quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Torcida por Luis Fernando Verissimo

Juremir Machado da Silva*

Tenho torcido muito pela recuperação total de Luís Fernando Verissimo. Quero que todo ser humano tenha saúde e longa vida. Há 17 anos, voltando da França, critiquei Verissimo. Ataquei o seu estilo, que raramente me convence, o pouco engajamento do seu pai na luta contra todos os abusos da ditadura, não apenas contra a censura, e o esquerdismo do cronista, que, no contexto da queda do muro de Berlim e do inventário do estragos do stalinismo, parecia-me esdrúxulo e anacrônico. Não me arrependo de coisa alguma.

Por linhas tortas, minha vida só melhorou depois desse episódio. Devo dizer, no entanto, que, reflexão feita, num ponto ele tinha razão: a sua crítica à direita. O posicionamento político de Verissimo é digno de aplauso.

Não interessa se tardio ou nos bons tempos.

Na época da polêmica, por causa da qual perdi um emprego, eu, como o anarquista que continuo sendo, quis criticar o stalinismo e o direitismo ao mesmo tempo. Não era possível. O Brasil, mal saído da ditadura, não estava maduro para isso. Verissimo pragmaticamente mirava no alvo certo: o reacionarismo responsável pelos séculos de desigualdade, de miséria e de parasitismo das elites no Brasil. Continuo convencido, porém, de que Erico poderia, com seu prestígio, ter sido mais veemente na denúncia aos horrores do hediondo regime militar brasileiro, o que, de resto, muitos intelectuais e jornalistas cobraram dele. Cada homem, no entanto, como diria Ortega y Gasset, é ele e suas circunstâncias. Luís Fernando foi inflexível na defesa da memória do pai. Eu faria o mesmo em relação ao meu.

Outro ponto para ele.

Condeno apenas os métodos.

A direita odeia Verissimo. Odeia ainda mais na medida em que jamais pôde atingi-lo. Se pediu a sua cabeça aos patrões, como costuma fazer quando incomodada, obviamente não conseguiu, embora, vez outra, o patrão hesitasse. Parte da direita passou a gostar de mim por imaginar que, tendo me tornado desafeto dele, eu passava a integrar automaticamente as fileiras do reacionarismo. As simpatias posteriores à minha degola eram pura tentativa de cooptação. O meu ângulo de ataque, porém, havia sido outro. Por mais que meus inimigos duvidem, continuo não sendo de esquerda nem de direita. Sou libertário e teimoso. Só me guio pela minha consciência. Franco-atirador, não me importo de ser minha primeira vítima. A idade me ensinou, porém, que o anarquismo é poesia e que a realidade exige posturas mais práticas.

A esquerda brasileira é cheia de defeitos. A direita consegue ser bem pior. Verissimo, pelo jeito, compreendeu isso muito antes de mim. Sou mais lento. Essa polêmica marcou a minha vida do ponto de vista dos outros. Virei nota de rodapé na biografia de Verissimo. O resto é bola de neve: um golpe levou a outro e assim sucessivamente. Encontramo-nos três vezes depois da briga: dentro de um elevador em Belém do Pará, numa pontezinha de pedestres na avenida Ipiranga, em Porto Alegre, como se estivéssemos num clima de duelo, e em poltronas vizinhas num show. Não nos cumprimentamos.

Desejo cumprimentá-lo agora pela perspicácia política.
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* Sociólogo. Escritor. Prof. Universitário. Colunista do Correio do Pvo.
Fonte:  http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/29/11/2012
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