Filósofo francês defendeu a integração disciplinar em uma das mais esperadas palestras do seminário Educação 360
RIO - “As escolas de hoje não ensinam sobre a diversidade do ser
humano”. Com essas palavras, o filósofo e antropólogo francês Edgar
Morin abriu neste sábado uma das mais concorridas palestras do encontro
internacional Educação 360, evento promovido pelos jornais O GLOBO e
“Extra”, em parceria com Sesc, Prefeitura do Rio, Fundação Getúlio
Vargas e apoio do Canal Futura.
As cerca de 600 pessoas que lotaram o auditório na Escola Sesc de
Ensino Médio, em Jacarepaguá, ouviram as críticas de Morin ao atual
modelo de ensino no mundo, que segundo ele, se especializou em fornecer
conhecimentos fragmentados. De acordo com o pensador, a escola não
atende mais às necessidades vitais do cidadão, que passariam por um
aprendizado integrado e observando todos os aspectos da realidade
humana:
- Aprendemos na escola muitos conceitos, muitos conhecimentos, mas
todos dispersos. Precisamos desenvolver um modelo educacional que ligue
esses conhecimentos, que lhes coloque em perspectiva. As escolas
acumularam saberes, mas não são capazes de organizá-los.
Morin era um dos palestrantes mais aguardados do seminário Educação
360, que começou na sexta e termina neste sábado, com a palestra do
presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), Francisco Soares.O filósofo francês conquistou a
plateia logo de início, quando arriscou poucas palavras em português
dizendo que não ousaria falar durante toda a conferência na língua de
Camões, já que isso só seria possível se ele tomasse "algumas
caipirinhas".
Já em excelente francês, Morin pregou que a verdadeira reforma
educacional no mundo só será possível assim que os currículos das
diversas disciplinas se preocupassem em pensar conjuntamente o ser
humano. - Há uma realidade mutilada de nós mesmos, fatiada. Nas aulas de
Biologia, eu conheço nosso organismo. Na de economia, somos traduzidos
apenas em números frios. Em ciências humanas, fico sabendo como como
agimos em sociedade. Mas há conhecimentos separados de tudo isso, e
precisamos integrá-los. O aluno precisa entender que a diversidade é o
tesouro da humanidade.
Morin se aprofundou no debate filosófico para defender sua tese. Para
ele, é preciso que as questões do "eu" e do "nós" sejam trabalhadas
conjuntamente, de forma que a pessoa não seja sufocada pela sociedade.
Dissertando sobre a alteridade, o francês afirmou que não só o aluno,
mas os cidadãos em geral precisam conhecer e compreender o "outro". O
esforço de a realidade no outro lado deve começar, principalmente, pela
batalha do autoconhecimento:
- Não ensinamos nem a nos conhecer. As escolas deveriam estimular que alunos escrevessem diários, e depois os lessem com o passar do tempo. E essa prática poderia perpassar ao longo de toda a educação básica. Só conhecendo nossas fraquezas é que conhecemos também as fraquezas dos outros, e assim, as compreenderemos.Em cerca de uma hora de discurso, houve espaço também para a introdução de conceitos já defendidos por Morin em seus trabalhos, como por exemplo a "ecologia da ação". Nela, o aluno precisa estar consciente de que toda decisão é uma aposta, e que somente desenvolvendo estratégias de ação é que seria possível o professor lidar com as incertezas dos estudantes quanto ao futuro. Segundo o pensador, esse seria um dos maiores anseios da sociedade moderna:
- Não ensinamos nem a nos conhecer. As escolas deveriam estimular que alunos escrevessem diários, e depois os lessem com o passar do tempo. E essa prática poderia perpassar ao longo de toda a educação básica. Só conhecendo nossas fraquezas é que conhecemos também as fraquezas dos outros, e assim, as compreenderemos.Em cerca de uma hora de discurso, houve espaço também para a introdução de conceitos já defendidos por Morin em seus trabalhos, como por exemplo a "ecologia da ação". Nela, o aluno precisa estar consciente de que toda decisão é uma aposta, e que somente desenvolvendo estratégias de ação é que seria possível o professor lidar com as incertezas dos estudantes quanto ao futuro. Segundo o pensador, esse seria um dos maiores anseios da sociedade moderna:
- E escola e o conhecimento que ela produz não nos prepara para
lidarmos com as incertezas que nos cercam. Professores têm que incutir
nos alunos a consciência da tomada de ação.A plateia também participou
do debate. No momento em que a palestra foi aberta para perguntas, Morin
se deparou com questões como o possível conteudismo nos currículos da
educação básica, a formação defasada do professor e o dilema entre
integrar o conhecimento no ensino fundamental e médio, e lidar no final
do ciclo com a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que
também pecaria pelo excesso no foco em conteúdo.
- Também acho que todos esses problemas estejam acontecendo. Concordo
com tudo isso. Mas esse fenômeno acontece também porque os professores
se retraíram em suas próprias disciplinas, sem dialogar com docentes de
outras áreas. O individualismo está exacerbado, e precisamos estimular a
solidariedade.
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Reportagem por Leonardo Vieira
Fonte: Jornal o Globo online, 06/09/2014
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