Juremir Machado da Silva*
Escrevi que o rock começou a morrer com a morte de Janis
Joplin, a cantora emblemática de um espírito, de uma atmosfera, de uma
revolução.
Alguns leitores ficaram indignados e dispararam os clichês corretivos.
Garantiram que o rock está vivo e que tem muita banda boa por aí, dando Porto Alegre como exemplo dessa imortalidade roqueira.
O rock morreu é uma fórmula que exige análise de discurso.
A morte sempre deixa seus fantasmas, sombras que andam muito tempo
depois da extinção do corpo com relativa autonomia e alguma
criatividade.
O rock foi uma revolução.
Um imaginário.
Nenhuma das bandinhas que andam por aí, mesmo quando são boas,
inventará um imaginário capaz de igualar Jimi Hendrix, Janis Joplin e
Jim Morrison. Daria para citar Bob Dilan e mais alguns mitos.
Essa revolução já se completou.
Ela ajudou a mudar a mundo.
Mas, como tudo, foi engolida pela voragem do tempo, pela ideologia da novidade e por uma superação do seu objeto: a rebeldia.
O rock, no fundo, foi sempre contracultura, mesmo antes de ser
conceitualmente, utopia e sociedade, como dizia o outro, o maluco,
alternativa. Estamos noutra era, uma era na qual o rock é apenas música,
nostalgia ou divergência para poucos, muito poucos, sempre menos,
vestígio.
O rock, como revolução e imaginário, teve uma dinâmica viral.
Espalhava-se na velocidade da explosão mental.
A contracultura morreu.
O rock não poderia sobreviver a ela.
Não há mais resistência aos padrões do chamado “sistema”?
Claro que há. Mas o rock não é mais a sua expressão principal.
De certa maneira, claro, o rock viverá para sempre: como um espectro.
Encontrei meu colega Carlos Gerbase, roqueiro, nos bons tempos, de
“Os Replicantes”, e comentei sobre a morte do rock. Ele respondeu com a
rapidez no gatilho de Django (estávamos lá para ver o filme de
Tarantino):
– O rock morreu faz tempo!
Comentei o mesmo com Eduardo Bueno, o Peninha, que também estava lá
para ver Tarantino (tudo mundo estava lá, o Sérgio Ludke e a Cacá, o
Gerbase e a Luciana, o Peninha e a Paula, o Fernando Malheiros e a
família, eu e a Cláudia, a Rose, a Lívia, o Sérgio Teixeira e mais uma
sala cheia).
O rock é como Django: uma lenda viva.
Cada um pode reinventá-la.
O original, porém, aquele que dá aura ao fenômeno, ficou nos anos 60.
Dizer que o rock morreu não representa necessariamente ficar parado
no tempo louvando uma época de ouro da cultura ou da contracultura.
Não admitir a morte do rock, como potência comportamental
revolucionária, é que significa essa parada no passado, esse apego ao
que radicalmente se foi.
O resto é mimimi.
Está faltando um Tarantino do novo rock.
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* Sociólogo. Escritor. Prof. Universitário.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=3808
Imagem da Internet
Juremir, quando nossa galera se reunia, era para ouvirmos Jimi Hendrix - quem é esse cara para tocar isso - é coisa do futuro ? - no filme que passou na quinta-feira do Hendrix , o guitarrista Keith Richards disse : quebrou todas as regras.
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