terça-feira, 1 de maio de 2012

Três em cada quatro brasileiros se sentem felizes com trabalho


Contentamento atinge assalariados, empregadores, autônomos e informais; 88% convivem bem com chefe
Dois terços ganham no máximo dois salários mínimos; para metade dos trabalhadores, salário é adequado 
GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA

Dois em cada três trabalhadores do país não ganham mais do que dois salários mínimos mensais; três em cada quatro estão felizes ou muito felizes com seu trabalho.
Pesquisa realizada pelo Datafolha mostra que, a despeito da renda modesta e da conjuntura de calmaria econômica, o contentamento com o trabalho é generalizado e superior ao declarado no início da década passada.
De 1.574 entrevistados nos dias 18 e 19 de abril, 61% afirmaram estar felizes em suas ocupações, e 16%, muito felizes. A margem de erro é de três pontos percentuais.
Quando o mesmo questionário foi aplicado em novembro de 2001, a porcentagem dos mais entusiasmados foi idêntica, mas os demais somavam apenas 45%.
Tal felicidade, apurada entre assalariados, informais, autônomos e empregadores, pode ser expressada em termos menos abstratos.
No período, a parcela dos que não temem o desemprego aumentou de 63% para 73%; os que classificam seu relacionamento com os colegas como ótimo ou bom passaram de 89% a 93%; com o chefe, de 83% para 88%.
Em proporções compreensivelmente menos generosas, a satisfação com a remuneração também mostra progressos: para 48%, ela está de acordo com o trabalho exercido, um empate técnico com o grupo dos que acham que recebem abaixo do merecido.
Pouco mais de dez anos atrás, os insatisfeitos estavam em maioria de 53%. 

MELHORA DO MERCADO
De lá para cá, as transformações do mercado de trabalho brasileiro proporcionaram uma melhora mais visível e duradoura que a da maioria dos demais indicadores econômicos do país.
Superada a turbulência financeira que marcou a transição entre os governos FHC e Lula, a oferta de novas vagas e o aumento da renda, apurados pelo IBGE nas seis principais regiões metropolitanas, seguem trajetórias quase ininterruptas.
A taxa de desemprego chegava aos 11,5% em novembro de 2001, quando o Brasil sofria os impactos do colapso político-econômico da Argentina e dos atentados terroristas contra os EUA.
Hoje, enquanto a crise originada nos países desenvolvidos interrompe o ensaio de retomada do crescimento nacional, o desemprego se mantém ao redor dos 6%, nos menores patamares do período.
Já o rendimento médio das pessoas ocupadas cresceu mais de 60% acima da inflação, para R$ 1.705 mensais. 

DESIGUALDADE
Os números evidenciam, porém, que a felicidade com o trabalho transcende a segurança profissional e o conforto material. Um sinal é que, mesmo na crise do final de 2001, os felizes eram maioria.
Outro é que a distribuição da felicidade é muito menos desigual que a da renda: os felizes e muito felizes são 73% entre os que têm renda familiar até dois mínimos (R$ 1.244) e 90% na faixa acima dos dez mínimos (R$ 6.220). 

Opinião 

O que explica tanto amor pelos superiores?

XICO SÁ 
COLUNISTA DA FOLHA
 
O amor na firma é lindo, mas amar o próprio chefe, no grau revelado pela pesquisa, é como se declarar ao carrasco com a corda no pescoço.
Tudo bem, sempre tive desejo pelas minhas superioras mais poderosas. Só a elas, nunca às chefias masculinas, obedeci com todos os sins e améns. Pura perversão. Talvez vontade de inverter o mando no campo amoroso.
Karl Marx (1818-1883) talvez explique em algum compêndio sobre luta de classes -lembre-se que uma das suas empregadas domésticas, a jovem Helen, o amava e com o barbudo teve um filho.
O que explicaria tanto amor pelos superiores? Mais um traço da cordialidade? Submissão atávica? Canalhice trabalhística: diz que ama, mas no fundo detesta? Talvez um pouco disso tudo.
Uma canalhice que o amado retribui na hora de demitir. "Você é excelente, mas, infelizmente, vai pra rua da amargura", diria o perverso, olhando a fotinha do teu crachá, ainda jovem e saudável. Nada mais revelador do estrago que nos faz o emprego. O trabalho danifica o homem, diz o mantra de botequim.
Só 2% parecem odiar seus comandantes. Tanta fidelidade assim nem mesmo na máfia de dom Corleone no auge.
Se somente o amor constrói, o Brasil será, mais breve do que imaginamos, a maior potência do mundo. Basta converter esse afeto em Produto Interno Bruto.
A dúvida que fica: o amor declarado oficialmente bate com os queixumes do "Datacafezinho" ou o do Databoteco"? É quando realmente somos sinceros. Coitada da mãe do chefe nessa hora. 
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Fonte: Folha on line, 01/05/2012
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