sábado, 26 de janeiro de 2013

Após quatro anos, amigos veem mudanças na família Obama

 Jodi Kantor*
 Após quatro anos, amigos veem mudanças na família Obama Damon Winter/NYTNS
 Foto: Damon Winter / NYTNS

Barack e Michelle Obama passaram mais de mil dias expostos aos olhares do mundo, mas nem sempre é fácil perceber as mudanças pessoais pelas quais passaram durante esse tempo

 
Pessoas que conhecem a família Obama de perto observam uma série de pequenas mudanças no presidente e na primeira-dama desde que o casal chegou à Casa Branca, quatro anos atrás. O homem que queria mudar a natureza de Washington agora alerta os candidatos de que é muito difícil mudar as coisas. Não faz muito tempo, Obama disse que não queria uma biblioteca presidencial em seu nome, um tributo que custaria centenas de milhões de dólares aos cofres públicos. Agora, a ex-assessora Susan Sher está procurando discretamente novas possibilidades para o presidente em Chicago.

A primeira-dama queria se conectar com a vida em Washington, mas veio a descobrir que até mesmo observar as cerejeiras da cidade exigiria o uso de chapéu e óculos de sol, além de convencer o serviço secreto. De acordo com uma assessora, uma das mostras de como o presidente e a primeira-dama acham difícil manter os relacionamentos pessoais é o fato de Michelle Obama ter parado de tutorar meninas em um de seus programas, para evitar que outras adolescentes invejem a sorte das escolhidas.

Quando o presidente foi consolar as famílias dos professores e das crianças assassinadas no massacre de Newtown, em Connecticut - Obama chorou ao ver as fotos e ouvir as histórias de cada uma das vítimas - os assessores puderam perceber em seu rosto o peso de absorver todos os traumas da nação. "É isso que eu faço", contou Obama.

— Esse cargo talvez tenha custado mais a Obama - do ponto de vista pessoal e energético - do que à maior parte de seus antecessores, já que ele veio de fora — observou o dramaturgo Tony Kushner, um apoiador que recentemente jantou com o presidente para discutir o filme "Lincoln", para o qual escreveu o roteiro.

Os Obama tiveram perdas e ganhos nos primeiros quatro anos na Casa Branca, passando de novatos a profissionais experientes e convencionais, além de reconhecer o limite das possibilidades. Entretanto, o casal não está habituado à reinvenção constante e o presidente e a primeira-dama têm sido afetados por seus cargos, segundo entrevistas de atuais e antigos assessores de campanha e da Casa Branca, de doadores e amigos de Chicago.

Pessoas próximas ao casal Obama os descrevem com frases como: "mais confiantes, mas machucados", "mais isolados", "menos hesitantes em relação a funcionários diretos, sejam mordomos ou assessores de alto nível". A família Obama foi agraciada com a reeleição, vista por eles como uma justa redenção, e o casal demonstra irritação quando o assunto é vencer os republicanos. Além disso, Obama aprendeu que seu governo será influenciado por eventos inesperados - "gafanhotos", segundo um ex-assessor, pela maneira como formam nuvens sem aviso prévio.

Barack Obama nunca quis ser um político normal - já houve um tempo em que Michelle Obama nem gostava de chamar o marido de político - e seus assessores não gostam da ideia de que ele tenha sucumbido aos costumes de Washington. Alguns doadores e assessores riem da ideia de que o casal possa estar seguindo mais de perto os rituais políticos: esse é o presidente que ainda não chamou Bill e Hillary Rodham Clinton para jantar, mas que faz almoços frequentes para discutir filosofia moral com o colega de prêmio Nobel Elie Wiesel.

— Obama reflete sobre o destino em termos humanos — afirmou Wiesel em uma entrevista.

Ainda assim, outras pessoas afirmam que os Obama se tornaram conversadores mais relaxados, mais tranquilos em relação à linha tênue entre o político e o social e mais dispostos a se abrirem. Recentemente, o casal começou a convidar mais pessoas de fora para os cômodos privados da Casa Branca, incluindo Kushner, Steven Spielberg e Daniel Day-Lewis durante o jantar do filme "Lincoln". Durante um jantar realizado no fim de novembro para agradecer às pessoas que mais arrecadaram fundos para a campanha, Barack e Michelle Obama pareciam noivos, passando de mesa em mesa para receber parabéns e votos de felicidade para os próximos anos, além de contar piadas que os convidados não revelaram à reportagem.

