Oscar Motomura*
Oscar Motomura
Queremos protagonistas em nossas
organizações. Pessoas engajadas, comprometidas, automotivadas, com
elevado senso de responsabilidade. Com espírito de quem é “dono do
negócio”. Na realidade, queremos líderes em todos os lugares. Em todos
os cargos. Em todas as funções.
Mas queremos ver todos esses líderes atuando
em quê? Não seria natural vê-los atuando em tudo o que é preciso
melhorar no nosso país? Atuando no que é efetivamente necessário…?
Todo cidadão bem informado tem uma noção clara dos
problemas crônicos que temos em nosso país (na educação, na saúde, na
segurança), que, por sua vez, estão presentes na raiz de muitas outras
disfunções encontradas nos mais diferentes setores de nossa economia e
de nossa vida em sociedade.
Se sabemos quais são esses problemas críticos, por que
não temos conseguido resolvê-los? Onde estão os líderes capazes de fazer
diferença na sua erradicação? Se eles existem, por que não estariam
atuando no que é efetivamente necessário?
Neste artigo, vamos pensar juntos sobre essas e muitas outras indagações, em busca de insights que nos conduzam a efetivas soluções para as equações que nós, como sociedade, temos a responsabilidade de resolver – até pelo legado que queremos deixar para as futuras gerações.
Vamos iniciar esta reflexão tendo como pano de fundo um grande paradoxo que existe em nosso país: temos
um dos maiores PIB do mundo e, ao mesmo tempo, um Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) em torno da centésima posição dentre
duzentos países.
O que está gerando essa situação paradoxal? Excesso de
líderes preocupados apenas com a maximização do PIB? Escassez de líderes
preparados para atuar nas áreas ligadas ao bem-estar da população, nas
quais há problemas crônicos? Falta de sensibilidade dos nossos líderes
para perceber as necessidades mais profundas do nosso país? Ou o
problema estaria no jeito pouco criativo, superficial e até negligente
de lidarem com as necessidades da sociedade?
Afinal, qual seria a liderança necessária em nosso país
para eliminar as causas-raiz desse e de outros paradoxos com os quais
temos convivido há tanto tempo? E a que liderança estamos nos referindo?
E que necessidades precisaríamos atender com excelência para conseguir
uma evolução mais equilibrada do país?
Comecemos identificando as nossas necessidades mais evidentes (percebidas, grosso modo, pela maioria da população) e os aspectos mais sutis em torno delas; as nossas necessidades menos evidentes, das quais nem mesmo as pessoas nos principais postos de liderança e poder em nosso país parecem ter consciência; e as nossas pseudonecessidades que, pela sua alta demanda (mesmo que artificialmente gerada), acabam absorvendo muitos recursos e muita energia de nossos protagonistas e líderes.
“Vimos trabalhando tão somente o aparente,
as necessidades mais óbvias. Temos dificuldades em perceber as
necessidades mais sutis, em função de barreiras culturais”
1) SOBRE AS NECESSIDADES MAIS EVIDENTES
São as necessidades que estão na consciência de todos.
Falamos muito sobre elas. Formalmente, em reuniões. Informalmente, entre
colegas, amigos, familiares. Mas sempre superficialmente, sem nos
aprofundar. Raramente chegamos aos seus aspectos mais sutis, menos
óbvios. Nesta parte do artigo, a proposta é refletir sobre elas,
levando em conta esses aspectos, que podem estar passando despercebidos
pela maioria, inclusive, dos nossos líderes.
Necessidade de ética e confiança
“Sem ética não é possível otimizar a economia.” Essa
frase sintetiza muito bem a entrevista que fiz com Jeffrey Sachs, na
época professor de economia na escola de governo de Harvard e hoje
diretor do The Earth Institute da Columbia University, à frente do
Projeto Hunger, em prol da erradicação da fome no mundo.
Racionalmente, sabemos que a frase de Sachs faz sentido.
Mas, no Brasil e em outros países, vemos economias operando muito abaixo
do possível, exatamente porque estão longe de atuar, no setor público
ou privado, com base na ética e na confiança. Na realidade, acontece o
contrário: atua-se com base na desconfiança. Basta ver o “custo
controle” no nosso país ou o custo que os controles representam em nossa
própria organização.
Compreendemos a ideia implícita na frase de Sachs porque
ela ressoa em nós. Imaginamos como seria o nosso país se não houvesse
corrupção e todos fossem éticos, todos confiassem em todos (inclusive em
nossas instituições), ninguém tirasse vantagem de ninguém e buscássemos
acordos em que as partes ganham e a sociedade também. Ou seja,
buscássemos atuar em nosso dia a dia visando melhorar o todo, o
bem-estar de todos, da forma mais inclusiva possível.
Gosto da definição de ética que vem da filosofia: “a escolha pelo bem comum”. A definição é simples, mas não deixa dúvida. Se a decisão, negociação, solução não for em prol do bem comum, não é ética.
No debate sobre ética, a própria definição de bem comum é
controversa. “Bem comum” na opinião de quem? Até que ponto essa
definição é, hoje em dia, algo cultural e não universal? Durante a Eco
92, no Rio de Janeiro, iniciou-se um primeiro diálogo em torno desse
tema: na opinião dos povos da Terra, qual seria a visão de bem comum?
