Tenho o hábito de ler jornais, quase que
diariamente, há cerca de 20 anos. Por ter vivido a, digamos assim, era
da “pré-Internet”, aprendi a consumir informação pelo tradicional meio
da mídia impressa, o que abarca não apenas os jornais, mas também as
revistas e outras publicações periódicas veiculadas por meio de papel.
Mesmo com o surgimento, expansão e
consolidação da Internet, com a facilidade toda que nós temos hoje em
dia de acessar a informação por meio não só do computador de mesa, mas
também por meio de tablets e celulares, esse hábito de leitura
“analógica” continuou firme e forte, tão forte a ponto de, recentemente,
ao invés de comprar os jornais avulsos na banca, ter resolvido fazer
assinaturas de dois deles, todos de abrangência nacional. A vantagem é
que hoje posso ler não só a edição impressa, mas tenho também a
facilidade de fazer o download da versão para tablet. Então, como o
jornal dificilmente chega em casa às 5 da manhã, resolvi eu mesmo baixar
a versão para tablet para ler a essa hora do dia.
Mas aí ocorreu uma coisa interessante.
Durante esses dias que eu tirei para descansar, eu não só não tive acesso, por óbvio, aos jornais impressos, já que eu estava viajando, mas também não tive acesso à Internet, o que implica dizer que eu também não tinha acesso às versões digitais dos referidos jornais.
Mas não é só isso.
Imediatamente ao retornar das férias, eu
passei a não sentir tanta falta assim da leitura diária desses jornais,
tanto que eu nem me dava ao trabalho de baixar as respectivas versões
digitais.
E aí eu comecei a ter um pensamento que
provocava – e na verdade ainda provoca – reflexões em minha mente: será
que vale a pena continuar assinando esses jornais? Será que o ato de ler
diariamente tais periódicos não passava de um hábito de consumo automatizado que poderia ser perfeitamente deixado de lado?
Talvez se eu não tivesse dado esse “break” dificilmente eu teria
condições de fazer uma análise mais criteriosa desse hábito de consumo,
como estou fazendo atualmente. Afinal, se as prioridades mudam com o decorrer do tempo,
os hábitos acabam também mudando, pois esses nada mais são do que o
reflexo da prioridade que damos para o uso do tempo em relação a
determinadas atividades.
Não estou dizendo, por óbvio, que irei
abandonar a leitura dos periódicos se eu cancelar a assinatura deles,
pois é evidente que eu posso lê-los novamente em qualquer dia da semana,
simplesmente indo na banca e comprando o exemplar do dia. O que quero
dizer é que nossos hábitos de consumo refletem padrões que criamos ao longo de vários anos de vida – às vezes, de várias décadas – e que uma pausa na vida pode ser interessante para que possamos reavaliar esses mesmos hábitos.
E essa “pausa” não precisa ser
necessariamente realizada na forma de férias. Quantas vezes não mudamos
de atitude em relação às coisas que acontecem à nossa volta depois de
nos concentrarmos arduamente numa atividade – elaboração de um projeto
de conclusão de curso, preparação para um casamento, conclusão de uma
meta na empresa… – ou mesmo depois de ocorrer algum infortúnio em nossas
vidas (doença, separação, acidente…), que nos obrigam a reavaliar
determinados hábitos que estavam enraizados desde há muito tempo em
nosso cotidiano?
Em resumo, o que quero dizer é que de
tempos em tempos precisamos “parar” e verificar se as coisas que
costumamos fazer no nosso dia-a-dia realmente fazem sentido e adicionam valor ao tempo que gastamos em realizá-las.
Podemos chegar à conclusão de que algumas coisas podem não fazer tanto
sentido quanto faziam antes – é o caso (aparentemente) da minha relação
com a leitura diária de jornais – mas outras podem ainda continuar a fazer sentido, mesmo após um período de reflexão.
Um exemplo prático do que ocorreu comigo
foi em relação à prática de esportes. Gosto de atividade física não só
pelos benefícios intrínsecos que proporciona – melhora dos níveis de
saúde física do corpo – mas também pelos seus reflexos nas demais áreas
da vida, já que é um poderoso “combustível” que fornece energia para as
demais atividades que praticamos no dia-a-dia. Ao retornar das férias,
percebi que, embora eu já não sentisse tanta falta de ler os jornais
diariamente, eu ainda sentia falta da prática da atividade física, da ida regular para a boa e velha academia.