O que o presidente quer neste mandato está muito claro: um acordo fiscal e reformas nas políticas de armamentos e de imigração, além de medidas para abordar a mudança climática e leis menos rígidas para identificar eleitores. Contudo, é muito mais difícil saber o que a primeira-dama quer. Aparentemente, Michelle Obama é calorosa e despretensiosa; recentemente, trocou mensagens de brincadeira com Ellen DeGeneres no Twitter sobre quem consegue fazer mais flexões.

Esse tom informal esconde o quão disciplinada ela é na verdade. Embora muitas pessoas em volta da família Obama afirmem que ela mudou muito mais que o marido, enquanto aprendia a cumprir um papel que considerava desconfortável, Michelle ainda trata o cargo de primeira-dama como uma zona perigosa, que precisa atravessar com cuidado. A mulher que nunca quis viver em uma bolha agora a utiliza para se proteger, segundo amigos e ex-assessores, preparando suas atividades públicas em planos estratégicos de seis a 12 meses e raramente dizendo algo que não esteja preparado de antemão. Com frequência, primeiras damas são figuras reconfortantes, mas Michelle não se pronunciou a respeito da tragédia de Newtown, muito embora alguns de seus fãs esperassem que a "primeira-mãe" fizesse mais.

Nas últimas semanas, Michelle Obama e seus assessores discutiram se devem estender seu trabalho social além da obesidade infantil e das famílias de militares, buscando formas de aproveitar sua popularidade. Recentemente, Michelle se aliou à nova iniciativa do marido para organizar apoiadores, apresentando o grupo "Organizing for Action" em um vídeo de divulgação. (A iniciativa ambiciosa parece ter chamado menos atenção do que o novo penteado da primeira-dama, que gerou manchetes como "Franja de Michele Obama causa choque no sistema".)

A primeira-dama não pode esperar muito tempo para encontrar novos caminhos: agora, o casal Obama já passou da metade de sua estadia na Casa Branca. Os rituais que introduziram se tornaram tradição, ao invés de inovação. Assim como no ano passado, o pequeno grupo de convidados afro-americanos e judeus do jantar do Sêder de Pessach da família Obama na Casa Branca lê a Proclamação de Emancipação pouco antes de receber Elias. O presidente jogou basquete no dia da eleição em 2012, assim como fez em quase todos os dias de votação em 2008. Mas dessa vez foi um pouco diferente: os homens estavam mais velhos, a ação mais lenta, um jogo de reunião em que todos falavam dos velhos tempos, afirmou John Rogers Jr., um amigo de longa data que participou do jogo.

Toda a carreira de Barack Obama girou em torno de dar o próximo passo: se ele pudesse se tornar advogado, funcionário público, senador dos Estados Unidos, presidente, mudar de verdade este país. Entretanto, em breve não haverá cargos mais altos, afirmam assessores, e há um ar de pragmatismo na família Obama, um contraste com a noção de possibilidade que tomou conta da primeira posse do presidente. No início do primeiro mandato, Obama costumava passar horas melhorando os discursos cerimoniais, como no Bicentenário de Abraham Lincoln; agora, o presidente tem uma melhor noção de como utilizar seu tempo precioso, afirmou Adam Frankel, ex-autor de discursos. Quando Obama saiu do palco no dia da eleição, não parou para comemorar a vitória; preferiu falar sobre o impacto dos gastos externos na corrida pelas vagas no congresso, afirmou Patrick Gaspard, diretor do Comitê Democrático Nacional.

Agora Obama também sabe que não tem controle total sobre seu futuro, que a presidência continuará a trazer tarefas que ninguém poderia antecipar. A família Obama deveria passar a noite de 16 de dezembro no recital do "Quebra-Nozes" de sua filha. Ao invés disso, o presidente passou a noite fazendo ligações de condolências em salas da Escola de Newtown.

— Não existem palavras para descrever a aflição em seu rosto quando o presidente conversou com as famílias — afirmou Sarah D'Avino, cuja irmã Rachel morreu protegendo os estudantes. O presidente pediu a cada família para descrever o parente morto, prestando especial atenção às mães das vítimas. Pais em luto entregaram fotos para que o presidente as levasse consigo para a Casa Branca, e ele lhes disse que as crianças eram bonitas e que os professores eram heróis nacionais.

Momentos depois, alguém pediu ao presidente para sorrir. Um de seus fotógrafos sempre estava por perto pois, apesar de tudo, os enlutados queriam tirar fotos com o presidente. 
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* THE NEW YORK TIMES NEWS SERVICE
Fonte:  http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/mundo/noticia/2013/01/apos-quatro-anos-amigos-veem-mudancas-na-familia-obama-4023516.html - 25/01/2013

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