Ruy Carlos Ostermann*
Olhar para dentro é como se pode lembrar. Não há outro jeito a não ser que se prefira certa pose, mão no queixo, braço distendido do outro lado, talvez balouçante, olhar no perfil da parede, pés estendidos. Mas é recomendável apenas lembrar, ter certeza do que foi mesmo que aconteceu e admitir que tudo isso pode voltar numa embalagem um pouco estranha como se já fosse tempo demais e nada pode ser restaurado e está caindo aos pedaços.
Este ano foi algumas vezes surpreendente. Praticamente me aposentei e me obriguei a fazer escolhas, o que sempre implica em se desfazer de muita coisa, mas sem arrependimentos, de preferência. É muito difícil escolher porque este ato implica em se desfazer de muitas coisas sem que se possa prestar a atenção devida a cada pedaço da gente que vai ficando para trás. Dói bastante, dá coceira no pescoço e na nuca, comprimem-se os pés com ou sem sapatos. Mas não há outro modo de lembrar senão desobstruir.
Homenagem é um acontecimento que atrai a memória e a coloca como uma reminiscência que vai para frente e para trás. E cada um com sua canoinha sem remo.
Nessa quinta-feira, dia primeiro, estava marcado o encerramento dos Encontros com o Professor desse ano intenso e feliz. E a coincidência da memória e da homenagem se juntaram com a presença do Conjunto Farroupilha: Tasso Bangel, Estrela D´Alva e Danilo de Castro que já não tocam mais juntos, mas todos temos lembrança deles. Sem desmerecer a bossa-nova, o samba de raiz, mas a nossa tradição antes de tudo.
É a memória mesmo que nos atualiza e dá razão.
São eles, somos nós. O que pode faltar?
-----------------------------------*Jornalista. Cronista. Escritor.
Fonte: Coluna do Ruy Ostermann,29/11/2011
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