Com base nessa consulta, surgiu a Carta da Terra (Earth Charter), que
trata do tema da forma mais inclusiva possível, levando em conta não só
os seres humanos, mas todos os seres vivos e a vida em seu sentido mais
amplo. Por isso, a Carta da Terra parece hoje o melhor referencial para
uma evolução equilibrada do planeta e para a tomada de decisões de forma
ética – no governo, nas empresas, nas instituições da sociedade civil,
no cotidiano de cada cidadão. Trata-se de uma definição de bem comum que
transcende a visão parcial, cultural, doutrinária. Nasceu para ser
universal, com a participação dos cidadãos, dos povos da Terra – e não
dos governos. Daí a sua legitimidade e universalidade.
Pontos para reflexão: Se a ética é a escolha pelo bem comum, o que seria não ético em nosso dia a dia? Seria ético nãoagir
em prol do bem comum, por causa das dificuldades e incertezas? Omitir
propostas, ideias e ações pelo bem comum para não contrariar a maioria?
Permanecer no conforto do viável em vez de tentar viabilizar o
aparentemente impossível? Conformar-se com a letra da lei em vez de
lutar pelo espírito da lei? Não colocar uma ideia em prática pelo risco
de não ser reconhecido como autor? “Entrar no jogo”, fingindo não
perceber as manipulações em processo? Deixar tudo como está porque o
caminho para o bem comum é complexo e difícil de implementar? Ficar em
silêncio e deixar o medo prevalecer? A omissão da “maioria silenciosa”
não seria algo claramente não ético?
Não estaria nesses aspectos menos óbvios a raiz da
resiliência das mais variadas formas de corrupção em nosso país e também
o caminho para a sua erradicação? Na medida em que a corrupção seja
erradicada e restauremos a ética em todos os setores, não estaríamos
resolvendo, pela raiz, os problemas de desigualdade que caracterizam
nosso país, inclusive a fome, a pobreza, as condições não dignas de
moradia, o acesso deficiente a serviços básicos e a falta de
oportunidade para a evolução pessoal e a melhoria da qualidade de vida?
Necessidade de educação de qualidade para todos
Nesta área prioritária, o nível de aspiração tem sido
muito baixo. Precisamos aspirar à formação de cidadãos conscientes de
seus direitos e responsabilidades, dotados de pensamento crítico e
refratários a todo tipo de manipulação. Seres humanos plenos, com
integridade e caráter, que valorizam a vida e respeitam seus
semelhantes. Precisamos de uma educação baseada em valores e na ética,
que promova uma cultura de paz e não violência. Que capacite cada
cidadão a zelar pelo seu equilíbrio corpo-mente-espírito e o torne capaz
de criar, com empreendedorismo, trabalhos significativos para si e para
outros, contribuindo no dia a dia para a evolução do todo.
Pontos de reflexão: A educação não seria
responsabilidade da sociedade como um todo? Não está claro que somente
será possível atender a essa necessidade básica se todos os líderes, de
todos os setores da sociedade, assumirem – em conjunto – a
responsabilidade pela educação de todos, inclusive a das futuras
gerações? Não deveríamos também criar um contexto apropriado para que
cada cidadão participe ativamente do seu autodesenvolvimento, buscando
evoluir o tempo todo? Não deveria a solidariedade e a ajuda mútua
estarem no núcleo do processo de resgate da educação em nosso país? Um
princípio simples – “Quem sabe, ensina” – aplicado por todos (de
crianças a aposentados) não teria força para mudar rapidamente a
situação da educação no país?
Necessidade de saúde e bem-estar
Como na educação, neste setor o nível de aspiração é
também baixo, o que leva a resultados igualmente insatisfatórios,
atrelados à eterna luta por mais recursos, médicos, remédios, hospitais,
postos de saúde. Mas a necessidade de saúde e bem-estar exige muito
mais do que a simples assistência aos doentes. O verdadeiro objetivo não
seria erradicar a doença da nossa sociedade? A solução mais inteligente
não seria assegurar uma população mais preparada para prevenir doenças,
por meio de uma alimentação natural e balanceada, hábitos saudáveis,
práticas de higiene essenciais? Só a decisão de evitar o que é
prejudicial e buscar abordagens preventivas (como, em certas regiões,
ferver a água que se bebe), já poderia provocar um salto nos índices de
saúde no país.
Pontos para reflexão: Uma reinvenção como essa
não seria possível apenas com a participação consciente, num verdadeiro
mutirão, de líderes do governo, do meio empresarial e da própria
sociedade civil? Até que ponto a situação ideal na saúde só será
alcançada se a população participar ativamente, evitando hábitos que
geram doenças? Os líderes de todos os setores não teriam que rever suas
atitudes, valores, crenças, teorias e o próprio propósito das suas
organizações para se libertarem das armadilhas representadas por
situações de conflitos de interesses, responsáveis por levar suas
empresas a se oporem deliberadamente a soluções
integrativas/preventivas, em prol do bem comum, no setor da saúde?
“Nossos problemas estão sistemicamente interconectados. E
estamos estruturados – na sociedade como um todo – para resolvê-los de
forma fragmentada. Daí, a cronicidade de nossos males…”
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Necessidade de paz e não violência
Na área da segurança, parece que o objetivo é controlar
os índices de criminalidade. É muito pouco. Nosso maior desafio está
relacionado à educação (valores, ética, respeito a todas as formas de
vida), à formação de uma cultura de paz, de não violência. À capacitação
de pessoas para resolução de conflitos de forma respeitosa, pacífica,
construtiva, em prol de todos os seres vivos. Isso envolveria um
megaprocesso de mudança cultural. Ou seja, a transformação de uma
cultura de violência (englobando desde o nosso próprio vocabulário até a
forma como lidamos com conflitos no ambiente profissional e doméstico)
em uma cultura de paz e harmonia. Em que, mesmo quando somos agredidos
ou prejudicados, “não devolvemos na mesma moeda”, mas propomos
conciliação. Por outro lado, a necessidade de não violência está
associada, de forma sistêmica, a outros fatores: falta de justiça
social/econômica, excesso de competição, individualismo, fragmentação,
que acabam gerando diferentes tipos de “guerra”. Em suma, só chegaremos a
atender à necessidade de “segurança” se atuarmos criativamente sobre o
que está na raiz da cultura de violência prevalecente em nosso país.
