Vem de um arquipélago no sudeste asiático um dos cinemas mais
instigantes da atualidade. As Filipinas já foram um dos maiores
produtores de filmes do mundo, com 200 longas por ano – mas hoje o
destaque é a qualidade das obras de cineastas como Brillante Mendoza,
Lav Diaz e Raya Martin. Aos 52 anos, Mendoza é o realizador filipino
mais reconhecido internacionalmente, tendo recebido prêmios como o de
melhor diretor no Festival de Cannes por Kinatay (2009). Seu penúltimo
filme, Em Nome de Deus (2012), está em cartaz na Capital no Instituto
NT. Estrelado pela francesa Isabelle Huppert, o excelente drama é
inspirado em um evento real: em 2001, um grupo guerrilheiro filipino
islâmico sequestrou os hóspedes de um resort de luxo, iniciando um longo
período de fuga pela selva. Nesta entrevista, Mendoza fala com
exclusividade a ZH sobre seu cinema.
Zero Hora – Como foi filmar Em Nome de Deus na selva? Quais foram os maiores obstáculos?
Brillante Mendoza – Em Nome de Deus mostra um dos problemas sociopolíticos que empestam a sociedade filipina. O tema complicado é o resultado de camadas entrelaçadas de fatos e ficção. Minha intenção foi mostrar uma tapeçaria de emoções e comportamentos que explicasse por que esse ato covarde foi cometido. Mas, no fim, o que deveria prevalecer eram as decisões e convicções das pessoas de fazerem o bem ou o mal. Filmar em uma selva é muito desafiador simplesmente porque você não controla os elementos naturais. Mas o melhor de lidar com a natureza é o elemento surpresa. Fiz uso desses elementos no filme para acrescentar a beleza da espontaneidade e da naturalidade. Acolho esses momentos de surpresa como um presente da natureza. Eu os capturo e faço deles parte do meu filme. O maior desafio foi apresentar a história de uma maneira factual e objetiva, em que ninguém fosse estigmatizado ou demonizado. Todos os eventos foram baseados em fatos e pesquisados.
ZH – Você tem Isabelle Huppert no filme, uma grande estrela. Como foi trabalhar com ela? Ela se adaptou facilmente ao seu método?
Mendoza – Foi uma experiência incrível dirigir Isabelle Huppert. Ela é uma grande e generosa atriz, muito profissional. Sabe o que quer com exatidão, mas generosamente. Uma vez que a cena era explicada, ela dava tudo. Sabe como se colocar e tem um profundo entendimento de sua arte. Acho que ela se surpreendeu mais com meu estilo porque confio nos meus instintos quando filmo. Permito que as coisas se desenrolem em cena e que os elementos simplesmente cresçam e brilhem. Não vejo as cenas específicas de Isabelle, olho para o total de sua performance no filme do princípio ao fim. Sua capacidade em retratar seu papel foi notável.
ZH – Em Nome de Deus mostra as faces diferentes e contraditórias dos impasses sociais e políticos das Filipinas. Como o filme foi recebido em seu país?
Mendoza – Ele foi bem recebido nas Filipinas. Muitos apreciaram o filme por sua apresentação honesta dos eventos. Os parentes e sobreviventes do incidente foram ver o filme e elogiaram-no por sua representação verdadeira.
Zero Hora – Como foi filmar Em Nome de Deus na selva? Quais foram os maiores obstáculos?
Brillante Mendoza – Em Nome de Deus mostra um dos problemas sociopolíticos que empestam a sociedade filipina. O tema complicado é o resultado de camadas entrelaçadas de fatos e ficção. Minha intenção foi mostrar uma tapeçaria de emoções e comportamentos que explicasse por que esse ato covarde foi cometido. Mas, no fim, o que deveria prevalecer eram as decisões e convicções das pessoas de fazerem o bem ou o mal. Filmar em uma selva é muito desafiador simplesmente porque você não controla os elementos naturais. Mas o melhor de lidar com a natureza é o elemento surpresa. Fiz uso desses elementos no filme para acrescentar a beleza da espontaneidade e da naturalidade. Acolho esses momentos de surpresa como um presente da natureza. Eu os capturo e faço deles parte do meu filme. O maior desafio foi apresentar a história de uma maneira factual e objetiva, em que ninguém fosse estigmatizado ou demonizado. Todos os eventos foram baseados em fatos e pesquisados.
ZH – Você tem Isabelle Huppert no filme, uma grande estrela. Como foi trabalhar com ela? Ela se adaptou facilmente ao seu método?
Mendoza – Foi uma experiência incrível dirigir Isabelle Huppert. Ela é uma grande e generosa atriz, muito profissional. Sabe o que quer com exatidão, mas generosamente. Uma vez que a cena era explicada, ela dava tudo. Sabe como se colocar e tem um profundo entendimento de sua arte. Acho que ela se surpreendeu mais com meu estilo porque confio nos meus instintos quando filmo. Permito que as coisas se desenrolem em cena e que os elementos simplesmente cresçam e brilhem. Não vejo as cenas específicas de Isabelle, olho para o total de sua performance no filme do princípio ao fim. Sua capacidade em retratar seu papel foi notável.
ZH – Em Nome de Deus mostra as faces diferentes e contraditórias dos impasses sociais e políticos das Filipinas. Como o filme foi recebido em seu país?
Mendoza – Ele foi bem recebido nas Filipinas. Muitos apreciaram o filme por sua apresentação honesta dos eventos. Os parentes e sobreviventes do incidente foram ver o filme e elogiaram-no por sua representação verdadeira.
