domingo, 18 de novembro de 2012

Democracia e desenvolvimento

Henrique Meirelles*

Iniciado o processo de mudança da liderança na China, a grande questão que se coloca é se esse sistema político centralizado será capaz de manter o desenvolvimento econômico do país ou se ele se tornará progressivamente um limitador desse desenvolvimento. 

Existe uma grande divisão hoje na sociedade chinesa entre a classe média afluente, demandando liberdade de expressão, criatividade e maior flexibilidade numa economia cada vez mais complexa, e um sistema político conservador, rígido, centralizado. 

Autoridades, economistas e investidores com quem conversei durante recente visita a China, Cingapura e Japão indagavam como vai evoluir o sistema político diante desse processo de demanda crescente da sociedade por abertura. E, não havendo abertura política, até que ponto a China continuará a manter as mesmas taxas de crescimento numa economia mais sofisticada que demanda gerenciamento cada vez mais complexo, diversificado e descentralizado? 

A história mostra que estágios iniciais de industrialização e crescimento são administrados de forma eficaz por regimes autoritários capazes de concentrar capital e foco de investimento, em que existe uma grande massa de mão de obra pouco educada e disponível para ingressar no mercado de trabalho e onde o bem-estar econômico e a possibilidade de um emprego melhor são mais importantes do que a liberdade de expressão ou a liberdade política. 
 
Entretanto, no momento em que a economia cresce e se sofistica, sua gerência torna-se mais difícil dentro do modelo centralizador. 

Esta é a razão pela qual, historicamente, países asiáticos bem-sucedidos como Coreia, Cingapura e Taiwan abriram gradualmente o regime, adotando democracia política e liberdade de expressão. Um sistema político e econômico descentralizado favorece muito o processo administrativo, de alocação de recursos e de pesquisa tecnológica, vitais para o crescimento a partir de certo estágio. 

Com sua economia cada vez mais complexa e tecnologicamente avançada, atingindo etapas superiores de valor adicionado, a grande questão na China é saber até que ponto o sistema político fechado conseguirá gerenciar este processo de forma continuadamente eficaz. 

Temos duas saídas possíveis nesse xadrez chinês: promover uma abertura política gradual, como aconteceu com os vizinhos, ou manter o centralismo decisório encontrando formas inéditas de administração descentralizada de uma economia complexa. 

Se nenhuma dessas vias se concretizarem, a eficácia geral da economia vai diminuir no longo prazo, reduzindo a vantagem competitiva da China hoje. 
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* Economista.
Fonte: Folha on line, 18/11/2012
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