Marcelo Neri*
Os principais motivos da exclusão são desinteresse (33%) e incapacidade de usar a internet (31%)
O último dos objetivos de desenvolvimento do milênio (MDGs) da ONU
fixados para 2015 discute parceria entre governos, setor privado e
sociedade civil. A evidência é que quando há alinhamento de interesses
entre diferentes atores, a sinergia obtida faz com que o todo seja maior
do que as partes. A internet é a maior guardiã da promessa de alinhar a
aldeia global, de colocar todos na mesma página.
Entretanto, temos dado as costas para metas de conectividade. Integro um
grupo de especialistas de vários países que propõem novos objetivos
para depois de 2015. Iremos sediar na FGV, em setembro, conferência
sobre os Post-2015 MDGs. A última meta da ONU em curso inclui acesso à
internet. Os novos objetivos já propostos sugerem meta específica de
conectividade.
Buscando subsidiar o debate, nesta semana lançamos o primeiro de uma
série de estudos sobre conectividade fruto da parceria entre o Centro de
Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas e a Fundação Telefônica no
sentido de mapear as diversas formas de acesso à tecnologia digital,
sua qualidade, seu uso e seus retornos proporcionando uma perspectiva de
atuação integrada com outras ações que buscam o norte do
desenvolvimento inclusivo sustentável.
Nesta primeira etapa (vide www.fgv.br/cps/telefonica), respondemos a
perguntas diversas: Como evoluiu o binômio inclusão/exclusão digital no
Brasil? Saiu de 8% de domicílios com internet para 33% em um período de
dez anos.
Esse nível atual coloca o país na exata média mundial, sendo o 63º lugar
entre os 158 países mapeados. É sintomático que o nosso estudo de dez
anos atrás se chamava mapa da exclusão digital; o atual, mapa da
inclusão digital, por sugestão de Antonio Valente.
O Brasil tem um mundo dentro de si desde São Caetano (SP), que apresenta
o maior índice do país de acesso à internet em casa (74%, similar ao do
Japão), a Aroeiras (PI), que tem zero virtual.
O líder mundial é a Suécia, com 97% de domicílios conectados, índice
similar ao da praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Já Rio das
Pedras, a favela vizinha, tem o menor percentual da cidade (21%),
parecido com o do Panamá.
Os cinco primeiros do ranking global são países nórdicos, os mesmos que
lideram o ranking de felicidade reportada pelas próprias pessoas. Não
que um cause o outro, mas ambos integram a mesma cena.
Como medir a conectividade? As bases supracitadas identificam apenas o
acesso das pessoas a computador, conectado ou não à internet, em suas
casas, e não o efetivo uso da rede mundial de computadores.
No âmbito das políticas públicas, é preciso monitorar o efetivo uso da
internet e seus respectivos locais, podendo haver mais de um local entre
os incluídos: casa, 57%; LAN houses, 35%; trabalho, 31%; casa de
amigos, 20%; escola, 18%; locais públicos gratuitos, 5,5%.
No que se refere à qualidade de acesso domiciliar, 80,7% foram feitos em
banda larga e o grosso restante por meio de acesso discado.
Quais são as razões dos sem-rede? Elas são diversas, variando de lugar
para lugar. Na capital mais incluída, Florianópolis, que é líder da
banda larga, vigora a falta de interesse (62% de respostas da minoria
excluída). Lá é, sintomaticamente, a capital da classe AB. Se a carteira
de trabalho é o símbolo da nova classe média, ou classe C, a internet
banda larga é o da classe AB. Como item de consumo, mas acima de tudo
para educação, para trabalhar e em busca por trabalho.
A distante Rio Branco é a capital do motivo falta de estrutura (42%). Já
na hospitaleira João Pessoa é onde as pessoas não acessam mais por
falta de conhecimento (47%). Talvez por isso, lá é aonde as pessoas
acessam mais a internet em casa de parentes e de amigos.
Olhando a média nacional, o principal motivo da exclusão é a falta de
interesse (33%), seguido pela incapacidade de usar a internet (31%).
Ambos decorrem dos problemas educacionais vigentes.
Não basta que computadores caiam de paraquedas na vida das pessoas. Se navegar na rede é preciso, educar também é preciso!
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