A
vida não é um mar de rosas. A experiência nos mostra que pessoas
honestas são perseguidas, que a hipocrisia e a mentira são normas e lei
nas relações sociais, que os idiotas e ineptos são engrandecidos e
adulados, que ter nascido não é uma graça divina, e que a vida é uma
escravidão onde tudo é claustro, frívolo e precário. Quem pensa assim é
Omar Kahayyán, o maior filósofo pessimista da Pérsia, atual Irã.
Nasceu por volta do ano 1080 perto da cidade de Nishapur e veio morrer
aos oitenta e cinco anos de idade. Era filósofo, matemático e astrônomo
preocupado em entender o sentido da vida e o enigma do universo. Apesar
de enxergar friamente a vida, tal como ela é, encontrou na poesia, no
vinho e nas mulheres a razão do seu viver. O ocidente o conhece graças
as suas poesias. Ele as escrevia despreocupadamente como uma forma de
desabafo e de alívio de suas frustrações. Seus poemas foram denominados
pela tradição de “Rubaiatas”, plural de Rubaía, cujo significado é
quadra, estrofe de quatro versos. São três os motivos de seus rubaiatas:
a tristeza de se viver neste mundo; a insensatez dos dogmas da
religião; e os prazeres do vinho e da sensualidade.
Para ele a vida era sem
sentido, sem rumo, sem finalidade. Negava o mundo e o concebia como um
“cárcere asfixiante”.
Somos joguetes
Nas mãos do Destino
Simples brinquedos,
à nossa custa
diverte-se o universo
Joguetes
Que vivem redemoinhando
Ao sabor dos ventos
Não se trata de metáfora,
Nem exagero no que digo:
Esta é a realidade
No passado,
Ingenuamente brincávamos
No tablado da vida.
Seremos hoje
Uns após outros,
Carregados
no féretro do não-ser
Em um de seus poemas Omar
Khayyán dizia que se tivessem consultado sobre sua vinda a terra, ele
teria dito não. Sentia-se triste por ter nascido, achava que a vida é um
algoz que nos força a aceitar um destino que não escolhemos. Ele nunca
aceitou o fato de viver nesse mundo. Sentia-se perplexo e desajustado,
também sentia angustia diante da morte, uma vez que ela nos leva a um
aniquilamento final inexorável.
Omar Kahayyán também criticou as
crenças e valores de sua época. Achava impossível ao homem provar a
realidade de Deus. Em seus poemas usava a ironia desvelando as
contradições dos dogmas religiosos.
O Allah!
Semeaste de armadilhas
E eriçaste de pecados
As curvas do meu caminho!
E depois advertiste:
- Ai de ti se caíres!
Sabemos
Que nem um só átomo se esconde
à Tua visão
Em todo o universo
Ora,
Se determinaste
Que assim se me desdobrasse
O percurso da existência
E se tão meticulosamente
Preparaste a minha queda,
Allah!
Por que me chamas
Pecador?
Apesar de seu extremo
pessimismo Omár Khayyán cultivava um ideal hedonista de vida. Incitava
seus contemporâneos à renunciar a tudo neste mundo: poder, fama, cargos e
dinheiro. Achava que esses desejos só traziam pertubação à alma, eram
indícios inexoráveis de infelicidade.
Renuncia a tudo
Neste mundo
Fortuna, poder, honrarias.
Desvia teus passos
De todo caminho
Que não te conduza à taberna
Nada peças, nem desejes,
Senão vinho, canções, música, amor!
Nobre e formoso mancebo,
Apanha o odre
E empunha a taça
Bebe
Mas, cuidado!
Não seja frívolo,
Não fales em vão
Para ele o afeto, o amor e a
compreensão são os alicerces da vida. “A vida é amor e nada mais”. O
mais importante na existência era conquistar o quinhão de ventura no
decorrer de cada dia e nos entregarmos a nossa amada com uma taça de
vinho nas mãos.
Também dizia que devemos ter
poucas necessidades. Se diariamente um homem consegue um pedaço de pão e
um pouco de água, por que deveria trabalhar para outro? Por que
precisa se humilhar diante de um estranho? Segundo ele, quanto mais
necessidades temos, mais dores e sofrimentos colhemos para o corpo e
para a alma. Dizia que na vida devemos ser livres e tranquilos.
Ele asseverava que não
devemos molestar, não odiar e não causar dano ou prejuízo a ninguém.
Temos que idealizar uma vida serena, em quietude suportando risonhos as
ofensas e todo horror das calúnias. Também não devemos culpar o destino
pelo mal de que padecemos e não devemos agradecer os céus pelos bens
que desfrutamos. Toda fatalidade, alegria ou tristeza que temos surge à
revelia. Tudo que ocorre no mundo é contingente.
Diante das tristezas e
percalços da vida aconselhava-nos a beber vinho. O vinho é exaltado e
enaltecido em quase a metade de suas poesias. Para ele, o vinho nos
abre as portas da percepção e não nos deixa alheios à vida, fazendo com
que satisfaçamos nossos instintos mais primordiais. Assim nos liberta
da dor, do sofrimento e nos propicia alegria e prazer.
Bebe vinho dourado
É repouso para o espírito
Bálsamo providencial
Para alma e coração ferido
Se fores assediado
Por um dilúvio de tristeza
Se te vires,
Por todos os lados,
Acometidos de pesares
Agarra-te, sem receio,
Ao delicioso vinho dourado
É o barco da salvação.
Em toda sua vida
Omar Khayyán só encontrou consolo na bebida e nas mulheres. Sentia-se
perplexo diante da incógnita da existência, era uma alma torturada em
busca da verdade. Não encontrou respostas as suas indagações, sentiu
depressão, angústia, desespero e acabou por se resignar. O vinho não era
uma fuga ou apenas um simples prazer dos sentidos, muito pelo
contrário, era um instrumento de êxtase místico para se atingir a
verdade. Uma verdade que ele nunca encontrou.
Bibliografia
khayyán, Omar. Rubáiyiát. São paulo: Martin Claret, 2005
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Fonte: http://filosofonet.wordpress.com/2012/04/25/omar-kahayyan-como-devemos-viver-a-vida/
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