segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Eduardo Chaves - Entrevista

Especialista defende a inserção de
 novos conteúdos e
o uso da tecnologia para
 motivar alunos

"O importante não é ler Machado de Assis. O importante é saber ler”
Eduardo Chaves*

Favorável à diminuição dos conteúdos obrigatórios no currículo escolar, o especialista em educação e tecnologia Eduardo Chaves defende a inserção de novos temas nas escolas. Na avaliação do membro do conselho do programa Parceiros na Aprendizagem, da Microsoft, a quantidade de informações disponíveis hoje modificou a forma como as pessoas absorvem o conhecimento. “Quando os alunos têm uma dúvida fora da escola, eles não esperam chegar o outro dia para tirá-la com o professor. Eles entram na internet e pesquisam”, observa.
O consultor acredita que a escola terá que se dar conta de que as pessoas estão ligadas à tecnologia e que não faz mais sentido ficar o dia todo dentro de sala para aprender determinados assuntos. Na avaliação do especialista, a educação personalizada é um passo importante. Para torná-la real, é preciso começar a inserir conteúdos de acordo com o que o aluno se demonstra interessado, a fim de motivá-lo, e depois introduzir um novo universo.
Em entrevista exclusiva ao Correio, Eduardo Chaves fala sobre como professores e alunos se relacionam com os meios tecnológicos e pontua os impactos dessas ferramentas para o aprendizado.

Revolução educacional

Como os educadores encaram a cultura tecnológica?
Existe toda uma gama de comportamento em relação à tecnologia, desde os professores que se recusam a usá-la até aqueles que investem tanto no aprendizado com tecnologia que se tornam especialistas no uso dela para a educação. Há ainda uma turma que se encontra no meio disso. Faz aquilo que às vezes é mais fácil. Como em todas as áreas, há muita variação. O importante é que há hoje uma parcela significativa de professores fazendo trabalhos bastante interessantes de uso da tecnologia na educação. Mas há um campo grande que precisa ser incentivado eventualmente.

De que forma os professores se apropriam e aplicam essas contribuições tecnológicas no processo de ensino?
Há professores que precisam fazer um curso; outros compram um computador para começar a fuçar e explorar até aprender; e tem pessoas que às vezes compram o equipamento, fazem um curso pequeno, encontram alguém que funciona como mentor ou pessoa que ajuda. O inte-ressante é que hoje muitos professores são ajudados na sua apropriação à tecnologia pelos filhos. Os jovens às vezes sabem mais do que os pais. Muitas vezes, os professores aprendem com os mais novos.

O que o uso da tecnologia proporciona aos alunos?
A tecnologia permite o acesso à informação e permite a comunicação, seja do aluno com o professor, do estudante com seus colegas ou com outra pessoa que pode ajudá-lo a aprender melhor. Os principais usos da tecnologia na aprendizagem têm a ver com o acesso à informação e formas de comunicação. Entre as formas, há aquela de divulgar o que você está fazendo. Muitos alunos hoje fazem poemas, blogs, narrativas sobre vários assuntos de seus interesses e gostam de divulgá-los na internet. Depois, eles recebem feedback, críticas e apoio.

Ferramentas como Orkut e Facebook são favoráveis ou prejudiciais à educação?
As novas tecnologias exercitam a leitura e a escrita. Quem tem uma página no Orkut ou no Facebook lê e escreve um bocado de coisas. O problema é que a maior parte das escolas não considera isso como uma leitura significativa. Elas gostariam de ver os alunos lendo um livro até o fim, exigindo uma certa força de vontade e persistência, o que é importante. Mas também não se pode negar que, mesmo escrevendo em pequenos pedacinhos, ainda que num português meio abreviado, os alunos estão aprendendo a se expressar.

Como os professores devem agir com relação às novas tendências?
Com muita tolerância. O importante não é ler Machado de Assis. O importante é saber ler. Eventualmente, os alunos podem vir a ler Machado de Assis, mas podem ler Senhor dos anéis e essas outras literaturas. Uma vez dominada a competência, é uma questão de direcionar o gosto e expor as pessoas a coisas diferentes para ver se elas se interessam.
*Especialista em educação e tecnologia.
Fonte: Correio Braziliense. 09/11/2009

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