Pontos para reflexão: Até que ponto nossos
líderes foram preparados para lidar com a mudança cultural, uma
relevante e refinada competência da área de gestão? Os atuais líderes
poderão ser sensibilizados para que eles próprios não sejam um mau
exemplo? Até que ponto deverão mudar sua própria cultura, seu “modelo
mental”, para não alimentar uma cultura de violência com decisões que
partam de formas superadas de liderança e gestão, baseadas em premissas
mecanicistas de comando e controle, de força hierárquica “de cima para
baixo” e até assédio moral? Líderes hoje bem-sucedidos nesse tipo de
cultura só mudam quando começam a perder talentos, o apoio da sociedade
ou entram em zonas de desastre? Ou é possível fazê-los despertar e
evoluir na direção de uma cultura de paz, com movimentos voltados para a
transformação cultural que os envolvam como pais, familiares e cidadãos
responsáveis?
Necessidade de trabalhos significativos
O conceito de “emprego e renda” precisa ser reformulado.
O que as pessoas realmente precisam é de um trabalho digno,
significativo, no qual possam expressar sua criatividade e, ao mesmo
tempo, contribuir para o bem comum. Poucas organizações buscam formas
inovadoras de tornar o trabalho mais enriquecedor, estimulante, menos
mecânico e massacrante (longas horas, sob pressão, no encalço de metas
que crescem a dois dígitos a cada ano). Por outro lado, à medida que a
educação evoluir e se aproximar do ideal, maior será a demanda por
melhores ambientes de trabalho (que sejam verdadeiras comunidades), por
relações de excepcional qualidade e trabalhos mais significativos.
Empresas que trabalham com produtos supérfluos tenderão a ter mais
dificuldade para contratar bons funcionários, pois os profissionais mais
conscientes darão preferência às que ofereçam contratos de mais
qualidade e maior potencial de contribuição para o todo maior.
(Organizações que oferecem produtos e serviços úteis à população, é bom
frisar, não são garantia de trabalhos significativos. O modo como essas organizações atuam, no mercado e internamente, é que define a qualidade dos trabalhos que oferecem.)
Pontos para reflexão: Quem são e onde estão os
líderes capazes de fazer a transição de “emprego e renda” para trabalhos
significativos, com a participação dos próprios trabalhadores no design de
suas funções (composição mais equilibrada e gratificante de tarefas,
enriquecida com o tempo)? Até que ponto a evolução no campo da educação,
da saúde e da segurança gerará naturalmente trabalhos mais
significativos? E os próprios profissionais, com uma formação melhor e
mais conscientes, não tenderão a formar sofisticadas redes de
profissionais que atuem em conjunto com outras redes de forma
colaborativa? Serão elas as organizações do futuro? Ou isso já está
acontecendo dentro da grande rede da internet? Nesse sentido, esse
processo mais natural, orgânico, biológico de criação de trabalhos
significativos não gerará um contexto sustentável de “pleno emprego”
(pelo ritmo com que as necessidades emergentes forem biologicamente
atendidas, num processo de auto-organização), longe das limitações
artificiais top-down fomentadas pelo governo e grandes organizações privadas, a partir de modelos mentais “mecanicistas” do passado?
Necessidade de crescimento
Como diz o ambientalista Lester Brown, parece que em
todo lugar estamos em busca de “crescimento ilimitado num mundo finito”.
Basta olhar a obsessão da maior parte das empresas por crescimento de
dois dígitos a cada ano. Bônus condicionados a metas de crescimento.
Alta pressão sobre todo o quadro de colaboradores. E temos o desplante
de chamar essa prática de “gestão profissional”. O mesmo acontece em
nossas instituições governamentais. Sonhamos com o crescimento de nosso
PIB no padrão chinês. Ficamos orgulhosos ao ouvir sobre o crescimento do
PIB dos países que compõem o chamado BRICS. Sim, melhoramos o padrão de
consumo da população do país. E isso é bom, mas só para fazer o PIB
crescer. Não necessariamente para melhorar os índices do bem-estar e
felicidade da população. Nossos índices de IDH são muito baixos.
Definitivamente não somos o sétimo melhor do mundo em educação, saúde,
segurança… Não é por acaso que não conseguimos uma evolução sustentável.
Falta equilíbrio no nosso “crescimento”. Buscamos o que o mundo todo
busca, sem refletir se essa obsessão por crescimento na verdade não
seria um “câncer”, capaz de fazer todo o conjunto entrar em colapso. Os
sinais já estão à nossa volta: crises sucessivas de todo tipo –
econômicas, ambientais, políticas, sociais –, ainda vistas como
“episódicas”, quando há muitas evidências de que são parte de uma crise
maior, sistêmica e suscetível a muitos outros desdobramentos.
