quinta-feira, 26 de julho de 2012

A Morte, esse Lugar-Comum

Alexandre O'Neill*
 

É trivial a morte e há muito se sabe
fazer - e muito a tempo! - o trivial.
Se não fui eu quem veio no jornal,
foi uma tosse a menos na cidade...

A caminho do verme, uma beldade
— não dirias assim, Gomes Leal? —
vai ser coberta pela mesma cal
que tapa a mais intensa fealdade.

Um crocitar de corvo fica bem
neste anúncio de morte para alguém
que não vê n'alheia sorte a própria sorte...

Mas por que não dizer, com maior nojo,
que um menino saiu do imenso bojo
de sua mãe, para esperar a morte?...

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* Poeta português ( 1924-1986).
Alexandre O'Neill, in 'Abandono Vigiado'

Fonte: http://www.citador.pt/poemas/a-morte-esse-lugarcomum-alexandre-oneill 
Imagem da Internet

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