domingo, 8 de julho de 2012

A COMUNICAÇÃO NO CIBERESPAÇO: RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS NO ANONIMATO

Resumo: Os estudos atuais têm mostrado que considerável percentagem de jovens vem reduzindo a quantidade e a qualidade de suas interações face a face e adquirindo hábitos de internautas que podem resultar em isolamento social. Levando-se em consideração que uma redução na quantidade das relações sociais pode trazer riscos à saúde, foi desenvolvido o presente estudo que teve como objetivo contribuir na discussão sobre a comunicação no ciberespaço e seus relacionamentos interpessoais no anonimato ressaltando alguns pontos positivos e negativos que a tecnologia oferece em nosso meio social. O estudo se ancorou numa revisão bibliográfica com a análise de livros, teses, dissertações e artigos em periódicos especializados no referente assunto. Além de entrevistas realizadas com vinte adolescentes com a faixa etária entre 12 a 17 anos e nível de escolaridade variando entre ensino fundamental a ensino médio.
Palavras-chave: Comunicação; Ciberespaço; Relacionamentos Interpessoais.

COMMUNICATION IN CYBERSPACE: INTERPERSONAL RELATIONSHIPS IN ANONYMITY
Abstract: Current studies have shown that a considerable percentage of young people has reduced the quantity and quality of their face to face interactions and acquiring habits of Internet users that can result in social isolation. Taking into account that a reduction in the amount of social relations can bring health risks, we developed the present study aimed to contribute to the discussion of communication in cyberspace and their interpersonal relationships in anonymity highlighting some strengths and weaknesses that technology offers in our social environment. The study is anchored on a literature review with analysis of books, theses, dissertations and articles in professional journals regarding the matter. In addition to interviews with twenty adolescents aged between 12-17 years and level of education ranging from elementary school to high school.
Keywords: Communication; Cyberspace; Interpersonal Relationships. 

