Eu vou embora daqui a pouco.
Parto de repente, melhor assim.
Não vejo razão de ficar.
Não adiantam explicações.
Nunca alguém há de ter uma clara idéia sobre mim.
Os amigos querem saber de tudo.
Qual a razão de eu ir embora assim de repente.
Como ficam meus familiares, meu trabalho.
Não me perguntem.
Desmancho-me em evasivas.
Preciso descansar, tirar férias, desaparecer.
Preciso dar tempo ao tempo. Adeus.
Vou embora sem pendências.
Falta pouco, restam pingadas horas.
Arrumei as malas.
Comprei passagem de ida.
Não tenho retorno.
Mas eu preciso me despedir.
Escute-me, por favor.
Tenho pouco a lhe dizer, poucas palavras.
Hão de ser minhas últimas palavras, últimas expressões.
Desde que comecei a amar você, andei me perdendo.
Delirei, quase enlouqueci.
Perdi o domínio sobre meus atos, minha vida.
Sei que errei.
Desviei-me dos meus velhos padrões.
Nunca alguém se perdeu assim.
No entanto, venha, não tema.
Não hei de fazer mal a você.
Somente quero olhar seu rosto, seus olhos.
Só mais uma vez, venha.
Perdoe-me, mas penso que vou chorar.
Você sabe como sou emotivo.
Eu choro até em cinema, assistindo filmes de despedida.
Você sabe disso.
Por favor, não me rejeite nesse pouco tempo que me resta.
Se não quer me ouvir, deixe-me ver você passar na frente da minha janela, na calçada.
Não hei de dizer nada, prometo, se é assim que você quer.
Perdoe-me, eu já estou chorando.
Adeus.
(Ficção de Dôra Limeira)
------------
* Escritora.
Fonte: https://www.facebook.com/doralims
Imagem da Internet
Boa matéria.
ResponderExcluir