quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Uma coisa lhe falta

Nathan Stone*

 
A história do jovem rico é única em seu gênero para destacar a tristeza profunda de uma vida boa mas medíocre. Assim como no futebol, um quase gol não vale nada.
À primeira vista, poderíamos pensar que a acumulação de riqueza é que é o problema. Além disso muitos pobres que não contam com o suficiente para viver, deve-se reconhecer que, em nosso mundo, há muitos exemplos de pessoas com muito dinheiro e pouca felicidade.
Aqueles que têm muitas coisas precisam tomar precauções pelo temor a perder. Para eles, a segurança é sempre um tema. Dos três votos na vida religiosa, meu favorito é a pobreza. Francisco de Assis sabia disso. Pobreza é liberdade. Sentir-se ia prisioneiro em nosso mundo moderno, onde tudo gira em torno ao dinheiro.
No entanto, o encontro de Jesus com o homem rico no evangelho não é sobre o que sobra ao homem, senão o que lhe falta. Tem tudo, mas carece do essencial. O que lhe falta? Sempre cumpriu com todos os mandamentos. Muitos fiéis vivem sob a falsa ilusão de que se trata disso. Mas uma vida de mandamentos cumpridos é quase um gol.
Falta-lhe valentia, talvez. Não sabe como seria sua vida sem seus bens. Sofre com o temor ao desconhecido. Cedo ou tarde todos entram no desconhecido; alguns, esperneando, e outros, em paz. A valentia se faz. A educação esportiva visa isso, aprender a dar tudo no campo agora, para saber jogar com tudo na vida depois
Falta-lhe capacidade de renúncia. As ideologias contemporâneas ensinam que se deve ficar com tudo. Renunciar a uma pessoa para ir-se com a outra é anátema. Decidir-se por uma vida num lugar com certas pessoas, quando significa fechar a porta a todas as outras vidas possibilidades, é algo que nos custa. A fase adulta se vê postergada, porque ensinamos aos jovens que eles devem tomar um caminho sem renunciar aos outros. Eles vêem que é impossível, e ficam sentados no cruzamento.
Falta-lhe render-se. Não consegue deixar-se levar. Quer controlar tudo, ser proativo. Crê que assim será mais feliz. Mas vai triste. Os que pretendem controlar tudo vão frustrar-se. Não é um castigo do Senhor por serem teimosos . É que pretendem fazer algo que é impossível. Deixar-se chamar e saber responder: nisso consiste a sabedoria.
Falta-lhe compromisso. Às vezes, pretendemos criar compromisso insultando as pessoas, como que por temor à burla e ao desprezo, possam chegar ao ardor apaixonado por uma causa. Não. O compromisso é a resposta do homem diante de um amor maior. Entra numa aliança, e deixa tudo por amar da mesma maneira. Ao jovem rico, falta-lhe amor, e vai embora triste. O convite já foi feito. Jesus o convida a ser feliz.
*Nathan Stone. Sacerdote jesuita, mestre em literatura e teólogo.
Fonte: Mirada Global

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