Isabelle Jonveaux acaba de publicar Le monastère au travail: Le Royaume de Dieu au défi de l'économie, Ed. Bayard (O mosteiro no trabalho: O Reino de Deus em desafio à economia), em que ela estuda "como os monges operam a delicada integração da economia e do trabalho em uma utopia que é a eles refratária por definição".
A reportagem é de Philippe Clanché, publicada na revista Témoignage Chrétien, 03-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O que os monges podem nos ensinar com as suas práticas econômicas?
Eles mostram que um modelo fundamentado em valores diferentes daqueles do mundo – o respeito da pessoa, caridade, ajuda recíproca, rejeição do rendimento a todo o custo – pode ter sucesso. Os monges consomem menos e, assim, podem economizar mais. Eles nos propõem a ideia de uma economia da sobriedade: produzir em função das necessidades e não mais. E, se se recebe mais, se doa. É verdade que, no passado, certos mosteiros enriqueceram. Mas, como todos os cristãos, os monges sempre mantiveram o imperativo da caridade. A ideia dos 10% das entradas para os pobres é bastante antiga.
Alguns mosteiros, no entanto, investem na bolsa...
Cada comunidade coloca em prática o seu próprio modelo. Em Saint-Wandrille (Seine-Maritime), o beneditina responsável pensou em gerir as entradas do trabalho da comunidade de forma profissional. Ao contrário, ele investe o dinheiro com sabedoria, isto é, de uma maneira ética. O investimento deve servir para a finalidade monástica, por meio de empresas éticas. Alguns mosteiros optam por investir em um fundo que ajuda a diocese. O objetivo da vida não é de viver de juros, mas sim de continuar desempenhando um papel cristão na economia. É possível fazer comparações com a economia social e solidária. Há muito tempo, a irmã Nicole Reille desenvolveu o conceito de economia profética (1). Os monges de Saint-Wandrille estão presentes em conselhos de administração das sociedades, dentro dos quais eles podem difundir as suas ideias. E, se a empresa muda de linha, os religiosos podem se retirar. Eles mantêm essa possibilidade.
"A relação com a criação e com a natureza
sempre interessou ao mundo monástico.
Hoje, isso lhes serve como um eficaz
produto de marketing."
No século XIX, quando nasciam as fábricas modernas, os empregadores iam ver o que acontecia nos mosteiros. O que buscavam?
O filósofo Michel Foucault relata como o mosteiro apareceu então como um modelo em dois âmbitos: a organização do tempo e a do espaço. Não havia relógios, mas só os sinos que marcavam o tempo. A fábrica exigia um ritmo preciso, que os monges viviam há séculos com a alternância entre trabalho e oração. Eles também sabiam gerenciar o espaço, reunindo os trabalhadores em um mesmo local de trabalho, no qual é possível ver o que cada um faz.
Hoje, o mundo empresarial está interessado no que acontece dentro dos mosteiros?
Existem intercâmbios. Mosteiros como Notre-Dame de Ganagobie (Alpes de Haute-Provence) organizam cursos para administradores. Por outro lado, durante os retiros, há empresários que experimentam a alternância trabalho-oração como uma abordagem diferente para a gestão da atividade. A Regra de São Bento é estudada como método de management. Certamente, os objetivos buscados não são os mesmos, mas a Regra visa à otimização da vida de um grupo de pessoas para um propósito determinado. As convenções podem ser retomadas. E é possível se inspirar na função de abade como responsável à frente dos outros.
A escolha da agricultura orgânica por muitos mosteiros é o fruto de uma conscientização ecológica pioneira?
Não sejamos idealistas! Muitos mosteiros fizeram essa escolha por razões concretas e econômicas. As energias verdes são mais baratas do que o diesel. Depois, o seu compromisso foi relido com argumentos ecológicos que a sociedade quer ouvir deles. A relação com a criação e com a natureza sempre interessou ao mundo monástico. Hoje, isso lhes serve como um eficaz produto de marketing. Mas nem sempre foi assim. Na época do produtivismo agrícola, a abadia de Kergonan tinha realizado a primeira criação intensiva de perus de Morbihan.
Notas:
1 – Religiosa da Congregação de Notre-Dame, que fundou em 1983 o primeiro fundo de investimento ético na França, com a associação Éthique et Investissement.
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Fonte: IHU on line, 07/11/2011
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