José Luis Peixoto*
Fingir que está tudo bem:
o corpo rasgado
e vestido com roupa passada a ferro,
rastos de chamas dentro do corpo,
gritos desesperados sob as conversas:
fingir que está tudo bem:
olhas-me e só tu sabes:
na rua onde os nossos olhares se encontram é noite:
as pessoas não imaginam:
são tão ridículas as pessoas,
tão desprezíveis:
as pessoas falam e não imaginam:
nós olhamo-nos:
fingir que está tudo bem:
o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo,
tempestades de medo nos lábios a sorrir:
será que vou morrer?,
pergunto dentro de mim: será que vou morrer?
olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa,
ferros em brasa,
fogo,
silêncio
e chuva que não se pode dizer:
amor e morte:
amor e morte:
fingir que está tudo bem:
ter de sorrir:
um oceano que nos queima,
um incêndio que nos afoga.
---------------* Nasceu a 04 Setembro 1974 (Ponte de Sor, Portugal) é um narrador, poeta e dramaturgo português.
Fonte: http://www.escritas.org/pt/poema/3253/fingir-que-esta-tudo-bem
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