Antonio Delfim Netto*
Não é razoável assistir, sem preocupação, a economistas bem apetrechados
no cientificismo criticarem com enorme fúria verbal a atual política
econômica.
Seria ridículo supor que ela não pode ser melhor, mas há sérias dúvidas
sobre se ela pode ser "maximizada" sob as restrições impostas:
1º) pelo
efetivo conhecimento de que eles mesmos dispõem e
2º) pelo comportamento
do Poder Legislativo. Menos razoável ainda é transformá-la num ataque
"ad hominem" ao ministro Guido Mantega.
É claro que a situação mundial é muito complicada. Ao gozarmos o
benefício de estarmos no mundo, temos também o seu ônus. É impossível
isolar o comportamento de nossos consumidores, empresários e banqueiros
do que veem acontecer ao seu redor.
Por maior que seja o esforço governamental, seu resultado será sempre
condicionado por esse fato. Mas é absurdo sugerir que a ação pragmática
de curto prazo é "toda errada porque compromete uma visão de longo
prazo".
É mais do que evidente que deveríamos ter feito algumas reformas
(tributária, trabalhista, da seguridade social etc.) para melhorar a
produtividade global da economia.
"Deveríamos", porém, é bem diferente do "poderíamos", devido às
"condicionantes" expostas acima. Basta ver o comportamento recente do
Congresso Nacional. Sem nenhuma cerimônia e às escondidas da sociedade
inadvertida, ameaça pôr em risco toda a estabilidade fiscal duramente
conquistada em 18 anos.
A ação do governo nas últimas semanas mostra que não há razão para
desencanto e esmorecimento. Em primeiro lugar, por exemplo, a firme
disposição da presidente da Petrobras de "pôr ordem na casa", dando
maior transparência aos problemas responsáveis pela dramática perda de
seu valor, que desagrada aos acionistas privados e espalha pessimismo,
além de aumentar o custo de seu financiamento.
Em segundo lugar, a posição firme da presidenta Dilma Rousseff em
relação ao aumento dos servidores públicos. A tragédia europeia já
deveria ter acendido a luz vermelha nos sindicatos e no Congresso. A
prodigalidade fiscal sempre termina mal. Cabe ao ministro Gilberto
Carvalho, companheiro enturmado, convencê-los de que o aparente "bem
maior de hoje" é um seguro "mal maior de amanhã".
Se a crise aterrissar aqui, não há poder que os proteja. Devolverão, com
juros e correção monetária, o "excesso" do qual se apropriaram até
agora.
Em terceiro lugar, o excelente e apropriado Plano Agrícola para a safra
2012/2013, com o reconhecimento da necessidade de ampliar o seguro e
expandir dramaticamente os serviços de extensão rural, o que ajudará
muito o crescimento em 2013.
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* Economista. Colunista da Folha.
Fonte: Folha on line, 11/07/2012
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