sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Saúde, Veríssimo!

Montserrat Martins*

Luis Fernando Veríssimo. Foto no site Pra Ler.

 Luis Fernando Veríssimo. Foto no site Pra Ler.

A inteligência do país esteve em risco quando Veríssimo foi hospitalizado em estado grave. Brecht já disse que há pessoas importantes por lutarem em alguns momentos e conclui que algumas são indispensáveis porque o fazem durante toda a vida. Luís Fernando Veríssimo é um incansável batalhador pela inteligência nacional, o que não costuma ser atribuído a ele porque suas armas são sutis, como quem plana suavemente sobre o cotidiano de todos nós, nos oferecendo observações irônicas, muito sofisticadas para que pareçam representar alguma causa.

Sua causa é a educação cultural, o senso crítico, a consciência social – que ele não nos cobra, nos seduz a ver. Somos eternos aprendizes de seus ensinamentos, de uma amplitude capaz de alcançar desde a sua própria geração até a dos jovens de hoje. Ao invés do senso comum moralista ou superficial, a capacidade de nos mostrar nossas fraquezas cotidianas, nossas hipocrisias e contradições. Até a futilidade nele atingiu sua mais alta graça, nas passagens fulgurantes por suas páginas de Dorinha, a socialite socialista. Os sagazes investigadores ganharam mais humildade, com Ed Mort, e os psicanalistas mais objetividade, com o Analista de Bagé.

Nele a leveza não é superficial, é calculada como o modo de nos atingir no âmago, pois a digerimos sorrindo. E é justamente por sua calculada leveza, por sua sutil profundidade, que Veríssimo abriu todas as portas da comunicação brasileira – contribuindo com jornais, revistas, publicando livros e até tiras das Cobras (mesmo sempre dizendo não saber desenhar). Já teve atividades tão variadas que incluem desde equipes de redação para programas de TV, ou cobrir a Copa do Mundo para a Playboy.

Com a autoridade que o conhecimento e a sabedoria lhe conferiram ao longo do tempo, foi adquirindo o direito de dizer o que ninguém mais poderia – chegou a confessar que já escreveu horóscopo, no início da carreira, e não causaria estranheza se fosse autêntica uma frase sua usada como post no facebook, “às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”. Para quem conquistou espaços nobres nos maiores jornais não só do sul como do centro do país, ironizar o próprio meio que o consagrou seria um exemplo extremo do grau de liberdade que ele, sedutora e audaciosamente, atingiu.

Em 2012 o próprio Veríssimo escreveu seu lamento pela perda do Millôr e Ivan Lessa, gênios da categoria dele, o que o fez se sentir mais solitário, podemos imaginar. Agora chega, 2012, você já nos tirou demais, ainda precisamos – e muito – do Veríssimo, de preferência por largo tempo, para nos ensinar a pensar criticamente, com inteligência e graça. Não estamos prontos para ficarmos órfãos do nosso grande mestre. Saúde, Veríssimo, por ti, por tua família. E por todos nós.
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* Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
Fonte:  http://www.ecodebate.com.br/2012/11/30/saude-verissimo-artigo-de-montserrat-martins/

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