Horacio Rosenthal*
Para se comunicar bem, você tem que usar a linguagem adequada. Várias escolas falam uma língua que usa muitas palavras do português, mas não diz nada para os pais e alunos. É o pedagogês. Leia, por exemplo, as expressões a seguir:
• “O trabalho busca uma relação que não se reduz à integração artificial das disciplinas”
• “A contextualização revitaliza competências cognitivas já adquiridas”
• “A escola utiliza vários instrumentos de verificação da aprendizagem como forma de analisar o nível de conhecimento dos alunos e planejar estratégias de ensino”
Se elas fazem parte do seu vocabulário, então você está precisando urgentemente de um tradutor.
Seria exagero imaginar pais conversando assim para escolher a escola de seus filhos. No entanto, é assim que muitas escolas se comunicam e ficam bravas quando os pais não entendem o que elas falam.
Não é fácil sair dessa situação. A maior parte das escolas que se comunicam mal pensa que se comunica bem. Sem uma mudança de paradigma, essas escolas vão continuar falando pedagogês para si mesmas por um bom tempo, sem considerar o público a quem estão se dirigindo.
Como as escolas acabam criando esta linguagem própria tão peculiar? A receita não é complicada. Misturam sólidos conceitos pedagógicos da direção, juntam uma forte contribuição teórica da coordenação, temperam com um punhado de valores consagrados, e está pronto: é só servir. Com o tempo, todos incorporam naturalmente o jargão da escola ao seu modo de comunicar. O resultado é um discurso hermético que faz sentido para os profissionais da escola, mas que não diz coisa com coisa para os pais e alunos, principalmente para os de fora. Por que de fora? O que faz uma escola crescer são sempre os clientes de fora. O problema de linguagem tem graus variados de seriedade. Se a escola tem um problema de linguagem, mas está em paz com os pais, as coisas não estão tão graves. Se o problema de linguagem está comprometendo a imagem da escola, a situação tende a se complicar. Se o problema de linguagem é agudo no presente e tende a piorar no futuro, aí é mais sério, é hora de fazer alguma coisa. Uma das principais funções dos profissionais de comunicação é justamente, dependendo do contexto, definir o tipo de intervenção a ser feita.
Enquanto isso, entretanto, algumas recomendações gerais podem ser feitas. A primeira delas é dar bastante atenção aos comunicados da escola. O ideal seria que os pais e alunos fossem convidados a avaliá-los, mas isso é impraticável. Sendo assim, se a escola quer ser compreendida e acreditada, a saída é ela mesma fazer a sua própria auditoria e definir critérios para oferecer uma comunicação límpida, espontânea e clara, como alternativa à informação para quem só entende pedagogês. A segunda, é cuidar para que todas as pessoas dos vários setores da escola libertem-se da “camisa de força” do pedagogês e aceitem o novo padrão de comunicação. Daí vem um conjunto de ajustes de bom-senso, que serão aplicados conforme o meio. A escola tem vários meios que recorre para se comunicar com os pais e alunos: carta, circular, folheto, bilhete em agendas, apresentação, mural, jornal interno, boletim eletrônico, site, etc. Utilizar a linguagem adequada é essencial para a boa c omunicação em cada um deles. O refinamento da maneira com que a escola se comunica com os seus diferentes públicos se completa quando se encontra o máximo de simplicidade. É nesse ponto que se alcança a competência da comunicação da escola. É nesse ponto também que a competência da escola se completa.
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*Horacio Rosenthal, publicitário, assessor de marketing educacional e autor do blog: www.educa-hr.blogspot.com
Fonte: Mestre - Jornal virtual - Ano 8 - Nº 170 - 18/06/2010
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