioespacial do ciberespaço: uma nota. Geographia, ano 1, nº2 – 1999.
Recebido: 19/03/2012
Aceito: 03/04/2012
Aceito: 03/04/2012
---------------
Autores do texto: ANA CAROLINA AREIAS
Aluna de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta.
CARLOS ASSIS Aluno de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta.
DALET NAPOLEÃO Aluna de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta.
DANIEL GONÇALVES Aluno de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta, bolsista de Iniciação Científica IC-PIBIC/CNPQ.
MÁRCIA BRITO Aluna de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta.
RACHEL SHIMBA CARNEIRO Doutora em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora do mestrado em psicologia da Universidade Católica de Petrópolis e docente do curso de psicologia da UNISUAM.
CARLOS ASSIS Aluno de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta.
DALET NAPOLEÃO Aluna de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta.
DANIEL GONÇALVES Aluno de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta, bolsista de Iniciação Científica IC-PIBIC/CNPQ.
MÁRCIA BRITO Aluna de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta.
RACHEL SHIMBA CARNEIRO Doutora em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora do mestrado em psicologia da Universidade Católica de Petrópolis e docente do curso de psicologia da UNISUAM.
Fonte: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/3095/2215
Nenhum comentário:
Postar um comentário