Luis Fernando Veríssimo*
Tom Cruise e Katie Holmes estão se separando. Me
lembrei do que escrevi quando eles se casaram. Pelos rituais da Igreja
da Cientologia, Armani fez não só a roupa do noivo e da noiva para o
casamento como a da filhinha de meses do casal – e eu fiquei com a vaga
impressão de ter feito um resumo da nossa civilização numa frase. Se me
pedissem uma frase para colocar em alguma cápsula do tempo, para ser
aberta daqui a 200 anos, eu submeteria o que escrevi. Daqui a 200 anos
ninguém mais vai saber quem eram Tom Cruise, Katie Holmes e Armani,
embora a filha deles talvez tenha alcançado alguma forma de eternização
científica e ainda viva, ela também dentro de uma cápsula. A Igreja da
Cientologia não existirá mais – ou será a principal igreja do mundo,
tendo crescido muito depois que 100 islamitas disfarçados de Cardeais
explodiram-se ao mesmo tempo dentro da catedral de São Pedro, arrasando o
Vaticano, Meca foi arrasada em represália, e o público perdeu um pouco
do entusiasmo pelas religiões maiores.
O casamento de Tom e Katie, vestindo Armanis, se deu numa pequena cidade à beira de um lago, perto de Roma, escolhida pela sua paisagem romântica, e foi assistido só por convidados. Tom e Katie e a filhinha não apareceram para o público e é provável que nem tenham visto a paisagem, já que não chegaram perto de nenhuma janela. Na nossa civilização era assim, as celebridades escolhiam cuidadosamente e anunciavam os lugares em que não queriam ser vistas, e não eram vistas. Em outros tempos isto seria considerado, no mínimo, um desperdício de Armanis. No nosso tempo, as celebridades tinham se tornado uma espécie de abstração. Eram apenas projeções de si mesmas, o que garantia a exposição controlada sem o risco de esbarrão ou perguntas cretinas sobre a criança, por exemplo. Mas nem mais em pequenas cidades italianas era incomum a noiva casar de barriguinha, ou com o filho já nascido e vestido.
Para que daqui a 200 anos não pensassem mal de nós lendo sobre o casamento ostensivamente fechado de Tom e Katie, eu incluiria na cápsula o recorte de outra notícia que li mais ou menos na mesma época. Num hotel de Las Vegas, uma sucursal do Museu de Cera da Madame Tussauds tinha planejado fazer o casamento de Angelina Jolie e Brad Pitt, ou de reproduções em cera e tamanho natural dos dois, numa cerimônia que não só o público poderia ver de perto, como seria assistida por convidados especiais como John Wayne, Elvis Presley, Liberace, Ronald Reagan e outros, além de, provavelmente, Tom Cruise e Katie Holmes, todos feitos de cera. Alguém achou que seria de mau gosto e a ideia foi abandonada. Pena. O casamento real de Angelina e Brad também foi num lugar conspicuamente à prova da nossa curiosidade, mas no futuro saberiam que pelo menos tentamos trazê-lo para a realidade. Ou coisa parecida.
O casamento de Tom e Katie, vestindo Armanis, se deu numa pequena cidade à beira de um lago, perto de Roma, escolhida pela sua paisagem romântica, e foi assistido só por convidados. Tom e Katie e a filhinha não apareceram para o público e é provável que nem tenham visto a paisagem, já que não chegaram perto de nenhuma janela. Na nossa civilização era assim, as celebridades escolhiam cuidadosamente e anunciavam os lugares em que não queriam ser vistas, e não eram vistas. Em outros tempos isto seria considerado, no mínimo, um desperdício de Armanis. No nosso tempo, as celebridades tinham se tornado uma espécie de abstração. Eram apenas projeções de si mesmas, o que garantia a exposição controlada sem o risco de esbarrão ou perguntas cretinas sobre a criança, por exemplo. Mas nem mais em pequenas cidades italianas era incomum a noiva casar de barriguinha, ou com o filho já nascido e vestido.
Para que daqui a 200 anos não pensassem mal de nós lendo sobre o casamento ostensivamente fechado de Tom e Katie, eu incluiria na cápsula o recorte de outra notícia que li mais ou menos na mesma época. Num hotel de Las Vegas, uma sucursal do Museu de Cera da Madame Tussauds tinha planejado fazer o casamento de Angelina Jolie e Brad Pitt, ou de reproduções em cera e tamanho natural dos dois, numa cerimônia que não só o público poderia ver de perto, como seria assistida por convidados especiais como John Wayne, Elvis Presley, Liberace, Ronald Reagan e outros, além de, provavelmente, Tom Cruise e Katie Holmes, todos feitos de cera. Alguém achou que seria de mau gosto e a ideia foi abandonada. Pena. O casamento real de Angelina e Brad também foi num lugar conspicuamente à prova da nossa curiosidade, mas no futuro saberiam que pelo menos tentamos trazê-lo para a realidade. Ou coisa parecida.
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* Jornalista. Cronista. Escritor.
Fonte: ZH on line, 09/07/2012
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