Pontos para reflexão: Existirá crescimento
sadio e crescimento doentio? Será que o crescimento não virá a ser
benéfico somente quando gerado por uma “estratégia integrada de país”,
bem formulada e sistemicamente interconectada, capaz de assegurar uma
evolução equilibrada do todo? Essa estratégia não teria que estar
vinculada a vocações nucleares do país (baseadas nas características da
população, de seus ativos ecológicos etc.)? Qual a contribuição única
que nosso país pode oferecer à evolução da sociedade global? Qual o
propósito maior de nosso país? De que forma os líderes dos diferentes
setores poderiam dialogar sobre propósito e estratégia integrada de
país, de maneira ética, desvinculada de interesses particulares e com
foco no bem comum? Até que ponto a “estratégia de país” só fará sentido
se for produto de um diálogo amplo, inclusivo, genuinamente democrático e
não hierarquicamente imposto? Não é evidente que o crescimento só será
sadio quando orientado por uma visão de futuro que sirva como guia para
uma evolução orgânica, biológica, auto-organizada, com a participação de
todos? O crescimento errático de nosso país não teria como causa-raiz
exatamente a ausência de visão e estratégias integradas?
“No fundo, todos nós queremos fazer diferença, ajudando a
melhorar nosso entorno, em prol do bem comum. Queremos participar,
contribuir, ajudar. Sentir que somos membros úteis da comunidade”.
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2) SOBRE AS NECESSIDADES MAIS SUTIS
Além das necessidades mais evidentes, sobre as quais
conversamos com frequência (embora superficialmente e sem pensar em como
contribuir para atendê-las), existem outras mais sutis, cuja relevância
nós apenas intuímos. E por serem tão sutis, não são temas de
debate em reuniões formais, seja nas empresas, no governo ou no próprio
Congresso. Em suma, não alocamos energia e recursos para lidar com essas
necessidades mais subjetivas. Praticamente não existem líderes
dedicados a atendê-las. Eis a seguir alguns exemplos dessas necessidades
que, se atendidas, assegurarão um índice de bem-estar maior da
sociedade e uma evolução mais consistente do todo.
Necessidade de participação
É a necessidade que as pessoas têm de contribuir com a
evolução de seu entorno, de se reunir “em mutirão”, construindo algo
maior e fazendo diferença. De participar da definição das “regras do
jogo”, das próprias leis que regem as relações entre as pessoas – e não
só se submeter a elas. De ajudar a aprimorar as leis que definem o que é
justo. De aperfeiçoar a aplicação dessas leis pelo espírito que motivou
a sua criação e não pela interpretação de sua letra, transcendendo as
armadilhas criadas pela burocracia dos processos. De participar de igual
para igual na busca da eliminação das desigualdades sociais. Podemos
nos aproximar cada vez mais de uma democracia direta (em vez de
representativa), nestes tempos em que a internet permite um nível de
participação jamais imaginado? Essa participação direta não seria não
apenas desejável, mas cada vez mais necessária (um exercício direto de
cidadania, não mais pelo voto – algo hoje superado e reducionista)?
Necessidade de interconexão e senso de comunidade
É a necessidade que as pessoas têm de afeto, amor,
amizade e relacionamentos positivos. Até que ponto o isolamento e a
solidão afetam a nossa saúde? Não seria fundamental, para aumentar o
bem-estar do indivíduo e o nível de felicidade do país, resgatarmos o
senso de comunidade, cada vez mais ausente à medida que as cidades
crescem? Não seria também fundamental ver a Natureza como a essência da
comunidade? De ver o próprio ser humano como parte da Natureza? Como
valorizar e preservar o que ainda existe nas cidades menores e
comunidades de periferia? De que forma o resgate do senso de comunidade
levaria ao resgate do espírito democrático e do conceito de “sociedade
que toma conta de si mesma”, com efeitos extraordinários na educação das
crianças (educadas pela comunidade), na saúde da população (um cuidando
do outro) e no desenvolvimento de uma cultura de paz (cooperação plena,
ajuda mútua, solidariedade)?
Necessidade de evolução do nível de consciência
É a necessidade que as pessoas têm de buscar sabedoria e
a compreensão da vida em seu sentido mais amplo e profundo. À medida
que elas passam a entender a sociedade, e como funcionam os “jogos” da
economia, dos negócios, da política, elas passam a querer entender
também a si mesmas e o próprio Jogo da Vida. Com essa compreensão mais
ampla, começam a dar mais sentido a tudo que vivem, seja no trabalho ou
na vida pessoal. Assim, passam naturalmente a ter condições de se tornar
líderes e a colaborar com a sociedade. Para que essa elevação da
consciência seja possível é preciso assegurar a todos uma educação
voltada para uma compreensão refinada de como o ser humano pode atingir
sua plenitude física, mental, emocional e espiritual, vivendo o dia a
dia de forma construtiva e ética, sempre a serviço do bem-estar do todo
maior. Uma educação fora do meramente lógico e racional, que somente as
humanidades e as artes têm condições de viabilizar?
Necessidade de realização da essência
É a necessidade que todo ser humano tem de realização espiritual, que transcende as necessidades do ego por status,
poder, glória, recompensas, reconhecimento. Um anseio da nossa essência
em fazer o bem pelo bem, cultivar os verdadeiros valores da vida,
relacionar-se com generosidade, solidariedade, compaixão. Essa
necessidade está presente dentro de cada ser humano, mas é encoberta
pela miríade de necessidades mais imediatas, muitas delas
artificialmente criadas pelo modo de vida que cultivamos até de forma
inconsciente. E é também encoberta por um processo de fragmentação da
vida: o trabalho desconectado da vida pessoal, da vida em comunidade, da
religião ou dos processos de autoconhecimento e evolução espiritual; a
razão desconectada das emoções e da intuição; a ciência, que busca
explicar, contraposta às reflexões filosóficas, que buscam compreender.
