Sara Maitland deixou tudo para unir-se a seu grande amor - o silêncio
-, mudando-se de Londres para uma cabana numa planície remota da
Escócia e com quilômetros de vistas para o nada. A autora inglesa, que
vive em Galloway, passou antes por longos períodos de introspecção e
solitude a fim de pesquisar e escrever "The Book of Silence" (Granta
Books), isolando-se em diferentes regiões do mundo, dos vales verdes no
interior da Inglaterra às tempestuosas colinas escocesas ou o deserto do
Sinai. A jornada culminou num profundo relato sobre a história cultural
do silêncio, no qual trata, com delicadeza e paixão, das dimensões
religiosa, mística, artística e psicanalítica do assunto. É um livro
delicioso para quem deseja conhecer o que a literatura, a poesia e a
ciência registram sobre o poder da quietude.
Casada por 20 anos com um pastor anglicano, de quem se divorciou nos
anos 1990, a católica praticante, socialista e feminista Sara faz no
livro relato autobiográfico para explicar como surgiu o fascínio pelo
silêncio. Criada numa ruidosa família de seis irmãos, na qual todos
falavam alto e ao mesmo tempo e o recolhimento individual simplesmente
não era permitido, ela conta como se tornou escritora e foi atraída pela
alegria da liberdade e da solidão quando seu casamento já estava
desmoronando, no fim dos anos 80.
"Em
nossa cultura obcecada pelo barulho é muito fácil esquecer quantas das
maiores forças das quais dependemos são silenciosas - gravidade,
eletricidade, luz, marés, o não visto e não ouvido girar do cosmos. A
terra gira, e gira rapidamente. Gira ao redor de seu eixo a cerca de
1.700 quilômetros por hora (no Equador); ela orbita ao redor do Sol a
107.218 quilômetros por hora. E todo o sistema solar gira através da
galáxia a velocidades que eu mal ouso pensar. A atmosfera da terra
também gira com eles, e é por isso que não sentimos o girar. Tudo
acontece silenciosamente", escreve Sara.
Ela não respondeu aos pedidos de entrevista do Valor.
Seu assessor na Granta gentilmente disse que tentaria outra vez
contatar a escritora, mas possivelmente não haveria resposta, já que ela
permanecia "desconectada, em seu lugar de isolamento". Mas em seu site (www.saramaitland.com),
o leitor é informado de que, no lugar onde mora com seu border terrier
Zoe, tendo por vizinho só um bando de corujas, ela "escreve, ora e é
feliz". Um conflito grave, contudo, tem tirado a sua paz: a notícia de
que uma usina de energia eólica deve ser instalada nas proximidades,
para tirar proveito da força dos ventos uivantes, uma das poucas
sinfonias que fazem parte da intimidade de Sara.
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Reportagem Por Marília de Camargo César | De São Paulo
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