A espiritualidade, em grande medida, existe porque o ser humano, enquanto tal, não consegue chegar à verdade com precisão.
Não lhe é possível atingir a verdade, e essa incapacidade produz a
espiritualidade, isto é, se faz necessário recorrer a uma dimensão que
invente a verdade.
Há muitas formas de tentar alcançar a verdade, a espiritualidade é
uma delas, as artes e as ciências também são. Espiritualidade aqui não é
sinônimo de religiosidade.
O ser humano é um desconhecedor por natureza, assim como tem em si a curiosidade, lindo paradoxo.
Penso que um passo fundamental para se aproximar de algumas verdades é
trabalhar com nossa espiritualidade, que podemos chamar também de
subjetividade.
Um sujeito disposto a conhecer, para além dos básicos exercícios
intelectuais, deve estar atento a filosofia ou o conhecimento que
transforma sua subjetividade.
O que isso quer dizer em bom português? Se alguém quer cuidar de si e
dos outros tem de se ocupar em conhecer a si mesmo. Simples assim, tão
dito e tão pouco ouvido.
Devemos ser nosso próprio "objeto do conhecimento". Nossos hábitos em
geral, nossas formas de estar e olhar o mundo são laboratórios a serem
sempre revisitados.
Quem pouco se pensa, pensa pouco. Muitas vezes queremos mudar algo em
nós e não conseguimos por não entendermos porque somos de determinada
forma, temos determinado comportamento nessa ou naquela situação.
As boas relações - Rene Magritte
O ser humano tem vergonha de ser um desconhecedor, por isso se apega
fácil em certezas e dogmas. Esses condicionam, criam manias, compulsões e
teimosias.
"O vigor intelectual de uma pessoa é medido por sua capacidade de
tolerar dúvidas", Ortega y Casset. As certezas em excesso são
imobilizadoras, são pedras no caminho.
Equilibrar o conhecimento adquirido e a necessidade de sempre aprendermos e melhorarmos é um bonito desafio.
Dar atenção ao que modifica nossa subjetividade é um ótimo caminho
para nos expressarmos melhor. Tanto pela linguagem quanto pelos
comportamentos.
Como canta Lou Reed em Some Kinda Love "Entre a ideia e sua
expressão, existe uma vida". Quanto melhor sabemos o que mexe conosco, o
como podemos nos qualificar, melhor iremos nos expressar. Assim nossa
comunicação será cada vez mais fiel às nossas ideias, mesmo que elas
mudem, pra o nosso bem.
Claro que tudo isso é muito subjetivo, sabe como é, a subjetividade nossa de cada dia.
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