quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Resiliência pode ser medida e treinada


Paulo Sabbag, da FGV, criou a primeira escala nacional para avaliar a resiliência.
O Século XXI mal começou e já foi marcado por grandes crises econômicas, catástrofes naturais, transformações políticas, mudanças sociais e reestruturações no mercado de trabalho. A competência mais importante para os tempos modernos, portanto, é a resiliência. A boa notícia é que é possível aprender e desenvolver essa característica. Essa é a opinião de Paulo Yazigi Sabbag, professor da Fundação Getulio Vargas - Eaesp e idealizador da primeira escala nacional para avaliar o nível de resiliência de profissionais, a ERS (Escala de Resiliência Sabbag).
O termo é oriundo da engenharia e serve para descrever a capacidade e o tempo que um material leva para se recompor - como uma mola, que se deforma ao sofrer pressão e retorna à posição anterior quando essa força cessa. Posteriormente, a psicologia se apropriou desse conceito para descrever a habilidade de um indivíduo de se recuperar de traumas, perdas e adversidades.
Hoje, o tema tem destaque entre especialistas em recursos humanos. "As empresas buscam profissionais capazes de se adaptar a diferentes cenários, de responder rapidamente e de suportar a pressão", afirma. De acordo com um estudo realizado pelo professor com alunos graduados no curso a distância de administração da FGV, 16% dos profissionais apresentaram resiliência baixa, 40% alta e 44% moderada. Foram mais de 1.500 questionários validados, provenientes de 61 cidades brasileiras.
A escala relaciona nove fatores inerentes à resiliência: autoeficácia, solução de problemas, temperança, empatia, proatividade, competência social, tenacidade, otimismo e flexibilidade mental. Com o teste, é possível descobrir quais os pontos mais fortes e o os mais fracos do profissional e trabalhá-los separadamente. "O mais crítico é a autoeficácia, que está associada à autoconfiança e a autoestima. São crenças muito profundas e enraizadas no indivíduo", explica.
"O Japão, por sua vez, é um bom exemplo
 de sociedade com alta resiliência - basta analisar
 como o país se comportou diante do terremoto
seguido de tsunami
em março."
Dentre os que apresentaram resiliência moderada, foi possível detectar dois arquétipos: o masculino, que consegue controlar melhor as emoções e se sobressai em tenacidade e solução de problemas, e o feminino, que apresenta melhor pontuação em quesitos como empatia e articulação de apoio social, perdendo na questão temperança, que pode ser entendida como "sangue frio".
Na opinião de Sabbag, a resiliência não deveria ser usada como filtro em um processo seletivo, uma vez que pode ser desenvolvida com as ferramentas adequadas - embora a grande maioria dos recrutadores e especialistas em RH prefira pessoas que apresentam naturalmente essa característica.
O professor ressalta que somos resilientes desde que nascemos. Uma criança de dois anos, por exemplo, recupera-se rapidamente de um tombo e não fica remoendo problemas ou mágoas. Além disso, ela é curiosa, proativa, tem empatia com animais e seres humanos. "Isso é necessário para o nosso bom desenvolvimento. Quando a vida progride, no entanto, as emoções se tornam mais complexas, ficamos mais vulneráveis a perdas e mais abalados com as derrotas."
Sabbag ressalta que, por serem formadas por indivíduos, empresas e sociedades também podem se tornar mais resilientes. Organizações transparentes, preocupadas com a ética e que têm líderes admirados, canais de comunicação desenvolvidos, vínculos com a comunidade e valores bem definidos, por exemplo, conseguem se recuperar de crises mais facilmente. "Elas conseguem reagir rapidamente, aprender com o ocorrido e fazer as coisas voltarem ao normal sem grandes danos, restabelecendo seu valor de mercado, sua imagem e sua credibilidade", afirma.
O Japão, por sua vez, é um bom exemplo de sociedade com alta resiliência - basta analisar como o país se comportou diante do terremoto seguido de tsunami em março. "Existe um esforço conjunto e imediato de todos para controlar e reverter a situação. Para isso, é necessário ter instituições sólidas e envolvimento do governo. Os fatores são mais sistêmicos e complexos", explica.
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Reportagem por Por Rafael Sigollo De São Paulo
Fonte: Valor Econômico on line, 23/11/2011

2 comentários:

  1. Como obter este instrumento? Preciso dele para minha dissertação de mestrado jmljrjosemario@outlook.com

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  2. Creio que o melhor caminho é vc contatar o professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV/EAESP), Paulo Sabbag, analisou aspectos do seu trabalho sobre resiliência – capacidade de recuperação frente a adversidades
    http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Carreira/noticia/2014/01/como-voce-administra-adversidades.html

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