Esta é uma necessidade que pode ficar encoberta durante a vida toda e só
ficar evidente no final da vida, quando tudo que nosso ego pode ter
almejado se torna pequeno e irrelevante.
Necessidade de deixar um legado
É a necessidade que todo ser humano tem de deixar um
legado, mesmo que pequeno e simbólico, para os filhos, mas, de forma
mais ampla, também para as futuras gerações. Trata-se de um tipo de
“responsabilidade intergerações” inerente a todo ser humano. Muitas
vezes esse legado é material (doações de fundos para instituições da
sociedade civil; apoio a museus, escolas, universidades etc.), mas o
mais significativo é o que contribui para a evolução da humanidade
(descobertas científicas, invenções, cura de doenças), possibilita
melhores condições de vida (liberdade para todos, eliminação de
desigualdades) ou torna mais digna a vida das pessoas e de todos os
seres vivos (a mudança cultural que a ecologia profunda está gerando).
Esse também seria o caso de líderes de comunidade que engendram um plano
de evolução de longo prazo construído coletivamente. Do líder que
enfrenta a corrupção e a erradica da comunidade. Da mãe que deixa aos
filhos seu exemplo de vida, como pessoa íntegra, honesta e ética.
Legados que dinheiro algum é capaz de comprar.
Pontos para reflexão: Até que ponto estamos abafando essas necessidades mais sutis de nossa essência com a busca de poder, status e bens materiais, incentivada por diferentes formas de pressão social? A obsessão pelo consumo não acaba por afetar nosso bem-estar e felicidade? Essa necessidade de consumir não nos leva a buscar ganhos cada vez maiores e excessos de toda sorte, causadores de estresse, ansiedade, depressão e uma sensação de vazio e falta de significado? Não seria exatamente a satisfação das necessidades não materiais e mais sutis, aqui mencionadas, que daria significado a tudo o que fazemos e proporcionaria à nossa vida um eixo, capaz de nortear nossa evolução rumo ao que é mais essencial e verdadeiro? Até que ponto será fundamental para nossa evolução como país mudarmos radicalmente os referenciais que definem o “sucesso” na nossa cultura? A substituição de medidas quantitativas (o PIB) por medidas qualitativas, ligadas às necessidades discutidas neste artigo, não seria um caminho? Não faria mais sentido se a sociedade, e cada um de nós, buscasse o bem-estar de todos os seres vivos de forma sustentável? À medida que nossos referenciais mudarem – do quantitativo para o qualitativo –, ficará evidente que esse novo conceito de sucesso terá que alcançar a todos, simplesmente porque felicidade não é algo que se possa acumular, entesourar, empilhar. Ela se amplia à medida que é distribuída.
Até que ponto não teremos que buscar essa mudança em
nossos próprios referenciais para atender às necessidades mais profundas
de nosso país? Não teremos que deixar de nos pautar só no que é
objetivamente mensurável? Até que ponto esse modelo mental nos faz
ignorar as variáveis mais subjetivas (como bem-estar, integridade,
confiança) ao definir nossos objetivos? Nos faz esperar a aprovação do
governo, de órgãos reguladores etc. para usar esse referencial de
bem-estar geral como guia de nossas ações? Os líderes de todos os
setores não podem começar a usar referenciais qualitativos para nortear
suas ações? Desse modo não iriam se tornar naturalmente mais
compassivos, humanos, empáticos, eficientes, também porque, eles
próprios, estariam mais felizes e centrados?
“Vivemos num tipo de ‘estado de ilusão’ ao
criarmos necessidades artificiais e novos negócios em áreas não
essenciais, quando o todo está em deterioração”.
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3) SOBRE “NECESSIDADES ARTIFICIAIS”
Além das necessidades mais evidentes e de outras
relevantes mas não tão evidentes, existe um tipo de necessidade que, se
não atendida, a sociedade como um todo não piora. Ao contrário, pode até
melhorar. Especialmente se os recursos, talentos e lideranças alocados
para atendê-las forem aplicados massivamente nas necessidades essenciais
da sociedade. São chamadas de “artificiais” porque são produto de
indução ou condicionamento. É o caso do consumo excessivo. Mesmo de bons
produtos. Ou da “necessidade” de consumir bebidas e alimentos sem valor
nutricional e até substâncias nocivas à saúde. Esse é também o caso das
drogas legais e ilegais, dos filmes e games que incitam à violência (inclusive o bullying e assédios de todo tipo) e até da aquisição de armas e a prática da violência extrema.
Há líderes e pessoas extremamente talentosas criando
essas necessidades artificiais ou tirando proveito delas para “gerar
resultados”. E qual o grande motivador para se criarem necessidades
artificiais? Seria a satisfação das necessidades do ego (status,
poder, “sucesso”) e sua capacidade de gerar lucro para o investidor em
busca de retornos cada vez maiores? Não seriam justamente essas
necessidades artificiais a base do processo de criação de “bolhas”, um
eufemismo para o que era chamado de “crime de colarinho branco” em
outras épocas? A última bolha que atingiu a economia dos EUA e, por
tabela o mundo todo, foi a crise financeira de 2008 causada pela prática
de conceder empréstimos imobiliários a pessoas sem comprovação de renda
ou condições de honrá-los. Em outros tempos, chamaríamos isso de
“esquema da pirâmide”, no qual alguém sempre fica com o “mico”. (Nesse
caso, alguns bancos e também governos; na verdade, a grande massa de
contribuintes.)
