quarta-feira, 30 de junho de 2010

'Le Monde' de pernas curtas...

Trio de empresários conquista controle do jornal
 'Le Monde'

Ben Hall, Financial Times, de Paris

Um trio de empresários venceu, ontem, a disputa pelo controle do "Le Monde", o mais influente jornal diário francês, depois que um consórcio rival que incluía a France Télécom e a Prisa da Espanha retirou sua proposta.

Matthieu Pigasse, um banqueiro do Lazard; Pierre Bergé, ex-sócio da Yves Saint Laurent; e Xavier Niel, o bilionário das telecomunicações, concordaram em investir € 110 milhões (US$ 135,5 milhões) no jornal, em troca de seu controle.

A France Télécom e Claude Perdriel, dono da revista "Le Nouvel Observateur", disseram que vão desistir da proposta conjunta com a Prisa, a companhia de mídia espanhola, depois que ela foi rejeitada em votação feita pela equipe do "Le Monde" na sexta-feira.

O conselho supervisor do "Le Monde" não tinha muita escolha, ontem, a não ser aceitar a proposta restante, uma vez que o diário corre o risco de ficar sem caixa no mês que vem se não for recapitalizado urgentemente.

O "Le Monde" teve prejuízo de € 25 milhões no ano passado e seu endividamento é de cerca de € 100 milhões. Assim como outros jornais de várias partes do mundo, ele foi vítima da queda das receitas com anúncios e da mudança dos hábitos de leitura. Mas seus problemas também foram agravados pelo endividamento pesado e por uma estrutura de controle complexa pelos seus jornalistas, o que garantia a independência editorial, mas tornou o jornal lento nas necessidades de adaptação.

Os jornalistas do "Le Monde" esperavam originalmente perder a tão prezada independência editorial como resultado do takeover, mas parecem ter garantido um bom acordo.

O consórcio prometeu preservar o poder de veto da equipe sobre as escolhas do editor e de qualquer takeover posterior. Os jornalistas poderão manter uma minoria com poder de veto no conselho, através de uma fundação. A circulação paga do "Le Monde" caiu para menos de 300 mil exemplares, mas o jornal continua influente, especialmente entre a elite.

A vitória de Pigasse, Bergé e Niel é um golpe para Nicolas Sarkozy, o presidente francês que interferiu na recapitalização para tentar frustrar a proposta dos três. Sarkozy convocou Eric Fottorino, o editor do "Le Monde", ao palácio do Eliseu este mês e ameaçou retirar os subsídios estatais à impressão do jornal se o trio vencesse a disputa. Sarkozy tinha objeções a Niel, que começou a fazer sua fortuna investindo na área de entretenimento adulto. Mas os motivos do presidente provavelmente eram mais de ordem política, dada a simpatia nutrida por Pigasse e Bergé pelos oponentes socialistas de Sarkozy, e sua determinação de não aceitar ordens do palácio do Eliseu.

Os jornalistas ficaram furiosos com a interferência de Sarkozy e desconfiados do envolvimento da France Télécom, que é controlada em 26% pelo governo francês.
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Fonte: Valor Econômico online, 29/06/2010

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