Mas por quê isso acontece? Não
deveria ocorrer com a prática esportiva o mesmo que ocorreu em relação
aos jornais, ou seja, não poderia também dispensá-la?
Não, e isso por um motivo simples: hábitos que fazem sentido durante a rotina podem não fazer sentido quando se está fora dela.
Quando estamos focados em uma atividade que requer atenção total – seja
ela viagens de férias, seja preparação para testes e provas, ou seja
ainda conclusão de um projeto acadêmico – normalmente saímos de nossa
rotina normal: acordamos mais cedo, dormimos mais tarde, e dispensamos
ou “sacrificamos” várias atividades que nos consumiriam tempo. Porém, ao
voltarmos à nossa rotina do dia-a-dia, simplesmente não podemos abdicar
de vários daqueles hábitos que dispensamos durante o período de
concentração/descanso, simplesmente porque eles não só fazem sentido
para nossa vida, como dão o “tempero” e o “sabor” necessários para que
presente seja vivido com muito mais qualidade e energia. Isso
porque muitos hábitos são reflexos de valores, valores que guiam e
norteiam nossas vidas, e abandonar certos hábitos iria significar uma
“quebra” de nosso próprio código de valores, algo de que dificilmente
abriríamos mão voluntariamente.
E foi justamente isso que ocorreu com
minhas práticas esportivas: embora elas “ocupem” um tempo dentro do qual
eu poderia estar estudando ou fazendo qualquer outra atividade que
pudesse gerar renda, elas são fundamentais para que eu possa me manter
com um nível de saúde ótimo a fim de desfrutar de todas as demais coisas
que a vida pode me proporcionar. Essa atividade, sim, pelo menos para
mim, faz todo sentido continuar incorporada na minha rotina cotidiana,
pois reflete um dos valores que eu mais prezo, que é justamente o valor
da saúde.
Por isso é que existe um dia da semana
para descanso, e por isso que existem férias: devemos, sobretudo nesses
momentos (mas sem excluir outros, obviamente, como na recuperação de uma
doença, no período pós-conclusão de um trabalho acadêmico ou projeto
profissional estressante), fazer uma análise de nossos hábitos e nossos
padrões de comportamento, e verificar se eles continuam fazendo sentido
em nossas vidas, ou não passam de velhos hábitos automatizados e que
podem ser dispensados.
Se não continuarem a fazer sentido,
talvez agora seja a hora mais propícia de eliminá-lo de seu dia-a-dia, o
que fará com que você tenha mais liberdade em termos de tempo, e mais
liberdade em termos de grana, para fazer outras coisas em seu lugar,
coisas essas que possam ter adquirido sentido.
E, caso continuem a fazer sentido, vá em frente e retome tudo aquilo que ficou parado.
Normalmente, essa não é uma decisão que possa ser tomada do dia para noite.
Ela exige tempo de reflexão e amadurecimento de ideias. Isso porque,
quando voltamos à nossa rotina do dia-a-dia, a primeira ideia que nos
vêm à mente imediatamente é justamente a de abandonar antigos hábitos.
Mas não tenha pressa! O que era um “impossível continuar com o hábito
tal” pode, com a gradual volta às nossas atividades, evoluir para um
“provavelmente não continuarei com o hábito tal”, e depois para um “vou
voltar ao hábito tal”. Lembre-se do que eu disse acima: hábitos que fazem sentido durante a rotina podem não fazer sentido quando se está fora dela.
É preciso estar totalmente “dentro” do seu dia-a-dia para tomar as
decisões corretas, a fim de evitar confusões e arrependimentos.
Por fim, lembre-se sempre de que não
importa o que os outros irão pensar de suas mudanças (ou permanências): é
você quem molda seu destino, e faz seu dia-a-dia. Não deixe ninguém
fazer sua cabeça. Pois o que o outro pensa não fazer sentido para você,
pode perfeitamente fazer sentido para você. E é isso o que, no final das contas, vai importar.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
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* Créditos da imagem: Free Digital Photos
Fonte: http://www.valoresreais.com/2012/07/09/
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