Pontos para reflexão: Temos excesso de líderes
para o desnecessário? A causa-raiz disso teria a ver com a deterioração
de valores e a busca do melhor só para si, sem preocupação com o bem
comum? Seria porque líderes que se destacam na sociedade atendendo a
necessidades supérfluas ou até oferecendo produtos e serviços
prejudiciais acabam formando, pelo exemplo e pelo que a mídia magnifica,
outros líderes à sua semelhança e reforçando o círculo vicioso em que
estamos presos? Seria porque nossas universidades e programas de
educação executiva ainda continuam a formar líderes alheios à distinção
entre o necessário, o desnecessário e até o prejudicial para a
sociedade? Seria porque líderes conscientes de todos os setores fazem
concessões em relação aos seus valores e cedem ao “rolo compressor” da
pressão por crescimento e resultados? Seria porque, embora conscientes
do que fazem, cedem às pressões porque não querem baixar o nível de
vida que alcançaram? Ou seria simplesmente porque estão presos à
obsessão por resultados máximos, mesmo em detrimento do conjunto de stakeholders (inclusive
a sociedade, a Natureza), aos quais teriam necessariamente que atender,
sempre com ética e equilíbrio? A solução aqui não estaria na área de
educação (formação de cidadãos conscientes)? Movimentos que visem
resgatar valores essenciais e um modo de vida mais simples não poderiam
fazer com que mais líderes se voltassem para atendimento do
efetivamente necessário?
“Só conseguiremos enxergar o todo e os
caminhos concretos para uma verdadeira evolução, pela elevação de
consciência de todos. O desafio maior está em evolução cultural. Só
informação e conhecimento não bastam”
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A LIDERANÇA PARA O QUE É EFETIVAMENTE NECESSÁRIO
Onde estão os líderes, de todos os segmentos da
sociedade, dispostos a contribuir para a construção coletiva da visão de
futuro do país e das suas estratégias macro? De que forma podemos
assegurar que os líderes não visem apenas aos seus interesses pessoais
ou setoriais, mas contribuam ativamente para a evolução do país? Como
assegurar que as instituições (os três poderes, os sindicatos, as
federações, as confederações, as ONGs e a própria sociedade civil),
embora estejam no centro do processo, não sejam os únicos protagonistas?
Como garantir a participação ampla da população em debates públicos,
por meio da tecnologia de século 21 e das redes sociais? Até que ponto
os líderes dos diferentes setores da sociedade deveriam debater o tópico
“estratégia integrada de país” sempre que elaboram seus planos
estratégicos de curto e longo prazos – o que levaria a questionamentos
para além do escopo da organização e catalisaria diálogos amplos, que
acabariam por envolver toda a sociedade e até o próprio governo? Onde
estão os “líderes estadistas”, em todos os setores da sociedade, que não
só catalisariam esses diálogos, mas também assegurariam que os
interesses do país e do todo maior estivessem sempre em primeiro lugar?
Se levarmos em conta as deficiências que ainda temos em
nosso sistema educacional, poderíamos concluir que não estamos formando
líderes com qualidade e em quantidade suficiente em nosso país. Mas não é
pela educação formal que formaremos os líderes necessários. Talvez a
educação formal hoje em dia acabe até “deformando” líderes natos,
tirando sua espontaneidade e, principalmente, sua criatividade. Acabam
ficando mais cautelosos e dependentes da aprovação externa, das
“receitas prontas”, dos sistemas mais usados e dos “padrões” – até
quanto ao próprio jeito de ser. Alguns acabam se tornando apenas
“aplicadores de melhores práticas” e perdem a ousadia de buscar o novo,
testar limites, arriscar o inédito. Os líderes que se formam na escola
da vida assumem o risco de “descobrir as coisas por si” e evoluem de
forma muitas vezes caótica, desestruturada, mas também menos engessada
e, portanto, mais livre e inovadora.
Não. Não temos falta de líderes. Mas onde eles estão? Não estariam a serviço de interesses particulares ou de “causas” que até vão contra o bem comum? Mas assim como a tecnologia é neutra (pode ser usada para o bem da sociedade ou para guerras e causas não éticas), a liderança, como talento humano, também não seria? Ela pode ser colocada a serviço do bem comum ou usada para fins egoístas. Líderes talentosos podem até se transformar em “robôs-mercenários”, colocando suas competências à disposição de quem pague mais. Mas mesmo o mais frio mercenário tem suas crises de consciência e condições de mudar tudo em sua vida, se assim decidir.
No fundo, liderança é decisão. Você decide liderar um
projeto… um movimento… uma causa… uma transformação cultural no país…
Decide se engajar no processo de erradicar a corrupção que flagela o
setor em que atua… Decide liderar uma mudança radical no modo como
vive… Liderança é um ato de vontade. Não é algo que se ensine nem algo
que se aprenda. Não é algo que se adquira. É algo que já está dentro de
todos nós. Só precisa ser despertado. Libertado. Livre dos medos e dos
condicionamentos do “modelo mental” aos quais fomos aprisionados, temos
condições de liderar o que quisermos…
Somos todos potencialmente líderes. Do office-boy ao
presidente, do adolescente ao veterano, do voluntário ao profissional. O
mais importante é tomar a decisão de usar esse potencial de liderança. E
tomada essa decisão, saber onde usar essa força de mobilização. Para
qual propósito? E para quem? Apenas em benefício próprio ou para ajudar a
construir um mundo melhor para todos?
A SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS CRÔNICOS DO NOSSO PAÍS
Como vimos, as necessidades que temos em nossa sociedade
só serão atendidas em toda a sua extensão – gerando a evolução com a
qual sempre sonhamos – quando todos nós, líderes em posição de poder e
líderes em potencial, tomemos a decisão de participar ativamente do
processo de solução dos problemas crônicos do nosso país. E fazendo isso
sempre de forma integrada, não fragmentária ou isolada. Os problemas
mais críticos e de difícil solução da nossa sociedade estão
sistemicamente interconectados. É por isso que a tentativa de
solucioná-los por meio de medidas isoladas não tem funcionado e só tem
agravado sua cronicidade. Temos, isto sim, que buscar soluções
sistêmicas. Em nosso dia a dia, em nossas áreas de atuação, em nossas
comunidades. Mas sempre em conjunto com outros, nunca isoladamente.
Sempre atendendo às necessidades reais, não às artificialmente criadas.
Se já estivermos atuando em uma área carente de boas
soluções (como na educação, saúde, segurança), a proposta é que tomemos a
iniciativa de fazer o que é efetivamente necessário, até mesmo
reestruturando a própria rotina profissional para se concentrar no que
efetivamente contribui para a evolução dos resultados-fins. Se
estivermos trabalhando em outras áreas, a proposta é que pensemos como
cidadãos engajados e façamos o possível (e até o “impossível”, usando
nossa capacidade de criar inovações radicais) para ajudar a erradicar os
problemas crônicos do país.
Se estivermos trabalhando em áreas que direta ou
indiretamente estão retardando a solução dos problemas crônicos da
sociedade, com nosso poder de liderança podemos promover a “cura” dessas
áreas e fazer com que deixem de interferir negativamente e até passem a
contribuir.
Em todos os casos, sempre temos a escolha de promover
mudanças e, no processo, mudar a nós próprios. E, assim, evoluir sempre,
como profissionais e como seres humanos.
“Não seria o debate público amplo e
profundo – que a tecnologia de hoje pode viabilizar – o caminho para
elevação do nível de consciência de todos? Não estaria aí também o
resgate do espírito da verdadeira democracia?
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REFLEXÕES FINAIS
Neste artigo, procuramos imaginar uma sociedade na qual
todos se sintam líderes. Principalmente líderes de si mesmos. Uma
autêntica democracia, em que todos participem da evolução do todo, como
cidadãos plenos, com direitos e responsabilidades. Em última instância,
participantes ativos de um corpo de liderança que faz esse todo evoluir
no ritmo e com a qualidade que esse riquíssimo conjunto requer e merece.
Um espírito de corpo que alcance a todos e exprima um conceito
que, em nossa cultura hierarquizada e separatista, parece um estranho
paradoxo: “liderança coletiva”.
Embora incomum, essa ideia de liderança coletiva não
estaria mais em sintonia com o verdadeiro conceito de democracia? Até
que ponto as distorções inerentes a sistemas de “democracia
representativa” mal concebidos e repleto de vulnerabilidades têm nos
levado a falsas representações? (Elegemos representantes influenciados
pelo marketingpolítico e só passamos a conhecê-los efetivamente e saber se mereciam o nosso voto depois que estão em exercício.)
Nesta reflexão, imaginamos uma democracia participativa
como um caminho para a efetiva solução dos problemas crônicos da nossa
sociedade. E também para uma sociedade sem tantas desigualdades, com
níveis ideais de bem-estar de toda a população e sem nenhum tipo de
exclusão. Um caminho capaz de “viabilizar o impossível”, mas que exige
muito de cada um de nós: o exercício da cidadania plena, níveis elevados
de participação e comprometimento, valores nobres.
Uma visão utópica? Sim. É a busca do melhor para todos.
Um referencial que nos faça avançar rumo ao bem comum. Que dê um centro a
tudo o que fazemos. Mas é também uma visão que implica um “modo de ser”
baseado na consciência de que somos um grande organismo vivo,
totalmente integrado e interdependente.
Para estarmos todos nesse nível de consciência, cada um
de nós, componentes desse grande organismo vivo, precisa ajudar a
redesenhar o contexto maior no qual se formam as premissas que definem o
nosso modo de ser como cidadãos. Nosso grande desafio parece estar na
evolução de nossa cultura, desse nosso modo de ser coletivo. E pelo que
procuramos mostrar de várias formas nesta reflexão, há muitos caminhos
para viabilizar essa necessária transformação cultural. Mas todos eles
passam pela nossa decisão pessoal de liderar.
Este artigo, um ensaio a ser aperfeiçoado de forma
contínua com a ajuda de todos, visa estimular os leitores-líderes a
refletir com profundidade a respeito da liderança que necessitamos em
nosso país, a imaginar novas formas de dar significado à vida e a
caminhar na direção do futuro como um protagonista que faz diferença a
cada dia. Ele não foi escrito para ser consumido numa leitura rápida e
superficial. Foi concebido para ser lido muitas vezes e para gerar, a
cada leitura, novos insights. Catalisando, desse modo, diálogos
robustos dentro da organização, da comunidade, da família. Diálogos
sobre engajamento. Sobre como participar construtivamente do mundo em
que vivemos.
E assim liderar.
Pelo todo. E para o todo.
Sempre.
UM QUADRO QUE TEMOS CONDIÇÕES DE MUDAR?