Brillante Mendoza
ZH – Você mostra no filme um evento e uma conjuntura de 10 anos atrás. Como o governo filipino lida hoje com a oposição e com os grupos separatistas?
Mendoza – A atual administração fez uma negociação de paz com os grupos separatistas no Mindanao muçulmano (segundo maior grupo de ilhas das Filipinas). É um esforço bem-vindo, de ambos os lados, que eles tenham sentado à mesa de negociação para chegar a um acordo que vai, enfim, pôr um fim ao conflito.
ZH – Por que você trocou o nome original do filme, que se chamava Prey (“Presa”)?
Mendoza – Havia um filme na França com o mesmo título, Prey. Para não criar confusão, nós decidimos mudar o nome para Captive (título internacional de Em Nome de Deus).
ZH – Em filmes como Tirador, Serbis, Kinatay e Lola, você mostra a dura vida dos filipinos despossuídos, cercados pela pobreza e pelo crime. Você acredita que o cinema tem a obrigação moral de denunciar esse estado de coisas?
Mendoza – Definitivamente. O cinema tem a capacidade de influenciar seu público. É uma ferramenta para a transformação social. Como diretor, acho que tenho uma responsabilidade com o público em termos de levá-lo a se envolver com problemas sociais. Eles devem conhecer a verdade e fazer algo a respeito dessas questões. O filme não deve ser apenas entretenimento, ele tem que refletir as questões sociais que afetam a sociedade. Essa é uma forma de criar consciência social, a fim de elevar a consciência das pessoas para as questões que as afetam.
ZH – Que tipo de cinema e cineastas você admira e influenciaram o seu trabalho de alguma maneira?
Mendoza – Prefiro me debruçar sobre o que me influenciou nos meus filmes. O que me influencia são histórias reais e experiências de pessoas comuns. As vidas deles são verdades a serem contadas. O sofrimento e as lutas em meio a situações extraordinárias. Essas são as maiores influências em meus filmes. Há muitas histórias para contar, mas como capturá-las com honestidade, mostrando apenas a verdade essencial, sem glamorizar e glorificar os personagens, é o desafio de todo cineasta.
ZH – Você esteve no Brasil no ano passado. Que impressão essa visita causou em você?
Mendoza – O Brasil é um lugar bonito. É como uma tapeçaria de cores bonitas. As pessoas são calorosas como os filipinos.
ZH – O que você sabe de cinema brasileiro?
Mendoza – Não vi nenhum filme brasileiro recentemente, embora eu tenha visto o longa de Walter Salles chamado Central do Brasil. Ele mostrou vividamente a cultura brasileira ao retratar emoções humanas e conflitos dramáticos.
ZH – Você mostra no filme um evento e uma conjuntura de 10 anos atrás. Como o governo filipino lida hoje com a oposição e com os grupos separatistas?
Mendoza – A atual administração fez uma negociação de paz com os grupos separatistas no Mindanao muçulmano (segundo maior grupo de ilhas das Filipinas). É um esforço bem-vindo, de ambos os lados, que eles tenham sentado à mesa de negociação para chegar a um acordo que vai, enfim, pôr um fim ao conflito.
ZH – Por que você trocou o nome original do filme, que se chamava Prey (“Presa”)?
Mendoza – Havia um filme na França com o mesmo título, Prey. Para não criar confusão, nós decidimos mudar o nome para Captive (título internacional de Em Nome de Deus).
ZH – Em filmes como Tirador, Serbis, Kinatay e Lola, você mostra a dura vida dos filipinos despossuídos, cercados pela pobreza e pelo crime. Você acredita que o cinema tem a obrigação moral de denunciar esse estado de coisas?
Mendoza – Definitivamente. O cinema tem a capacidade de influenciar seu público. É uma ferramenta para a transformação social. Como diretor, acho que tenho uma responsabilidade com o público em termos de levá-lo a se envolver com problemas sociais. Eles devem conhecer a verdade e fazer algo a respeito dessas questões. O filme não deve ser apenas entretenimento, ele tem que refletir as questões sociais que afetam a sociedade. Essa é uma forma de criar consciência social, a fim de elevar a consciência das pessoas para as questões que as afetam.
ZH – Que tipo de cinema e cineastas você admira e influenciaram o seu trabalho de alguma maneira?
Mendoza – Prefiro me debruçar sobre o que me influenciou nos meus filmes. O que me influencia são histórias reais e experiências de pessoas comuns. As vidas deles são verdades a serem contadas. O sofrimento e as lutas em meio a situações extraordinárias. Essas são as maiores influências em meus filmes. Há muitas histórias para contar, mas como capturá-las com honestidade, mostrando apenas a verdade essencial, sem glamorizar e glorificar os personagens, é o desafio de todo cineasta.
ZH – Você esteve no Brasil no ano passado. Que impressão essa visita causou em você?
Mendoza – O Brasil é um lugar bonito. É como uma tapeçaria de cores bonitas. As pessoas são calorosas como os filipinos.
ZH – O que você sabe de cinema brasileiro?
Mendoza – Não vi nenhum filme brasileiro recentemente, embora eu tenha visto o longa de Walter Salles chamado Central do Brasil. Ele mostrou vividamente a cultura brasileira ao retratar emoções humanas e conflitos dramáticos.
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Reportagem por ROGER LERINA
roger.lerina@zerohora.com.br
roger.lerina@zerohora.com.br
Fonte: ZH on line, 08/11/2012
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