Carlos Alberto Di Franco*
Surpreendente. Assim pode ser definido o resultado das recentes eleições para o Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade de Brasília (UnB). Pela primeira vez desde o fim da ditadura militar, uma chapa apartidária, e não ideológica, assume a representação estudantil naquela instituição.
Tradicionalmente ocupado pela esquerda, a perda do comando do DCE da Universidade de Brasília pode indicar uma mudança mais profunda. Uma nova geração de estudantes, menos comprometida com o radicalismo ideológico e mais focada na excelência acadêmica e profissional, está mostrando a sua cara. Os integrantes da nova diretoria são alunos dos cursos de Direito, Economia, Administração e Engenharia.
A proposta dos estudantes - que mobilizou lideranças, atraiu votos e desembocou na vitória - representa uma ruptura com o velho discurso salvacionista de certos setores da esquerda. Tachados de direitistas e conservadores, estratégia recorrente e ultrapassada de desqualificação dos adversários, os vencedores não responderam com clichês vazios, mas com conceitos e argumentos racionais. Defendem melhorias concretas na estrutura da universidade. Não estão preocupados com a reforma agrária, com o "capitalismo selvagem" ou com a defesa de Fidel Castro e de Hugo Chávez. Defendem um ideário de interesse dos estudantes: incentivo a parcerias com fundações privadas, melhoria na qualidade do ensino, melhor desempenho acadêmico.
Segundo Mateus Lôbo, aluno de Ciência Política e vice-presidente da chapa vencedora, a Aliança pela Liberdade "é um grupo de alunos que acreditam na excelência e no mérito como forma de se fazer revolução". A afirmação, carregada de sadio inconformismo, consta de matéria veiculada pela UnB Agência.
A nova liderança estudantil defende o pluralismo e o debate das ideias. "O pensamento divergente é saudável no ambiente universitário e isso se provou nas urnas. As pessoas querem um discurso diverso, não um local onde se pregue apenas uma corrente de pensamento", sublinhou Lôbo.
"As manifestações de rua, pacíficas e
cada vez mais expressivas, desembocarão
com força irreprimível
nas redes sociais."
A abertura ao diálogo é uma excelente notícia e está intimamente relacionada com o papel da universidade. O discurso único não condiz com o ambiente acadêmico e não contribui para o desenvolvimento de uma democracia sustentada.
Algo novo, e muito promissor, aparece no horizonte da juventude brasileira. Juntamente com essa mudança pontual, porém simbólica, assistimos ao crescente protagonismo dos nossos jovens nas passeatas contra a corrupção.
Convocadas pelas redes sociais, manifestações contra a corrupção têm atraído milhares de pessoas, sobretudo jovens, em várias cidades do País, como Brasília, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. O maior ato foi em Brasília, onde a Marcha Contra a Corrupção reuniu na Esplanada dos Ministérios cerca de 30 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, durante o desfile em comemoração ao Dia da Pátria. Os manifestantes apareceram com faixas, cartazes, vassouras representando a faxina na política, nariz de palhaço e roupa preta.
O movimento cobrou punição dos envolvidos no mensalão. A passeata ocorreu uma semana após o congresso do PT deixar claro que não apoia nenhum tipo de faxina anticorrupção no governo e considerar que esses movimentos eram parte de uma "conspiração midiática" e uma forma de promover a "criminalização generalizada" da base aliada ao Palácio do Planalto. Mas os manifestantes deixaram claro que não admitem a interrupção da faxina em nome da governabilidade. O poderoso PMDB e os outros partidos da base aliada sentiram a mordida da cidadania. O jogo começou e ninguém conseguirá pará-lo no apito ou ganhar no tapetão.
Jovens, muitos jovens, exigiram a aplicação imediata da Lei da Ficha Limpa - que depende de julgamentos no Supremo Tribunal Federal. As faixas tinham frases fortes e bem-humoradas. Havia dizeres como "país rico é país sem corrupção" - referência ao slogan do governo federal "país rico é país sem miséria". O povo, mais perspicaz do que se pensa, sabe que a dinheirama da corrupção está na raiz da pobreza dos brasileiros. Verbas públicas, desviadas da saúde, da educação, da agricultura, engordam as contas dos parasitas da República e emagrecem a vida e a esperança dos brasileiros.
Ao contrário do ceticismo da geração dos mais velhos, que acumula excessivas reservas de decepção, a moçada acredita na possibilidade de mudança. Não admite, com razão, que o País, refém de uma resignação equivocada, veja desaparecer no ralo da corrupção nada menos que R$ 85 bilhões, segundo detalhado levantamento feito pela revista Veja. Trata-se, amigo leitor, do balanço contábil da roubalheira, da conta que a sociedade paga pela chamada governança pragmática. O apoio político cobra um pedágio vergonhosamente imoral e criminoso. A corrupção drena anualmente dos cofres públicos o equivalente a 2,3% de toda a riqueza produzida pelo País. É um câncer que vai destruindo o organismo nacional. Se fosse usado para fazer investimentos públicos, esse dinheiro mudaria a cara do Brasil e faria, de fato, a tão almejada justiça social.
Os brasileiros começam a se indignar com a corrupção. E a juventude, idealista por natureza, é a porta-bandeira da cidadania. O recado dos jovens é muito claro e seria bom que os políticos tomassem nota.
A juventude não aceita mais o quadro que está aí. As manifestações de rua, pacíficas e cada vez mais expressivas, desembocarão com força irreprimível nas redes sociais. As próximas eleições reservam desagradáveis surpresas para aqueles que fazem da política a arte do engodo e uma plataforma para ganhar dinheiro fácil.
---------------------------* Doutor em Comunicação, é professor de Ética e diretor do Master em Jornalismo.
E-mail: difranco@iics.com.br - O Estado de S.Paulo
Fonte: Estadão on line, 15/11/2011
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