quinta-feira, 4 de setembro de 2014

UMA MUDANÇA

                                                              Ruy Carlos Ostermann*

Um atrevimento seria imaginar uma grande mudança política. A política não muda tão rapidamente e nem tanto. A política geralmente é uma atividade mais ou menos prevista, previsível, que se repete e que se alonga. Às vezes, o seu sentido é um só durante muito tempo, embora muitas pessoas nem se deem conta disso. A política engana bastante. Por isso, não se esperava - absolutamente não - que um episódio pudesse marcar tão fortemente uma mudança. Talvez a maior mudança política eleitoral que se tenha tido nas últimas décadas. 

A morte do Eduardo Campos, na tragédia que foi o acidente com o seu avião, deu um corte na vida de um jovem candidato, com boas ideias, com boa formação, uma pessoa séria. Tudo isso ficou ainda mais claro e evidente com a sua morte. Antes se dizia "é talentoso, talvez mais adiante possa ser um candidato verdadeiro à presidência da república", mas não se admitia imediatamente que pudesse ter ele essa força. E talvez não pudesse. Mas a morte, nesse caso, é de fato uma alteração radical. Ela determinou uma situação inteiramente nova. Sai Eduardo Campos, fica Marina Silva e desaparece aos poucos Aécio Neves. Uma mudança que não se esperava, porque essa campanha toda, se a gente prestar um pouco de atenção, ter tempo para ela, percebe-se que ela se repete bastante. 

A postura da Dilma tem se mantido coerente todo o tempo. Ela faz a defesa do seu governo, faz a defesa das suas iniciativas e marca a presença dela exatamente nessa direção. Já antes o que havia era uma contestação, mas não havia uma proposta diferenciada. Isso vai aparecer com a Marina. É curioso, a morte do Eduardo Campos determina o esvaziamento aparente de Marina, o seu isolamento inicial, e logo depois há a exigência de uma retomada, dela e de seus companheiros. 

Na verdade, o que ocorreu agora é que todos aqueles que observam a uma certa distância, com um certo desinteresse, a cena política, se deram conta de que estavam diante de um fato novo, totalmente novo, que era o ressurgimento de uma candidatura. Ela não muda o discurso. Ela se mantém próxima da mulher que sempre foi. Se mantém coerentemente numa posição. Ela não tenta resgatar o passado recente de nada e não está acrescentando elemento novo nenhum, mas, na verdade, ela marca presença. E nessa presença há uma outra combinação que as pessoas começam a fazer: são duas mulheres. Uma delas presidirá o Brasil. Duas são as candidatas, porque o Aécio já não é mais. 

Então, isso alterou de tal modo que não é que a política tenha se renovado. Ela não se renova tão facilmente. Ela é muito repetitiva. Mas, o quadro político se modificou muito e agora as pessoas estão entre fazer justiça, recobrar o tempo perdido, reabilitar uma situação ou prestar mais atenção ainda no que está acontecendo. A política finalmente, nesse período, ficou séria. 
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* Jornalista. Escritor.
Fonte:Encontro com o Professor, 04/09/2014
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