Atualmente percebe-se a grande proporção que a tecnologia, através da internet (espaço virtual), tem se inserido em nosso meio social. A literatura tem mostrado que os pesquisadores começam a reconhecer a relevância de estudos envolvendo a comunicação no ciberespaço por alguns motivos, como por exemplo: com a internet um grande número de jovens reduziu suas possibilidades de contato social direto; o contato social através da internet difere significativamente da interação face a face; o relacionamento via internet exacerba a fantasia e reduz as oportunidades de um conhecimento verdadeiro incluindo-se, aí, a impossibilidade de observação direta do desempenho em situações sociais reais (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2002). Em virtude disso, o presente estudo propõe uma reflexão sobre: a comunicação no ciberespaço e seus relacionamentos interpessoais no anonimato.
Nos últimos anos, as relações virtuais entraram de modo repentino na vida das pessoas. Se imaginarmos que indivíduos de diferentes faixas etárias em todo o lugar do mundo utilizam horas do seu dia para navegar por sites de todos os tipos e se comunicar com diversas pessoas, inclusive aquelas que nunca tiveram um contato físico e pessoal, podemos reconhecer a importância de uma análise mais apurada do presente tema. Diante de tais considerações, parece que o modelo tradicional da informação que passa de uma pessoa para a outra está ficando obsoleto, parcialmente devido a algumas especificidades dos ambientes eletrônicos (LEMES, 2008). De acordo com Lévy (1999), o computador como suporte de mensagens potenciais já se integrou e quase se dissolveu no ciberespaço, essa turbulenta zona de trânsito para signos vetorizados.
O ciberespaço, sendo um mediador entre informações, é um espaço que existe no mundo da comunicação em que não é necessária a presença física do homem para constituir a comunicação como fonte de relacionamento. O ciberespaço é apresentado por Lévy (1999), como sendo um princípio co-presente a qualquer outro espaço e podem ser deslocados à velocidade da luz. Dentro deste contexto, uma questão que se torna relevante para a discussão é: “Será que nossos relacionamentos no ciberespaço propiciam fatores positivos ou negativos a nossa vida?”
É no anonimato do “lugar virtual” que se experimenta solitariamente uma nova sociabilidade. O viajante pode caminhar por diversas infovias até encontrar o grupo ou tribo com que mais se assemelha. Ao encontrar sua tribo, o indivíduo fixa-se neste endereço eletrônico e passa a experienciar e compartilhar de um lugar simbólico e marcado por relações de pertencimento de caráter ideológico, afetivo, sexual ou racial (SILVA & TANCMAN, 1999).
Se, por um lado, a internet veio para acrescentar de forma positiva possibilitando relações sociais simultâneas e acesso imediato a qualquer parte do mundo, inaugurando uma nova percepção do tempo e das relações interpessoais. Por outro lado, está sendo utilizada também para a propagação de transgressões, delitos e crimes virtuais. O anonimato na internet pode facilitar as transgressões e crimes virtuais. Hoje, com a ajuda da tecnologia, pedófilos distribuem entre si, arquivos contendo fotos e vídeos pornográficos de menores. Além disso, sites ensinam como preparar bombas caseiras, cometerem suicídio e tantas outras atividades geradoras de violência (LEMES, 2008).
No anonimato das conversas on-line, qualquer pessoa é capaz de expressar seus desejos e fantasias com uma liberdade que jamais teria no mundo real, além de projetar com mais intensidade no outro suas aspirações, ansiedades e receios. A Internet, assim, proporciona uma gratificação imediata, uma experiência prazerosa que, pode reforçar determinados comportamentos e necessidades não supridas no mundo real.
Os internautas também têm dificuldades para reconhecer a dependência pelo uso exagerado da Internet. Somente no século XIX que a dependência passou a ser associada a um transtorno da mente, adicionou-se a este conceito de dependência, à presença de um transtorno na vontade do individuo (RAZZOUK, 1998). O primeiro a designar o termo dependência de Internet foi Ivan Goldberg, para definir uma categoria diagnóstica, caracterizada pelo uso compulsivo e patológico de Internet (GOLDBERG, 1996).
O uso abusivo da rede está criando uma categoria de pessoas solitárias, que se refugiam na Internet, perdendo o interesse pelos afazeres e prazeres do mundo real, desencadeando problemas de ordem conjugal, social, queda da produtividade no trabalho, além de problemas de ordem física (MORAES, PILATTI & SCANDELARI, 2005).
Ao refletir sobre os relacionamentos interpessoais no ciberespaço, também se faz necessário apontar as pesquisas recentes que mostram que considerável percentagem de jovens vem reduzindo a quantidade e a qualidade de suas interações face a face e adquirindo hábitos de internautas que podem resultar em isolamento social (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2002). Parece contraditório, mas a realidade é que temos uma tecnologia de comunicação tão tremenda, que gerou um nível de incomunicação brutal. Pessoas isoladas em seus cantos, mergulhadas em seus mundos cibernéticos.
Diante de tais constatações, torna-se relevante ressaltar que a deterioração da saúde pode ser causada não somente por um desgaste natural do organismo, mas também, pela redução da quantidade ou qualidade das relações sociais (RAMOS, 2002). Sabe-se, que a pobreza ou a má qualidade nas relações sociais podem desencadear riscos à saúde, e tem sido considerada tão danosa quanto o fumo, a pressão arterial elevada ou a qualquer outro fator que possa comprometer a saúde. (ANDRADE & VAITSMAN, 2002).
