quinta-feira, 24 de maio de 2012

E esses sonhos, doutor?

Ruy Carlos Ostermann*

Encontros com o professor

Estou me convencendo, depois de tanto tempo, que sonhar é bom, que não faz mal nem interfere negativamente com a vida pessoal, que até serve de alívio, dependendo do lado em que se acorde. Porque tem isso: outra noite acordei batendo no teto, uma batida  seca como pedra, mas sem dor. Não sei o que foi que se passou só sei que cheguei ali, sobressaltado. Acontece, mas raramente.        
Perguntei ao doutor se fazia sentido abrir uma porta com frequência e me deparar comigo mesmo. Sempre tive algum receio das duplicações, mas ele não. Disse que era assim mesmo, a porta servia para olhar adiante.
Mas, e se estou nu do outro lado, constrangido, com as duas mãos à frente das vergonhas, eu mesmo, e quem abriu a porta foi uma mulher alta, de óculos escuros, e que, sem remorsos, fecha a porta e imediatamente vai abri-la outra vez, agora completamente nua, mas ainda de óculos escuros, e sou eu do outro lado todo vestido, de gravata e completamente sem jeito. E então, doutor?
Nada, ele me tranquiliza, trata-se de uma das tantas incompatibilidades amorosas que deves ter tido.
Mas, doutor... 
Não tem ninguém na sala, ele saiu, satisfeito comigo.
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* Jornalista. Escritor. Cronista da ZH
Fonte:  Coluna exclusiva do Ruy, 23/05/2012

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