Simon
Schwartzman*
Os dados agora publicados sobre retenção, evasão e
repetência escolar mostram que ainda não conseguimos superar o falso
dilema sobre o que fazer com os alunos que não aprendem: deixar passar
de qualquer forma ou reprovar, fazendo com que acabem por abandonar a
escola, sobretudo a partir da adolescência, ou seja, no ensino médio. É
difícil entender exatamente o que esses dados significam sem uma análise
mais elaborada de fluxos, porque alunos que abandonam um ano podem
voltar para a escola no ano seguinte, e as taxas de abandono nas séries
mais elevadas já excluem os que saíram antes.
Mas o quadro é grave, com muitos estudantes abandonando antes de
completar o ensino médio e ficando praticamente excluídos do mercado de
trabalho. O correto, claro, seria fazer com que os estudantes aprendam e
não queiram sair da escola, sem precisar repetir de ano. Para o ensino
fundamental, até o 9.º ano, essencial é garantir que ninguém fique para
trás em português e matemática, que é a base para tudo o mais. No ensino
médio se coloca o problema adicional da grande variedade de alunos que
começa a chegar a esse nível, com interesses, idade e níveis de educação
prévia muito diferentes.
Além disso, uma boa parte dos estudantes de nível médio ainda estuda
de noite, porque as escolas são ocupadas pelo ensino fundamental durante
o dia - e todos sabem que esses cursos noturnos dificilmente funcionam
na prática. Em todo o mundo, os governos oferecem e os estudantes
começam a fazer escolhas a partir dos 15 anos sobre o que estudar,
muitos se orientando para cursos mais práticos e profissionalizantes,
outros para cursos mais acadêmicos de diferentes tipos que levam ao
ensino superior. Em poucos países o ensino médio é tão burocrático e
carregado de matérias inúteis como o nosso, e o ensino técnico de nível
médio tão pouco desenvolvido.
Tentando lidar com o problema, o MEC aprovou recentemente uma
recomendação de "flexibilizar" o currículo do ensino médio, que pode
significar, na prática, no esvaziamento de seus conteúdos, quando o que
precisamos são de opções e alternativas de qualidade.
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* É professor, pesquisador e presidente do Instituto do
Trabalho e Sociedade do Rio de Janeiro (IETS). Análise publicada no
jornal O Estado de São Paulo de hoje (17).Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=82443
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