Embora o Brasil figure entre os dez países com o maior
PIB do mundo, estamos na 85ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH). Quando se introduz no IDH o tópico “desigualdade”, nosso país
cai para o 97º lugar. Estamos entre os dez países do mundo onde há mais
desigualdade.
No campo da ética e da confiança, estamos na 69ª posição
(grau de percepção de corrupção da ONG Transparência Internacional).
EUA, Japão, Chile, Uruguai e China estão próximos ao 20º lugar. Nova
Zelândia, Dinamarca e Finlândia estão sempre nas primeiras posições.
Em educação, o Brasil ficou entre os últimos colocados,
no mais recente PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos da
OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico): 53º
lugar num ranking de 65 países. Outros estudos mostram que apenas um
terço dos brasileiros com idade acima de 15 anos domina a leitura e a
matemática. Cerca de 30% dos brasileiros são analfabetos funcionais.
Na área da saúde, dados das Nações Unidas atribuem ao
Brasil um índice HALE (expectativa de vida saudável) de 64 anos, o que
nos coloca na 70ª posição dentre quase duzentos países. Num estudo da
Organização Mundial da Saúde, baseado em um índice composto (que inclui
distribuição da saúde, capacidade de resposta do sistema, justiça em
financiamento e proteção a riscos), o Brasil está na 125ª posição.
Em segurança, os números mostram que a taxa de
homicídios cresceu 123% nos últimos trinta anos. A taxa de mortos por
armas de fogo já chegou a 20,4 a cada 100 mil habitantes. É a maior
entre os países mais populosos do mundo. O México, onde o governo trava
uma verdadeira guerra contra o narcotráfico, vem em seguida com 16,2.
Nos EUA, a taxa é de 3,9. Na China, de 0,7. E no Japão, de 0,01.
É possível ver, por números como esses, que
ainda estamos longe do ideal. Mas será que temos condições de reverter
esse quadro, mesmo com todas as dificuldades e barreiras que hoje
impedem uma mudança significativa desses índices para melhor? Esta
reflexão sobre a liderança necessária pretende mostrar que a resposta é
“sim”. A chave para transformar esse quadro em pouco tempo é a
participação efetiva dos líderes de todos os segmentos do nosso país.
Com a liderança coletiva, a equação deixa de ser algo impossível…
Que tal começarmos agora a colocar em
prática essa liderança coletiva? Qual seria o primeiro passo?
Compartilhar este artigo e iniciar um diálogo com as pessoas de seu
círculo? Iniciar imediatamente, em seu ambiente de trabalho, algo
diferente que contribua com soluções para as necessidades não atendidas
do nosso país? Transcender seu campo de trabalho e ampliar seu quadro de
referências para visualizar novas formas de contribuir para a evolução
sistêmica do todo? Ou simplesmente ficar atento às oportunidades que
surgem naturalmente no nosso dia a dia para contribuirmos com o bem
comum?
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* OSCAR MOTOMURA é o fundador e principal executivo da
Amana-Key, uma das organizações mais especializadas do mundo na área de
gestão, estratégia e liderança de organizações complexas do setor
empresarial e governamental, e da sociedade civil.
Executivo multidisciplinar, com uma experiência de mais
de trinta anos na liderança de projetos de alta complexidade, Motomura é
considerado um dos mais criativos especialistas em estratégia do país. A
expressão “equações impossíveis”, cunhada por ele, resume muito bem o
foco de seu trabalho: situações altamente desafiadoras e aparentemente
sem solução. Segundo costuma dizer, “quanto mais difícil uma equação
mais atraente ela é, porque exige ‘criatividade radical’, a descoberta
de caminhos inéditos e soluções jamais testadas antes”.
Na visão de Motomura, o “impossível” deve ser encarado
como algo ainda não viabilizado devido a limitações e barreiras reais
(de difícil superação) ou culturais/imaginárias (“fabricadas” pelo
mental das pessoas). Em sua definição, o papel essencial da estratégia é
viabilizar o impossível (visto que viabilizar “o que já é viável” não
requer criatividade nem competência…).
Motomura vem trabalhando em consultoria a grandes
empresas nacionais e multinacionais e também a organizações
governamentais, especialmente em projetos de reinvenção estratégica e
preparação para o futuro, incluindo evolução cultural, integração de
culturas, revisão da própria identidade da organização e preparação do
time de alta administração para os desafios internos e externos à
frente.
É conhecido pelo seu carisma e estilo único na condução
de eventos educacionais de grande porte e na mediação de debates abertos
sobre temas complexos e polêmicos. Sua formação multidisciplinar,
criatividade e visão sistêmica têm sido fundamentais para a facilitação
de diálogos, mesmo os mais robustos, com líderes dos mais diferentes
setores.
Além de CEO da Amana-Key, Motomura é um cidadão ativo do
país e do mundo, criador de várias iniciativas ao longo das últimas
décadas, como os projetos/movimentos “Estratégia de País”, “Eleitores
Conscientes”, “Projeto Jovens”, “PGE – Programa de Gestão Empreendedora”
(para jovens universitários) e outros na área de responsabilidade
social e sustentabilidade.
Como principal acionista da Amana-Key, vem fazendo com
que todos os resultados gerados pela Amana-Key sejam reinvestidos na
evolução da própria organização e aplicados em projetos ligados à
evolução do todo maior (na área da ética e da busca do bem-estar para
todos).
Motomura é também Co-Chairman do Conselho Internacional da Carta da Terra e da Iniciativa Carta da Terra em Ação.
Fonte: http://www.mercadoetico.com.br/arquivo/semana-oscar-motomura-a-lideranca-necessaria/
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