Ruy Carlos Ostermann*
Estou
me convencendo, depois de tanto tempo, que sonhar é bom, que não faz mal
nem interfere negativamente com a vida pessoal, que até serve de alívio, dependendo
do lado em que se acorde. Porque tem isso: outra noite acordei batendo no teto,
uma batida seca como pedra, mas sem dor. Não sei o que foi que se passou
só sei que cheguei ali, sobressaltado. Acontece, mas raramente.
Perguntei
ao doutor se fazia sentido abrir uma porta com frequência e me deparar comigo
mesmo. Sempre tive algum receio das duplicações, mas ele não. Disse que era
assim mesmo, a porta servia para olhar adiante.
Mas,
e se estou nu do outro lado, constrangido, com as duas mãos à frente das
vergonhas, eu mesmo, e quem abriu a porta foi uma mulher alta, de óculos
escuros, e que, sem remorsos, fecha a porta e imediatamente vai abri-la outra
vez, agora completamente nua, mas ainda de óculos escuros, e sou eu do outro
lado todo vestido, de gravata e completamente sem jeito. E então, doutor?
Nada,
ele me tranquiliza, trata-se de uma das tantas incompatibilidades amorosas que
deves ter tido.
Mas,
doutor...
Não tem ninguém na sala, ele
saiu, satisfeito comigo.
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* Jornalista. Escritor. Cronista da ZH
Fonte: Coluna exclusiva do Ruy, 23/05/2012
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