domingo, 6 de novembro de 2011

A arte de enganar

The Economist
Para Robert Trivers, melhores mentirosos começam por enganar a si próprios

 
Em 'The Folly of Fools', Robert Trivers
estabelece ligações
entre a mentira e o progresso biológico

Enganar os outros tem suas vantagens. Na natureza, a camuflagem é útil para caça e caçador, e quanto mais esperto for o animal, mas provável é que ele use (ou detecte) os truques em benefício próprio. Os humanos são particularmente bons em realizar truques – por mais dinheiro, mais poder ou um companheiro desejado. Ainda assim, a arte de enganar é difícil, independentemente da inteligência. Mentiras costumam nos deixar nervosos e agitados, e ficções complicadas podem levar à depressão e a um mau funcionamento do sistema imunológico. E existem também as implicações éticas.
Em The Folly of Fools (“A Tolice dos Tolos”), Robert Trivers, um biólogo evolucionário norte-americano, explica que os traiçoeiros mais eficientes quase sempre não têm ciência de seus truques. O auto-engano facilita a manipulação dos outros ao redor, e pessoas particularmente inteligentes podem ser especialmente talentosas na arte de se auto-enganar.
Usando pesquisas na biologia, neurofisiologia, imunologia e psicologia, Trivers apresenta uma série de ligações entre a mentira e o progresso evolucionário. Algumas delas são intuitivas. O esquilo cinzento, por exemplo, constrói falsos estoques de comida para evitar que seu alimento seja roubado. Placebos podem, em alguns casos, ser tão eficazes quanto medicamentos reais, sem os efeitos colaterais. Outras teorias geram mais reflexões. Trivers defende a ideia de que a competição entre os genes maternais e paternais podem criar “personalidades distintas”, que tentam ludibriar umas às outras num nível biológico. A memória humana costuma envolver um processo de seleção e distorção, que melhora nossa capacidade de acreditar nas histórias que contamos aos outros.
Toda essa mentira tem um preço. Trivers sugere que as pessoas mais astutas tendem se beneficiar às custas dos outros. Ele realça a maneira como as ultra confiantes figuras de Wall Street podem prejudicar investidores e contribuintes com pouco risco pessoal. E também há políticos que repetem histórias de grandeza nacional para conseguir apoio para as caras guerras nas quais não lutarão.
Certamente não há escassez de tolice humana a ser levada em conta. Trivers oferece evidências fascinantes de nossa astúcia biológica, no entanto, em vários momentos, a ciência do auto-engano esbarra em suas visões políticas, e no ceticismo em relação às ciências sociais. O livro certamente não precisava de suas longas opiniões sobre o conflito entre israelenses e palestinos e a Guerra do Iraque. Mas quando os leitores chegarem aos últimos capítulos, eles já estarão preparados para não acreditarem em tudo o que lêem.
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Fontes: The Economist - The importance of trickery

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