Alexandre O'Neill*
É trivial a morte e há muito se sabe
fazer - e muito a tempo! - o trivial.
Se não fui eu quem veio no jornal,
foi uma tosse a menos na cidade...
A caminho do verme, uma beldade
— não dirias assim, Gomes Leal? —
vai ser coberta pela mesma cal
que tapa a mais intensa fealdade.
Um crocitar de corvo fica bem
neste anúncio de morte para alguém
que não vê n'alheia sorte a própria sorte...
Mas por que não dizer, com maior nojo,
que um menino saiu do imenso bojo
de sua mãe, para esperar a morte?...
fazer - e muito a tempo! - o trivial.
Se não fui eu quem veio no jornal,
foi uma tosse a menos na cidade...
A caminho do verme, uma beldade
— não dirias assim, Gomes Leal? —
vai ser coberta pela mesma cal
que tapa a mais intensa fealdade.
Um crocitar de corvo fica bem
neste anúncio de morte para alguém
que não vê n'alheia sorte a própria sorte...
Mas por que não dizer, com maior nojo,
que um menino saiu do imenso bojo
de sua mãe, para esperar a morte?...
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* Poeta português ( 1924-1986).
Alexandre O'Neill, in 'Abandono Vigiado'
Fonte: http://www.citador.pt/poemas/a-morte-esse-lugarcomum-alexandre-oneill
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