Gilles Lapouge*
O presidente François Hollande é tido como uma pessoa
indecisa, insegura e medrosa. A fama é justa? Em política externa, ele
não corresponde a esse retrato. Ao contrário. Hollande consegue resistir
ao impacto de buldôzeres como a alemã Angela Merkel, de se atirar de
peito aberto, por exemplo, no Oriente Médio, esse formigueiro de
problemas, de hostilidades, de fronteiras e trincheiras, enquanto a
maior parte das outras potências corre para o abrigo.
Foi o que o presidente fez, dias atrás, ao reconhecer na frente de
todos a Coalização Nacional Síria, que agrupa os rebeldes em luta contra
o ditador Bashar Assad. E agora ele recomeça. Anunciou que votará na
ONU em favor da solicitação apresentada pelo presidente da Autoridade
Palestina, o líder da Fatah, Mahmoud Abbas.
O que pede Abbas? Ele reclama para a Palestina o status de Estado
observador da ONU, conceito ambíguo e nebuloso, melhor do que o simples
assento provisório de observador, que a Palestina já ocupa há anos, mas
bem inferior a uma verdadeira cadeira na ONU.
A questão é bem delicada. A Palestina está dilacerada entre duas
tendências, o Fatah, de Abbas, que exerce a diplomacia e reprova a luta
armada e o terrorismo. E o Hamas, que controla a Faixa de Gaza e jamais
renunciou à luta armada. Por que Abbas apela à Assembleia-Geral e não ao
Conselho de Segurança da ONU? Porque na Assembleia ele dispõe de uma
maioria, graças aos países do sul, enquanto no Conselho de Segurança, os
EUA, que são o principal aliado de Israel, vetariam imediatamente
qualquer solicitação da Fatah.
Para Abbas, seria importante nesse embate contar com o apoio de
algumas potências ocidentais, particularmente na Europa. Por isso, a
posição da França faz sentido: Paris poderá convencer, pelo exemplo,
outros membros da União Europeia.
A decisão de Hollande já mostrou um primeiro resultado. A Espanha
apoia agora a solicitação de Abbas. Madri reconhece que a decisão de
Paris funcionou como uma alavanca e levou a Espanha a dar o grande
passo. A Grã-Bretanha será a próxima? O premiê David Cameron hesita. Mas
ele precisa levar em conta a opinião pública do seu país- 54% dos
britânicos aprovam a reivindicação palestina.
Duas ou três outras capitais europeias afirmam estar dispostas a dar
também seu apoio a Abbas. Mas há um grande bloco do países favoráveis à
abstenção, com a Alemanha à frente.
Em Israel, predomina a moderação. Em primeiro lugar, porque Abbas é
uma pessoa confiável, ao contrário dos líderes do Hamas da Faixa de
Gaza. Em segundo lugar, porque a mudança de estatuto da Palestina não
mudaria profundamente a atual situação. Certamente, o novo status
palestino permitiria acesso às agências da ONU, como a Unesco. Mas, para
o governo israelense, isso não constituiria um motivo para declarar
guerra.
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* Jornalista e escritor francês.
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,paris-diz-sim-a-palestinos-,966745,0.htm
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