O escritor catalão Enrique Vila-Matas, 64, participou nesta terça (10)
da Sabatina Folha, no auditório do Museu de Arte Moderna de São Paulo, e
deixou aos jovens escritores um conselho curioso: "Uns dizem para ler
muito. Mas eu digo: não leia".
Ler muito, disse esse autor de 28 livros, traduzido em 32 países, "é bom
e ruim". "Quando comecei a escrever lia muito pouco, só poemas. Assim
criei um estilo original pela falta de conhecimento dos modelos que
havia."
Dito isto, porém, ponderou: "Mas não ler também é perigoso...".
A fala do autor foi marcada por temas universais que aparecem de maneira
recorrente em suas obras e que inscreve num "território da
negatividade" --o fracasso, o suicídio, a melancolia e o
desaparecimento, por exemplo.
Vila-Matas, que veio ao Brasil como convidado da Flip, encerrada no
último domingo, foi entrevistado pelos jornalistas Paulo Werneck, editor
da "Ilustríssima", Manuel da Costa Pinto, colunista da Folha, e Rodrigo Levino, editor-assistente da "Ilustrada".
Como em seus livros, frequentemente protagonizados por escritores,
também durante a sabatina Vila-Matas invocou vários de seus escritores
favoritos. Ele citou W. G. Sebald, Primo Levi, Elias Canetti, Scott
Fitzgerald, além de Kafka.
"Kafka dizia que o positivo nos é dado na vida, e que nos cabe
investigar o negativo. Nem saberia escrever de outra forma. Existem dois
modos de ver o mundo. Um é: o mundo é assim e não se pergunte a
respeito. O outro, de que estamos em um planeta equivocado, não nos
adaptamos e somos uns melancólicos buscando algo que perdemos e que não
sabemos o que é. As duas maneiras são válidas, mas para mim interessa
mais não só contar a história mas construí-la de forma diferente. Não me
basta narrar, é preciso interpretar. E investigar, o trabalho do
escritor contemporâneo tem muito de detetive."
Vila-Matas na Sabatina Folha
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O escritor Enrique Vila-Matas e o editor da "Ilustríssima", Paulo Werneck Leia mais
"AR DE DYLAN"
"Ar de Dylan", seu novo livro, nasceu, segundo conta, de um passeio pela avenida Paulista.
O romance, que sai agora no Brasil pela Cosac Naify (que também editou
aqui seus títulos anteriores), parte da história de um jovem que quer
fracassar em um congresso sobre fracasso.
"Seu pai era um escritor de sucesso, e que usava heterônimos. O filho
deseja não triunfar como o pai, mas fracassar. E ao mesmo tempo ser ele
mesmo, em contraponto às diversas personalidades do pai. Portanto o
filho não quer ser pós-moderno como o pai, que ser uma pessoa só, à moda
antiga."
Vila-Matas disse acreditar que as palavras "têm o poder de mudar o
mundo". E comentou os vaivéns de seu processo de escrita. "Às vezes
escrevo cem páginas sem ter encontrado um ponto de vista e um tom, que
são as duas coisas essenciais. A ideia, que não tive no princípio, nasce
no meio do livro. Daí é preciso reinventar. Esse é o cotidiano do
escritor."
"Há dias em que tudo sai bem e você até desconfia. E outros dias em que
você vai dormir mau humorado achando imprestável o que escreveu. No dia
seguinte você acorda, depara com seu texto e descobre um caminho. Esse é
o mistério da criação".
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Fonte: Folha on line, 10/07/2012
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