Levando-se em consideração os fatores citados acima, foram entrevistados vinte adolescentes com a faixa etária entre 12 a 17 anos e nível de escolaridade variando entre ensino fundamental a ensino médio com objetivo de ilustrar o presente estudo. A entrevista investigou os seguintes aspectos: (1) Quantas pessoas têm na sua rede social e com quantas você se relaciona; (2) Dentre as pessoas que citou na pergunta um, com quantos você pode contar. As entrevistas foram realizadas, em sua maioria, no próprio local de vivência dos participantes entrevistados.
Em relação à questão sobre quantas pessoas existem nas suas redes sociais e com quantas eles se relacionam pessoalmente, foi interessante notar que todos os jovens entrevistados só responderam a primeira parte da pergunta, como pode ser observado nos próximos fragmentos: “Facebook: 385 pessoas, Orkut: 523, msn: 243, twitter: 20”; “No orkut tenho 250 pessoas, MSN tenho 400 pessoas.”; “Facebook: 200 pessoas, Orkut: 942 pessoas, MSN: 650 pessoas.”; “Orkut: 500, MSN: 350, Twitter: 780, Facebook: 1.002.”; “MSN: 383, Orkut: mais de 900, facebook: mais de 600. O que eu mais uso é o facebook.” Entretanto, nenhum participante noticiou com quantas dessas pessoas se relacionam de fato. Todos tiveram o anseio de expressar quantas pessoas existiam em suas redes sociais, como se a quantidade de indivíduos pertencentes a suas redes significam qualidade em suas relações sociais.
Para assegurar o que foi ressaltado no tópico anterior, quanto às possíveis fragilidades que podem haver nos relacionamentos interpessoais vividos no ciberespaço, foi elaborada a pergunta dois. A partir da pergunta dois, percebeu-se que apesar de todos os participantes possuírem muitas pessoas nas suas redes sociais, eles afirmam que dentre todas essas pessoas, só podem contar com a minoria dentro de seu círculo de amizades, como pode ser observado nos seguintes relatos: “Eu posso contar só com quatro pessoas”; “Com umas dez mais ou menos.”; “Cinco pessoas somente.”; “No máximo umas trinta.”; “Seis pessoas”; “Com quinze pessoas”; “Não tenho certeza, deve ser umas quinze ou mais. Eu espero!”
A partir das considerações acima, verifica-se que por mais que exista um relacionamento virtual entre os participantes do estudo, também há uma ausência de convívio social, o que pode causar severos efeitos negativos na capacidade cognitiva geral (KATZ & RUBIN, 2000), além de depressão e estresse (FREIRE & SOMMERHALDER, 2000). Conforme assegura Ramos (2002), a degradação da saúde pode ser causada não somente por um desgaste natural do organismo, mas também, pela redução da quantidade ou qualidade das relações sociais.
Em analisar a comunicação no ciberespaço e seus relacionamentos interpessoais no anonimato, foi possível perceber que existem fatores positivos e negativos que acometem seus usuários. Vale ressaltar a necessidades de discussões neste campo já que a sociedade moderna do próximo milênio estará cada vez mais conectada a essa rede mundial de computadores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, G. B. & VAITSMAN, J. Apoio social e redes: conectando solidariedade e saúde. Ciência e saúde coletiva, v. 7, n. 4, p. 925-934, 2002.
DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Psicologia das relações interpessoais: Vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes, 2002.
FREIRE, S. A., & SOMMERHALDER, C. Envelhecer nos tempos modernos. In: NERI, A. L. & FREIRE, S. A. (Eds.), E por falar em boa velhice. Campinas, SP: Papirus. p. 125-135, 2000.
GOLDBERG, Ivan. Internet Addiction – Internet Addiction Support Group. In: MORAES, G. T. B.; PILATTI, L. A.; SCANDELARI, L. Comportamento patológico provocado pelo uso indevido de Internet: uma leitura do ambiente produtivo e social. XXV Encontro Nacional de Engenharia de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de Nov de 2005.
KATZ, L., & RUBIN, M. Mantenha o seu cérebro vivo. São Paulo, SP: Sextante. 2000.
LEMES, S. C. O anonimato na Internet como facilitador das transgressões e crimes virtuais. Porto Alegre, 2008. Especialização - Curso de Especialização em Psiquiatria Forense, Saúde mental e lei, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA, 2008.
LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo, Ed. 34, 1999.
MORAES, G. T. B.; PILATTI, L.; SCANDELARI, L.. Comportamento patológico provocado pelo uso indevido de Internet: uma leitura do ambiente produtivo e social. XXV Encontro Nacional de Engenharia de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de Nov de 2005. Anais Eletrônico... Porto Alegre: XXV ENEP, 2005. Disponível em http://pg.utfpr.edu.br/dirppg/ppgep/ebook/2005/E-book%202006_artigo%2016.pdf. Acesso em 05/10/2011.
RAMOS, M. P. Apoio social e saúde entre idosos. Sociologias, 7, 156-175. 2002.
RAZZOUK, D. Dependência de Internet: uma nova categoria diagnostica?. 1998. Disponível em http://wwwpriory.com/psych/dpnet.htm, Acesso em 09/10/2011.
SILVA C. A. F., TANCMAN, M. A dimensão socioespacial do ciberespaço: uma nota. Geographia, ano 1, nº2 – 1999.
Recebido: 19/03/2012
Aceito: 03/04/2012
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Autores do texto:  ANA CAROLINA AREIAS Aluna de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta.
CARLOS ASSIS Aluno de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta.
DALET NAPOLEÃO Aluna de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta.
DANIEL GONÇALVES Aluno de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta, bolsista de Iniciação Científica IC-PIBIC/CNPQ.
MÁRCIA BRITO Aluna de Graduação de Psicologia do Centro Universitário Augusto Motta.
RACHEL SHIMBA CARNEIRO Doutora em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora do mestrado em psicologia da Universidade Católica de Petrópolis e docente do curso de psicologia da UNISUAM.
Fonte:  http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/3095/2215

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