sexta-feira, 11 de maio de 2012

Hollande e Dilma

Juremir Machado da Silva*

<br /><b>Crédito: </b> ARTE JOÃO LUIS XAVIER

 
  
Dilma Rousseff é o que de melhor aconteceu para a política nos últimos anos. Ela enterrou todos os preconceitos da direita com um discurso sereno, firme e competente. Não faz milagres. Faz o que pode. Faz o que dá. Com outro estilo, Cristina Kirchner e Evo Morales estão fazendo o mesmo na Argentina e na Bolívia. O neoliberalismo cantou de galo durante duas décadas e levou o mundo ao caos com a crise de 2008, cujos efeitos ainda se alastram pela Europa de 2012, o que decretou a derrota de Nicolas Sarkozy na França, no último domingo. A ideia de que se resolvem problemas do Estado aumentando os problemas sociais não emplaca mais. Diminuir o déficit público aumentando o desemprego é uma conversa que não engana mais ninguém, salvo os enganadores. Já era. Já é.

O machismo direitista nacional fazia de Dilma um fantoche de Lula. Foi para o brejo. A conversa mole do respeito aos contratos preservava a rapinagem de multinacionais. A Espanha, depois de saquear a Bolívia durante séculos, faz pose e chora o desrespeito de Evo a um sagrado contrato lesivo aos bolivianos. Se tem um país que merece um chute no traseiro de parte dos bolivianos é a Espanha. A receita da austeridade - leia-se fazer o povo pagar a conta - para a crise europeia começou a naufragar com a vitória de François Hollande. A especulação imobiliária e financeira pariu a crise. Os espertinhos decidiram que o remédio seria cortar benefícios sociais, rotulados de privilégios, para que os seus ganhos fossem beneficiados. O eleitor disse não.

Os tempos são outros. Dilma vem enquadrando os bancos, chutando os suspeitos de corrupção para fora do seu Ministério, exceto o amigo Fernando Pimentel, e impondo a sua marca. Aliás, um cliente do Banrisul manda a seguinte pergunta: "Quando o banco gaúcho vai começar a baixar os seus juros?". Segundo ele, os juros do cheque especial do Banrisul continuam em 9,06% ao mês, contra 3,5% da Caixa Federal. A grande pergunta na França agora é: até quando ainda vai durar o amor de Carla Bruni por Nicolas Sarkozi? Não que ela seja interesseira, mas, sabe como é, uma coisa é ser primeira-dama, outra, bem outra, ser mulher de ex-presidente que não conseguiu se reeleger. A vida fora da Corte pode ser muito tediosa.

A velha esquerda já não emplaca. A velha direita, com sua roupagem neo, também não encanta mais. De vez em quando, sopram ventos novos. Até o STF brasileiro anda progressista: aprovou o aborto de anencéfalos, a constitucionalidade das cotas raciais e o ProUni. Deixou setores da mídia e o Dem inconformados. Incrível essa sintonia entre mídia e Dem na defesa do universal abstrato contra o concreto, que altera a relação de forças no cotidiano. Uma nova fase começa. A era da racionalidade pretensamente objetiva se vai. O tempo do Estado mínimo para a população e máximo para especuladores deu com os burros na água. O que vai fazer Sarkozi para manter intocado o seu último bastião? A hora e a vez é de Cristina, Evo, François e, claro, Dilma.
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*Sociólogo. Escritor. Cronista do Correio do Povo
juremir@correiodopovo.com.br
Fonte: Correio do Povo on line, 11/05/2012

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