Marcelo Gleiser*
A história das colisões na Terra mostra que, se a história tivesse sido outra, não estaríamos aqui
Às vezes, a morte vem de lugares inesperados. Para um dinossauro que
vivia há 65 milhões de anos, o maior perigo eram outros dinossauros,
especialmente o "T. rex", que só temia outros como ele.
Porém, mesmo que algumas populações de dinossauros estivessem em
declínio já antes da extinção, o que deu cabo deles foi a colisão
cataclísmica de um asteroide de 10 km de diâmetro.
O impacto deixou uma cratera de 150 km na península de Yucatán, no
México. É difícil imaginar que uma única colisão possa causar tamanho
dano. Mas uma rocha que viaja a 30 km por segundo (150 vezes mais veloz
do que um jato) deposita uma energia no seu impacto equivalente a 100
mil vezes a energia da detonação simultânea de todas as bombas
termonucleares que existiam na Guerra Fria. O refluxo de matéria viajou
até a metade da distância entre a Terra e a Lua.
Nuvens de poeira bloquearam o sol durante meses e a temperatura caiu
vertiginosamente. Após a poeira se assentar, um efeito estufa acelerado
fez com que a temperatura subisse rapidamente; mais de 50% das espécies
desapareceram.
Esse não foi o único impacto na Terra ou o que mais destruiu a vida.
Felizmente, esse tipo de colisão é raro, ocorrendo em média a cada 30
milhões de anos. Uma das mais recentes ocorreu em 1908 em Tunguska, na
Sibéria, destruindo cerca de 30 km2 de floresta com a energia de 185
bombas de Hiroshima. Esse tipo de impacto, com frequência média de cem
anos, pode causar sérios danos, mas não extinções globais. (No caso de
Tunguska, o fragmento explodiu antes do impacto.)
Será que isso pode acontecer de novo? A Nasa tem um programa dedicado à
caça de asteroides e cometas, com eficiência de cerca de 75%.
Asteroides ou cometas considerados ameaças globais podem ser detectados
com dois anos de antecedência. Uma missão poderia ser enviada com o
intuito de desviar a órbita do asteroide, evitando o impacto, como
explico no livro "O Fim da Terra e do Céu".
A história das colisões que ocorreram na Terra nos ensina algo crucial
sobre a vida: se a história tivesse sido outra, a vida aqui teria
evoluído de forma diferente e não estaríamos aqui. Nossa existência é
produto de eventos cósmicos de dimensão apocalíptica, acidentes que
causaram mudanças drásticas nas condições terrestres, afetando as
espécies e destruindo muitas delas.
Quando o balanço ecológico muda, mudam o equilíbrio dinâmico entre presa
e predador e a distribuição de alimentos. A pressão ambiental leva a
novas condições que vão beneficiar certas espécies em detrimento de
outras.
Como cada planeta tem a sua história e nenhuma é idêntica, mesmo supondo
que outras "quase-Terras" existam pela galáxia afora e que a vida
exista nesses planetas, ela terá características diferentes.
Consequentemente, humanos só existem aqui, resultado dos detalhes da
história única de nosso planeta.
A história da vida num planeta reflete a história da vida do planeta.
Como histórias planetárias não são duplicáveis num universo finito,
somos únicos no Universo. Uma boa lição que os dinossauros nos ensinam,
especialmente naqueles dias em que você não se sente lá muito
importante.
------------------------------
Nenhum comentário:
Postar um comentário