John Gapper*
Sob um plátano, corretores fundaram
a Bolsa de NY, em 1792, e não precisaram
dormir sob a árvore
Michael Bloomberg, o prefeito de Nova York, tomou uma decisão impopular quando decidiu realizar uma operação policial no Zuccotti Park, na madrugada de terça-feira passada, para expulsar os 200 manifestantes que ocupavam a praça em nome do movimento Occupy Wall Street. Mas ele estava certo. E o mesmo vale para a tentativa do governo da City de Londres de remover as barracas montadas na praça da catedral de St. Paul.
É hora de o Occupy Wall Street e os movimentos derivados nos Estados Unidos e no restante do mundo aprenderem uma lição com o nome do Move On (Seguir em Frente), o movimento esquerdista formado em 1998 em resposta ao escândalo de Monica Lewinsky. Eles decerto têm coisas melhores a fazer do que lutar pelo direito inalienável de dormir em uma barraca de acampamento.
Não importa que o momento fosse, ou não, o mais apropriado para remover as barracas e toldos da praça e para que os ocupantes encontrassem outros lugares onde dormir: algo parecido teria de ocorrer, com ou sem o inverno. Bloomberg provou seu equilíbrio ao insistir em que a praça podia servir como local de protesto, mas não como moradia.
Em minha primeira visita à praça, há seis semanas, simpatizei com os manifestantes, e continuo a fazê-lo. Ainda que algumas de suas ideias sejam equivocadas, existe um motivo para que tenham conquistado o apoio de milhões de pessoas. Quem é que não sente haver algo de errado com uma sociedade na qual bancos protegidos pelo governo adquirem parcela tão desproporcional das riquezas?
Eles foram inteligentes em não se deixar envolver pela política convencional -em lugar disso, propuseram novas ideias, usando uma forma idealista de democracia direta. O fato de que tenham sido dedicados a ponto de participar de longos e pacíficos debates em busca da formação de um consenso também foi salutar.
Mas, quanto mais tempo durasse o acampamento, tanto mais ele abusaria da paciência não só dos políticos e dos policiais, mas dos vizinhos da praça e das pessoas que inicialmente concordavam com o protesto.
Grupos radicais formados por pessoas excluídas e alienadas terminaram sendo atraídos pelo protesto, e o clima no Zuccotti Park era febril na semana passada -os manifestantes lançavam queixas zangadas contra a polícia e as detenções agressivas estavam aumentando. Bloomberg refletiu sobre os riscos de saúde e segurança -o perigo de atravessar a Broadway a pé ao leste da praça era maior do que o de visitá-la em meio ao protesto-, mas dois meses de manifestação f oram suficientes.
À primeira vista, ele não tem muita credibilidade a ganhar como opositor do Occupy Wall Street, visto que o setor financeiro paga muitos impostos para o município e Bloomberg se tornou a 30ª pessoa mais rica do mundo, de acordo com a revista "Forbes", vendendo dados para Wall Street.
Isso não só o coloca como parte do 1% como faz dele 1 em 230 milhões.
Mas o prefeito tende a administrar a cidade de modo centrista e tecnocrático, ainda que ocasionalmente demonstre falta de tato. A despeito dos protestos dos manifestantes quanto a violações de suas liberdades civis, ele estava completamente correto ao asseverar que "a primeira emenda [à Constituição dos EUA] garante a liberdade de expressão, mas não garante o uso de barracas e sacos de dormir para ocupar um espaço público".
Mesmo antes da ação policial, alguns dos organizadores da campanha estavam estudando usar um andar de um edifício próximo como abrigo no inverno.
A ação intelectual já estava se afastando da praça e recaindo em grupos de trabalho que discutem toda espécie de assunto, de formas alternativas de serviços financeiros à economia ecológica.
Se o Occupy Wall Street pretende deixar marca permanente, é nesse tipo de esforço que deve se concentrar, e não na ocupação de terrenos.
Os corretores que se reuniram sob um plátano em Wall Street, em 1792, para fundar a Bolsa de Valores de Nova York criaram algo de duradouro. E não precisaram dormir sob a árvore.
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* JOHN GAPPER é jornalista do "Financial Times", jornal em que este texto foi publicado originalmente.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Fonte: Folha on line, 20/11/2011
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