P. Dennis Clark (EUA)*
Meditação
Visita de Maria, mãe de Jesus,
a Isabel, mãe de João Baptista
Luca della Robbia
a Isabel, mãe de João Baptista
Luca della Robbia
Havia um sacerdote chamado Zacarias, da
classe de Abias, cuja esposa era da descendência de Aarão e se chamava
Isabel. Ambos eram justos diante de Deus, cumprindo irrepreensivelmente
todos os mandamentos e preceitos do Senhor. Não tinham filhos, pois
Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada. ... Então
apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. Ao
vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. Mas o anjo
disse-lhe: «Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua
esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João. (Lucas 1, 5-13)
É difícil imaginar a surpresa que os pais de João
Baptista sentiram quando descobriram que Isabel estava grávida. Eles
eram velhos, muito velhos! E sem filhos! E de repente, um bebé, e as
suas vidas transformaram-se de uma maneira que já não imaginavam.
Deus ainda tem muitas surpresas, até para os mais
velhos de entre nós – dons e bênçãos que nem sequer sonharíamos.
Muitas estão já a caminho. Mas será que as iremos receber? Será que
chegaremos a reparar quando elas chegarem aos nossos umbrais? Talvez
sim, talvez não. Tudo depende do que tivermos decidido valorizar, do
que tivermos decidido que merece a nossa atenção – e o que não merece.
Um exemplo: se “sucesso” e “ganhar” são as nossas
prioridades, olharemos para as pessoas de uma maneira muito específica
e limitada. Vê-las-emos como potenciais ferramentas que nos serão
úteis e também como possíveis adversários, e pouco mais. Esta maneira
de ver as pessoas rejeita o que elas têm de melhor e desaproveita a
oportunidade de uma nova amizade. Deus envia-nos presentes admiráveis
mas, demasiadas vezes, não os recebemos.
William Blake, O Anjo Gabriel aparecendo a Zacarias
Outro exemplo: se “paz e sossego” é a nossa prioridade
fundamental, o único lugar verdadeiramente propício para nós é a
sepultura. Mas isso não detém alguns de nós de se tentarem isolar do
mundo. E a paga serão vidas vazias e amarguradas. Andaremos furiosos
com os nossos vizinhos, furiosos com a pessoa que quer um auxílio,
furiosos com os nossos filhos, furiosos com a menina que arrancou uma
flor do nosso jardim e que nos incomoda ao tocar à campainha para no-la
entregar. A prioridade que damos à paz e sossego recusará os mais
belos dons da vida, deixando-nos cada vez mais limitados, deprimidos e
maldosos.
Se, por outro lado, escutarmos Jesus e fizermos
da família de Deus a nossa principal prioridade, a corrente de dons
preciosos nunca parará: o rosto transformado de uma criança que sabe
que somos de confiança, o andar confiante de um miúdo outrora com
dificuldades que ajudámos a doutorar-se, o olhar afectuoso de alguém
que sabe que estamos a dar o nosso melhor, o abraço de um amigo que
salvámos de um revés. Tantos presentes inesperados que vão encher os
nossos dias quando aprendermos de Jesus como ver, como amar e como nos
darmos como presente.
Tintoretto, O nascimento de S. João Baptista
Deus nunca esgota as surpresas. Para quem sabe
ver e amar, todos os dias são cheios delas, até à hora derradeira.
Então a melhor surpresa de Deus cairá nas nossas mãos porque soubemos
como ver e o que amar.
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