José Ramón F. de la Cigoña*
Nos aproximamos de Deus quando nos integramos...
Para os homens não é fácil falar sobre a sexualidade e, menos ainda, rezá-la. Nossa sexualidade virou sinônimo de pênis ereto, instrumento do macho caçador. Desde a puberdade competíamos para saber quem tinha o membro maior e, facilmente esquecíamos o mundo dos sentimentos, para não sermos suspeitos de sermos homossexuais. Associávamos a sexualidade com a força, a potência e a intensidade… gastando um monte de energia para controlar tudo isso. Mais ainda, se acreditamos em Deus o víamos como o inimigo da sexualidade humana, o poderoso castrador e do qual devíamos nos manter distantes para não perder o gosto de viver.
Vejamos o tema da sexualidade masculina contemplando a cura de um
homem, e vendo Jesus recompor as energias sexuais dele (Mc 5, 1-20).
O relato evangélico fala de um homem desestruturado sexualmente
(“impuro”), e impelido por uma força negativa, de morte, pois morava nos
sepulcros de um cemitério. Isso é mencionado até três vezes e é
significativo. Vivia entre os mortos!
De esse lugar tenebroso e excludente provinha a força que o habitava
(arrebentava correntes e algemas...), força que também o feria. A
sexualidade é uma grande força para a Vida, mas muitos a vivem de
maneira trágica, impossível de sujeitar, bloqueando o que somos e
estamos chamados a viver. Essa desestruturação faz de nós tipos estranhos e à margem da vida.
Gerasa, onde aquele homem vivia, era terra de pagãos. Provavelmente
também colocamos nossa sexualidade à margem e em terra de pagãos, pois
mal conversamos sobre ela e muito menos com Deus. Pensamos a sexualidade
e Deus como entidades competitivas e irreconciliáveis. O texto de Lucas diz que esse homem, além de dar gritos e se ferir com pedras, andava nu.
Na nossa vida podem acontecer autoagressões que ferem a alma e nos
atormentam por longo tempo. Somos muito masoquistas! A dimensão sexual
cria facilmente feridas, recriminações e fixações que precisam ser
curadas. Nessa área facilmente existem experiências a ser ressuscitadas e
algemas que precisam ser quebradas. As culpas no campo sexual são como
os gritos daquele coitado que não querem parar e atormentam a própria
existência. E às vezes, até parecem ser como uma “legião”, tal o poder
obsessivo que carregam. Impulsos poderosos que precisam ser organizados e pacificados!
Jesus quer pessoas afetiva e sexualmente integradas. A cura desse
homem “impuro” de Gerasa é paradigmática. Jesus não se assusta com a
vivência desordenada dele e o deixa se aproximar e até se prostrar aos
seus pés. Para integrar nossa afetividade e sexualidade precisamos
entrar em contato com ela e colocá-la aos pés de Jesus. Jesus dialoga
com suavidade e firmeza, até lograr conhecer o nome daquela força
desordenada. Dialogar, escutar a própria sexualidade é descobrir suas necessidades, aspirações e desejos. E integrá-la!
E os “porcos” afogados no mar? É o momento de “recolocar" novos
valores e também de "soltar” os registros mais velhos que nos
aprisionam. Provavelmente, nossa sexualidade masculina está contaminada
com elementos caóticos, mensagens negativas e crenças limitantes da
cultura machista dominante. Precisamos devolver ao inconsciente
(o mar) as imagens do falo sempre ereto e onipotente e que deformam a
vivência da nossa virilidade.
A sexualidade masculina que Jesus quer dar é representada por esse homem “sentado, vestido e bom de juízo”, cheio de ânimo e generosidade até para seguir o Mestre: “pediu para ir em sua companhia...”
Esse é o nosso desejo, seguir o Senhor com nossas sombras, temores e
preconceitos sociais, tipificados naqueles habitantes que insistiam para
que Jesus deixasse a terra deles...
Integrados e socializados seremos capazes de viver a força interior
da sexualidade no seguimento de Jesus, apesar dos contratempos sociais
ou culturais que nos circundam. Só assim alguns subirão na barca com Ele
e outros irão para suas famílias, "para casa, junto dos teus", mas todos mais livres e anunciando as maravilhas que o Senhor fez em cada um de nós. (Cf. Agustín Rivarola, SJ)
Viver é se equilibrar entre escolhas e consequências!
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* Nasceu em Vigo, Espanha em 01/AGO/1942. Estudou no Colégio Apóstol
Santiago/Vigo. Aos 22 anos foi para o Brasil como jesuíta. Estudou:
Filosofia e Pedagogia em São Paulo, e Teologia em Roma. É sacerdote
desde 1972. Naturalizou-se brasileiro em 1989. Hobbies: Ler e escrever.
Fonte: http://blogs.periodistadigital.com/terra-boa.php/2013/12/18/
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