Ruy Carlos Hostermann*
O Brasil está passando
por um momento muito complicado.
O mundo todo está complicado.
O mundo
está sem dinheiro, sem negócios.
O mundo, a rigor, embora não se diga
muito,
está sem perspectivas.
Não se sabe para que lado
as coisas vão.
Esse
ano não teve apenas calor, frio, vento, chuva e pessoas. Teve mais. Esse
ano foi um ano atípico. Aconteceram coisas fora do padrão habitual, e
aconteceram coisas fora do nosso alcance pessoal.
Veja, por
exemplo, eleições. As eleições visivelmente estão fora do nosso padrão.
Nós estamos tentando nos ajustar à ela. Ela é grande, tem implicações de
todo gênero - mas não todas as que a gente gostaria -, e, na verdade,
não se sabe bem quais são as suas principais implicações. O que agora
começa a se ressaltar é que quase 20% do público ouvido a respeito de
eleições não sabe em quem votar. Isso, aparentemente, é uma negligência,
é um desconhecimento ou é uma ignorância. Uma dessas coisas certamente
é. Mas, de qualquer modo, faz parte desse período. Ou seja, um momento
em que as coisas estão mal definidas, mal propostas, estão em trânsito.
As pessoas em cima disso não conseguem tomar decisões com muita
facilidade. Esse é um enorme problema, porque as eleições terão
repercussão imediata nesse ano ainda, mas, sobretudo a partir do próximo
governo, seja a repetição ou seja a mudança.
É um problema sério
e as pessoas estão no meio disso, não diria atônitas, mas ao menos
preocupadas porque gradativamente elas percebem que aquilo que elas
deveriam ter controle, não chegam a ter. Desaparece o controle. É como
se na mão estivesse alguma coisa e quando você abrisse a mão ela já não
estivesse mais. Não é magia, é o fenômeno da natureza que está
ocorrendo.
Além disso, o ano é atípico por várias outras razões.
Ele corrigiu muita coisa, mas ele colocou fora do lugar muitas outras.
Teve uma Copa do Mundo no Brasil, e um desastre nela. Isso também é um
caso atípico. Não havia uma Copa do Mundo no Brasil desde 1950. Esse
tempo decorrido, também conspira para que se tenha uma imagem mais
segura, uma certeza a respeito dos fatos, uma determinação de como as
coisas podem ser, de como elas vão ocorrer. Isso aí tudo, começa a
escapar.
E em consequência, está aí, metido nisso, um problema a
mais para a convivência da gente em sociedade. O Brasil está passando
por um momento muito complicado. O mundo todo está complicado. O mundo
está sem dinheiro, sem negócios. O mundo, a rigor, embora não se diga
muito, está sem perspectivas. Não se sabe para que lado as coisas vão. E
o Brasil, em meio a isso, além de não saber bem o lado para o qual
todos devem ir, ou a maioria deve ir, também está visivelmente em busca
de uma afirmação, de uma definição. Tudo isso está na discussão das
eleições. Tudo isso passa por dentro do ano e tudo isso tumultua a vida
das pessoas. Eu duvido que alguém esteja seguro de que estamos no lugar
certo, de que as coisas vão acontecer como tem que acontecer e tudo está
previsto. Não. Nada está previsto. O lugar certo talvez não exista e,
em consequência, somos nós que devemos sobreviver.
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* Jornalista. Escritor.
Fonte:http://www.encontroscomoprofessor.com.br/index.php
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