Autor perambula pela história e cultura da depressão e mostra como as atitudes em relação à enfermidade se alteraram ao longo do tempo
O que é a depressão? Os gregos antigos acreditavam que a
condição resultava de um desequilíbrio entre os quatro humores do corpo:
sangue, fleuma, bile amarela e bile negra; sendo que um excesso desta
última resultava em um estado de espírito melancólico. A cristandade
primitiva culpava o diabo e a ira divina pelo sofrimento dos homens, e a
depressão era resultado dos esforços contra tentações mundanas e
pecados da carne. Na Renascença, ela era vista como uma doença de
estudiosos, como Robert Burton, autor de A Anatomia da Melancolia, que se dedicavam à especulação profunda e abstrata.
Neste bem pesquisado livro, Clark Lawlor, da Universidade
Northumbria, perambula pela história e cultura da depressão e mostra
como as atitudes em relação à enfermidade se alteraram ao longo do
tempo. Ele traz à vida diferentes escolas de pensamento sobre a questão,
e debate o papel do setor farmacêutico em categorizar e tratar doenças
mentais.
A parte mais instigante do livro cobre a ascensão da “nova ciência”,
quando o foco sobre a melancolia se deslocou mais uma vez. Muito disso
pode ser atribuído a Emil Kraepelin, um psiquiatra alemão que
co-descobriu o mal de Alzheimer, que postulava que patologias biológicas
subjaziam a cada uma das principais desordens psiquiátricas. O trabalho
de Kraepelin, contudo, foi rapidamente eclipsado pelo de Sigmund Freud,
cuja conclusão de que as doenças mentais advinham de causas emocionais
ao invés de físicas serviu de passe para a ascensão da tradição
psicanalítica europeia e americana do século XX.
"Organização
Mundial de Saúde, que entrevistou 89.000 pessoas, revelou que mais de
120 milhões de pessoas por todo o mundo sofrem de depressão, que por sua
vez é responsável por 850.000 suicídios todos os anos."
Essas duas visões ilustram boa parte do constante debate acerca da
patologia e tratamento das doenças mentais. Para alguns, a doença é uma
desequilíbrio na neuroquímica do cérebro passível de ser tratada com
remédio – uma deficiência de serotonina – que pode ser remediada por
inibidores seletivos de recaptação de serotonina como fluoxetina, mais
conhecida como Prozac, que foi receitada para mais de 35 milhões de
pessoas em todo o mundo desde seu lançamento em 1988. Para outros, a
depressão emerge como uma resposta a danos psicológicos, sendo que a
escola freudiana de psicoterapia em particular liga estes danos às
condições de criação do paciente.
Hoje cerca de 15% das pessoas nos países desenvolvidos sofrem de
depressão, e a doença não dá sinais de enfraquecimento. A recente
pesquisa de saúde World Mental Health Survey Initiative da Organização
Mundial de Saúde, que entrevistou 89.000 pessoas, revelou que mais de
120 milhões de pessoas por todo o mundo sofrem de depressão, que por sua
vez é responsável por 850.000 suicídios todos os anos.
A prescrição de pílulas se tornou um tratamento popular, em parte
porque é muito mais rápido que a duração de uma psicoterapia, que pode
levar meses ou até anos. Mas pesquisas mostram que uma abordagem
holística que trata tanto o corpo quanto a mente com uma combinação de
medicação e terapia de fala oferece os maiores benefícios de longo
prazo. O sucesso dessa abordagem sugere que tanto Kraepelin como Freud
estavam corretos.
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http://opiniaoenoticia.com.br/vida/saude/a-depressao-atraves-das-eras/27/05/2012
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