O especialista em inteligência artificial
David Levy
diz que as máquinas existem para
dar conforto e
bem-estar ao homem
O ex-enxadrista escocês David Levy, 64 anos, é um dos maiores especialistas do mundo em inteligência artificial. Ele acaba de ganhar, pela segunda vez, o prêmio Loebner, considerado o Oscar da robótica na categoria melhor "chatbot" - contração em inglês de "robô" e "conversa". É justamente isso que faz a máquina que ele criou, a "Do-much-more" (Faz muito mais). O trabalho pode ser decisivo para o progresso da relação entre humanos e esses seres artificiais de alta tecnologia. A seguir, o cientista antevê o futuro dessa intensa - e surpreendente - parceria.
ISTOÉ - Como o sr. começou a estudar a inteligência artificial (IA)?
David Levy - Quando me formei, em 1967, era considerado um jogador de xadrez de talento. Além disso, já trabalhava no Departamento de Ciências da Computação da Universidade de Glasgow (Escócia). Esse casamento levou aos jogos de xadrez contra máquinas, algo totalmente relacionado à IA.
ISTOÉ - O sr. ainda joga por diversão?
Levy - Não, meu último torneio foi a Olimpíada de Xadrez de 1978.
ISTOÉ - Quais avanços tecnológicos são fundamentais para aprimorarmos nossa interação com os robôs?
Levy - O ponto mais complicado é a conversação entre homem e máquina, sobretudo o reconhecimento de voz. Sem isso, os robôs não interpretam nem replicam as emoções humanas.
ISTOÉ - Qual o foco do seu trabalho?
Levy - Minha empresa (Intelligent Toys) deixou de investir no desenvolvimento de brinquedos devido à limitação tecnológica. Estamos aprimorando sistemas de conversação entre homens e robôs.
ISTOÉ - O governo japonês está investindo em robôs capazes de auxiliar idosos no dia a dia. O que o sr. acha disso?
Levy - A ideia é excelente. A porcentagem de idosos continuará a crescer e os japoneses perceberam que não haverá humanos suficientes para cuidar deles. Os robôs são a melhor alternativa.
ISTOÉ - Em seu livro mais recente, "Love and Sex with Robots" ("Amor e Sexo com Robôs", de 2007), o sr. afirma que começaremos a nos casar com robôs em 2050. A previsão se mantém?
"Amaremos os robôs assim como hoje
nos apaixonamos por carros"
David Levy, cientista
Levy - Sim. E faremos sexo com as máquinas dentro de três ou quatro anos. Milhões de curiosos e solitários procurarão esse tipo de relacionamento. Basta programar um robô com as características que se quer.
Robô-foca
Auxílio na recuperação de pessoas
com traumas psicológicos
ISTOÉ - O que levaria alguém a se apaixonar por uma máquina?
Levy - As mesmas razões que levam pessoas a se apaixonarem por aparelhos eletrônicos ou carros.
ISTOÉ - Quais são os riscos da relação?
Levy - A única questão delicada é a ansiedade que alguns homens podem desenvolver por não conseguirem satisfazer suas mulheres com a mesma facilidade que uma máquina.
ISTOÉ - Os robôs poderiam ser transformados em escravos sexuais?
Levy - Por definição, escravos só podem ser humanos. Na verdade, acredito que os robôs nos ensinarão novos segredos da arte de fazer amor. Eles serão como um "Kama Sutra" ambulante.
ISTOÉ - Eles podem ajudar a acabar com a prostituição?
Levy - Na Coreia do Sul, onde a prostituição é ilegal, já existem as chamadas "salas de experiência com bonecas". Para mim, algo extremamente natural e indicado a quem está sozinho. Esse é um passo decisivo para reduzirmos o número de prostitutas.
ISTOÉ - O combate à pedofilia contará com ajuda semelhante?
Levy - Claro, seria muito melhor se os pedófilos tivessem robôs à disposição.
ISTOÉ - Vamos imaginar que alguém faça sexo com um robô alheio sem permissão. Isso seria estupro?
Levy - Essa é apenas uma das questões que nossos legisladores terão de enfrentar nas próximas décadas.
ISTOÉ - O sr. se relacionaria com robôs?
Levy - Não, eu ficaria pensando o tempo todo em detalhes e no funcionamento da relação. Mas apenas um pequeno grupo de indivíduos pensaria em tecnologia nessa hora. Acredito que a maioria vai encarar o casamento com robôs de forma natural.
Reportagem de HÉLIO GOMES, revista ISTO É, nº2086 - 04 NOV 2009
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