quinta-feira, 19 de julho de 2012

Viver um pouco mais

 Ruy Carlos Ostermann*

 
Gosto dos dias frios, bem mais  do que os quentes e por nada que seja do corpo ou das pernas. Tudo a ver com a cabeça, a imaginação, o pensamento, as memórias lúdicas e as outras bem mais insistentes, nem sempre as que ficam como testemunho dessa experiência humana que subdivido com os outros, os verdadeiros signatários de tudo que aparece no lusco-fusco dessas minhas vacilações.

Gosto dos dias frios por essa intimidade que provoca, ao contrário das expansões lúdicas do calor, que sempre é preciso reorganizar com grandes perdas e atropelos. Um homem suado é quem para, vacila e fica na sombra à espera de uma mudança de temperatura e ânimo, um intervalo com a suave hostilidade.

Não sei se produzo mais, leio ou escrevo ou penso, mas sempre me parece que tenho maior disponibilidade. O livro abre mais fácil na página que foi deixado na semana passada, a esferográfica fica mais untuosa na folha limpa, o e-mail parece sempre mais apropriado e apto para respostas ou novas demandas de texto e especulações.

Os dias de frio ficam fora, da janela para longe. É o sentimento deles que está dentro, colado no corpo e efervescente na cabeça, que serve para intensificar essa outra vontade de viver um pouco mais.
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* Jornalista. Escritor. Cronista da ZH
Fonte:  http://www.encontroscomoprofessor.com.br/19/07/2012
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