Ruy Carlos Ostermann*
Um
atrevimento seria imaginar uma grande mudança política. A política não
muda tão rapidamente e nem tanto. A política geralmente é uma atividade
mais ou menos prevista, previsível, que se repete e que se alonga. Às
vezes, o seu sentido é um só durante muito tempo, embora muitas pessoas
nem se deem conta disso. A política engana bastante. Por isso, não se
esperava - absolutamente não - que um episódio pudesse marcar tão
fortemente uma mudança. Talvez a maior mudança política eleitoral que se
tenha tido nas últimas décadas.
A morte do Eduardo Campos, na
tragédia que foi o acidente com o seu avião, deu um corte na vida de um
jovem candidato, com boas ideias, com boa formação, uma pessoa séria.
Tudo isso ficou ainda mais claro e evidente com a sua morte. Antes se
dizia "é talentoso, talvez mais adiante possa ser um candidato
verdadeiro à presidência da república", mas não se admitia imediatamente
que pudesse ter ele essa força. E talvez não pudesse. Mas a morte,
nesse caso, é de fato uma alteração radical. Ela determinou uma situação
inteiramente nova. Sai Eduardo Campos, fica Marina Silva e desaparece
aos poucos Aécio Neves. Uma mudança que não se esperava, porque essa
campanha toda, se a gente prestar um pouco de atenção, ter tempo para
ela, percebe-se que ela se repete bastante.
A postura da Dilma
tem se mantido coerente todo o tempo. Ela faz a defesa do seu governo,
faz a defesa das suas iniciativas e marca a presença dela exatamente
nessa direção. Já antes o que havia era uma contestação, mas não havia
uma proposta diferenciada. Isso vai aparecer com a Marina. É curioso, a
morte do Eduardo Campos determina o esvaziamento aparente de Marina, o
seu isolamento inicial, e logo depois há a exigência de uma retomada,
dela e de seus companheiros.
Na verdade, o que ocorreu agora é
que todos aqueles que observam a uma certa distância, com um certo
desinteresse, a cena política, se deram conta de que estavam diante de
um fato novo, totalmente novo, que era o ressurgimento de uma
candidatura. Ela não muda o discurso. Ela se mantém próxima da mulher
que sempre foi. Se mantém coerentemente numa posição. Ela não tenta
resgatar o passado recente de nada e não está acrescentando elemento
novo nenhum, mas, na verdade, ela marca presença. E nessa presença há
uma outra combinação que as pessoas começam a fazer: são duas mulheres.
Uma delas presidirá o Brasil. Duas são as candidatas, porque o Aécio já
não é mais.
Então, isso alterou de tal modo que não é que a
política tenha se renovado. Ela não se renova tão facilmente. Ela é
muito repetitiva. Mas, o quadro político se modificou muito e agora as
pessoas estão entre fazer justiça, recobrar o tempo perdido, reabilitar
uma situação ou prestar mais atenção ainda no que está acontecendo. A
política finalmente, nesse período, ficou séria.
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* Jornalista. Escritor.
Fonte:Encontro com o Professor, 04/09/2014
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