terça-feira, 8 de novembro de 2011

Einstein e Bill Gates

Sergio Mascarenhas*

Recentemente o Ministério de Ciência e Tecnologia passou a denominar-se Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. A mudança foi adequada? Embora o Ministro anterior, um dos melhores que o Brasil já teve Sérgio Machado Rezende, tivesse prestigiado fortemente a Inovação, inclusive criando uma Secretaria especial somente para Inovação, e indicado para ela um grande cientista, Ronaldo Mota, que, aliás, continua nessa função com o presente ministro, acho que a mudança do nome foi oportuna e gostaria de aproveitar para discutir o tema, da maior importância para o desenvolvimento não só da Ciência e Tecnologia mas da Educação em geral.
Para isso vou me valer de dois símbolos da sociedade global, Einstein e Bill Gates, que ladeiam a figura de Janus, o único Deus Romano, não copiado da mitologia grega, com seus dois instigantes e filosóficos olhares, um para o passado outro para o futuro.
Começo pelo cenário da história da ciência e tecnologia: a convergência temporal das duas é a característica principal dos tempos atuais. Enquanto as leis da eletricidade e magnetismo foram estabelecidas por Faraday e Maxwell nas quais se baseia o funcionamento do motor elétrico, cerca de 4 décadas foram necessárias para o seu pleno desenvolvimento tecnológico. Mas o tempo entre a descoberta das ondas eletromagnéticas e suas aplicações já foi mais curto, apenas duas décadas, entretanto no mesmo ano que o laser essa fabulosa fonte de luz foi inventado já houve aplicações tecnológicas para o mesmo!
Hoje a característica de nossa era séc. XXI é a vida curta de produtos, processos e serviços característica da economia globalizada impulsionada pelos negócios que exigem competitividade acelerada. O cerne dessa convergência, a sua força motora é a Inovação tornada permanente, necessária, característica fundamental do dinamismo dessa interação entre ciência e tecnologia. Mas nossa sociedade ou melhor na cultura brasileira , temos características de inovação? Claro que temos, no Futebol, no Carnaval certamente.
Ocorre entretanto que os nossos jovens talentos não foram educados para a cultura dinâmica da Ciência, Tecnologia e Inovação. Uma razão óbvia pode ser encontrada por uma simples visão da nossa sociedade: campos de pelada em todo o Brasil, nas cidades, nas periferias, em qualquer esquina desocupada. Carnaval começa logo depois que acaba pela continuidade das escolas e sociedades carnavalescas. Há até um sinergismo entre futebol e Carnaval as torcidas tipo Gaviões da Fiel são também transformadas em Escolas de Samba no Carnaval!

"O Brasil não tem sequer um Nobel,
nem mesmo em Humanidades,
a menos que se considere a copa do Mundo
equivalente ao Nobel e os festejos carnavalescos como tal!
Falta mesmo é educação para Ciência,
Tecnologia e Inovação"

Mas nas escolas com e minúsculo, isto é do sistema educacional a ciência e a tecnologia são poucas e a inovação quer seja nos métodos, quer nos processos de ensino - aprendizagem que somente recentemente despontam tímidos , numa infra-estrutura de escolas de curto tempo, não a Escola Parque sonhada por Anísio Teixeira , mas a Escola mínima cartorial, da violência e bullying na sala de aula , sem tecnologia educacional moderna, com professores portadores da do que chamo Síndrome dos 4 Medos:
1 -Medo do aluno,
2 - medo do seu desamparo em técnicas e conteúdos didático -pedagógicos,
3 - medo do conhecimento avassalador que jorra pela internet e
4 - medo de seu futuro social como carreira, desprezada que foi não somente pelo Estado mas até pelos sistemas privados que os escravizam com salários irrisórios e cargas didáticas intensas.
Mas nosso tema é a Inovação! Mas como inovar em um ambiente desses sem qualquer motivação seja para Einsteins ou Bill Gates? Recentemente a Universidade Rockefeller recebeu o seu vigésimo sexto Prêmio Nobel, dessa vez em medicina, uma única Universidade em New York 26 prêmios-Nobel! O Brasil não tem sequer um Nobel, nem mesmo em Humanidades, a menos que se considere a copa do Mundo equivalente ao Nobel e os festejos carnavalescos como tal! Falta mesmo é educação para Ciência, Tecnologia e Inovação, uma nova cultura diferente dessa que recebemos de nossos colonos machistas, escravagistas e exploradores de nossas riquezas naturais sem lhes agregar quaisquer inovações.
Somente a Embrapa em tempos recentes acordou para essa visão e o fez pela Ciência, Tecnologia e Inovação, provando que sem Einsteins inovadores não teremos os Bill Gates empresariais, pelo menos em número e qualidade suficientes para inserção virtuosa no Mundo Globalizado.
Estou há tempos propondo uma Rede de Agências Multimídia, associada a uma Rede de Centros e Museus de Ciências e Tecnologia com Centrais de Produção nas Cinco Regiões do Brasil para difusão da Ciência, Tecnologia, Inovação tanto na Educação como nas empresas para sairmos desse atraso histórico.
Quem sabe a angustiada solicitação da Academia Brasileira de Ciências e da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) por uma participação no pré-sal possa ser ouvida para essa finalidade? Seria um grande momento na história do Brasil, mas teria que ser ouvido no meio da gritaria dos estados produtores e não-produtores sem explicitações de missões como essa que discutimos em prol da Ciência, Tecnologia, Inovação na Educação.
Esperemos que desprezada pelos ilustres senadores a sugestão da SBPC-ABC possa ser atendida pela Câmara Federal o que constituir-se-a numa decisão histórica tão importante como a da Independência Brasileira, desta vez dos grilhões do subdesenvolvimento.
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* Sérgio Mascarenhas é professor e coordenador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), presidente Honorário SBPC e Membro Titular ABC.
Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=80011 08/11/2011
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