Mirian Paura S.Z. Grinspun*
RIO - Estamos vivendo em clima de plena euforia pelos jogos da Copa do Mundo. Todo o mundo parece que se concentra numa festa sem precedente, desde a organização de muitos anos anteriores , até os dias que antecedem os jogos e a grande festa propriamente dita.
Nesse sentido, gostaria de chamar a atenção para voltarmos nossos olhares para relação da escola com a Copa do Mundo. Não só na referência aos jogos que acontecem, mas a oportunidade significativa de aproveitarmos este momento para discutirmos no projeto político pedagógico as diferentes questões que a Copa envolve. Desde a análise de questões políticas, históricas, culturais, sociais, até inúmeras questões pertinentes ao multiculturalismo e suas implicações.
Uma série muito ampla de dados (isolados ou não) podem e devem ser trabalhados pelos professores aproveitando a Copa do Mundo como incentivo. Por exemplo, por que a mesma produz tantas e diferentes participações das crianças, jovens e adultos? Será a esperança de vencer o incentivo maior de uma competição como essa?
Gostaria de focar em uma área que pode ser desenvolvida neste momento, dentro da escola, que é a questão dos valores. Que valores estão explícitos e implícitos numa Copa do Mundo? O que é ser um bom jogador? Quem e como se estabelecem regras nos jogos e na vida, de um modo geral? O que significa liderança, respeito, solidariedade, coragem, garra, vontade, certo, errado, competitividade e tantos outros aspectos que estão envolvidos com os jogadores e países participantes, dentro e fora do campo?
De Nietzche a Foucault e Lacan, teríamos a fundamentação teórica necessária para evidenciar a importância dos valores, que, na realidade, como diz Morente, não existem, mas eles valem pelo que são. Não estou propondo ensinar valores e sim discutir e analisá-los.
Ao falarmos, por exemplo , em violência no campo, no gramado, nas arquibancadas, podemos discutir o significado e a razão de tanta violência nos dias atuais. Falarmos em violência, culpar a somente a mídia por notícias violentas e agressivas é muito pouco. Vivemos um tempo de mudanças irreversíveis, em que predominam os valores econômicos sobre outros valores como o respeito e a solidariedade.
A Copa do Mundo, mais do que um jogo de futebol, pode tornar-se, na escola, e fora dela, também, um jogo pedagógico , ao passo que a bola que rola no campo possa ser trabalhada como uma bola de valores que jogamos a todo momento em nossas vidas. Nessa partida eu gostaria, e muito, de marcar um gol.
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*Mirian Paura S.Z. Grinspun é professora da Uerj. Fonte:Jornal do Brasil, online - 20/06/2010
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