Henrique Meirelles*
Iniciado o processo de mudança da liderança na China, a grande questão
que se coloca é se esse sistema político centralizado será capaz de
manter o desenvolvimento econômico do país ou se ele se tornará
progressivamente um limitador desse desenvolvimento.
Existe uma grande divisão hoje na sociedade chinesa entre a classe média
afluente, demandando liberdade de expressão, criatividade e maior
flexibilidade numa economia cada vez mais complexa, e um sistema
político conservador, rígido, centralizado.
Autoridades, economistas e investidores com quem conversei durante
recente visita a China, Cingapura e Japão indagavam como vai evoluir o
sistema político diante desse processo de demanda crescente da sociedade
por abertura. E, não havendo abertura política, até que ponto a China
continuará a manter as mesmas taxas de crescimento numa economia mais
sofisticada que demanda gerenciamento cada vez mais complexo,
diversificado e descentralizado?
A história mostra que estágios iniciais de industrialização e
crescimento são administrados de forma eficaz por regimes autoritários
capazes de concentrar capital e foco de investimento, em que existe uma
grande massa de mão de obra pouco educada e disponível para ingressar no
mercado de trabalho e onde o bem-estar econômico e a possibilidade de
um emprego melhor são mais importantes do que a liberdade de expressão
ou a liberdade política.
Entretanto, no momento em que a economia cresce e se sofistica, sua
gerência torna-se mais difícil dentro do modelo centralizador.
Esta é a razão pela qual, historicamente, países asiáticos bem-sucedidos
como Coreia, Cingapura e Taiwan abriram gradualmente o regime, adotando
democracia política e liberdade de expressão. Um sistema político e
econômico descentralizado favorece muito o processo administrativo, de
alocação de recursos e de pesquisa tecnológica, vitais para o
crescimento a partir de certo estágio.
Com sua economia cada vez mais complexa e tecnologicamente avançada,
atingindo etapas superiores de valor adicionado, a grande questão na
China é saber até que ponto o sistema político fechado conseguirá
gerenciar este processo de forma continuadamente eficaz.
Temos duas saídas possíveis nesse xadrez chinês: promover uma abertura
política gradual, como aconteceu com os vizinhos, ou manter o
centralismo decisório encontrando formas inéditas de administração
descentralizada de uma economia complexa.
Se nenhuma dessas vias se concretizarem, a eficácia geral da economia
vai diminuir no longo prazo, reduzindo a vantagem competitiva da China
hoje.
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* Economista.
Fonte: Folha on line, 18/11/2012
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