Anna Carvalho*
Essa fotografia pertence ao acervo da Life Magazine
e pode representar uma foto-choque, uma vez que podemos perceber uma
família ao redor de um ente agonizando. Trata-se da representação da
AIDS nos anos 1990, através da figura do jovem rapaz David Kirby.
David era ativista gay nos anos 1980 e ao descobrir
que possuía a doença pediu auxílio para a sua família, pois queria
morrer próximo a eles. Essa fotografia teve a intenção de ser um
registro da face da AIDS e mostra David Kirby em seu leito de morte. A
fotógrafa Therese Frare
ganhou o prêmio World Press Photo com essa imagem e, a partir dessa
experiência, passou a se dedicar em registrar a epidemia da AIDS ao
redor do mundo.
Tempos depois, essa fotografia foi colorida e utilizada por Oliviero Toscani
numa das campanhas mais controversas da história da publicidade para a
marca Benneton. Toscani decidiu colorir a imagem para torná-la mais
chocante e mais “real”.
Na publicidade, o conceito do conotativo geralmente
está relacionado com a ausência do produto em si, a fotografia
representa somente um conceito, que por sua vez, está agregado ao
produto. Nesse caso, a denotação foi deixada de lado e a imagem
fotográfica conotativa mostra algo não concreto.
Como podemos notar, na propaganda acima, existe a
ausência do produto a ser consumido, no caso as roupas da marca
Benetton. Essa propaganda faz parte das ideias de Oliviero Toscani para
agregar valores à marca, mas com humor e crítica, de modo a propagar um
ideário de quem usa as roupas da Benetton.
Ela se torna mais do que uma peça publicitária, se
torna um conceito onde a luta pela igualdade e respeito às diferenças se
tornam a bandeira para a venda de produtos relacionados à marca. Um
exemplo claro da produção publicitária conotativa, onde a legenda pode
representar as diferenças e atribui à Benneton uma qualidade
humanística. A conotação transmite uma atmosfera que não existe, onde o
conceito deforma o sentido.
Ao ser deslocado de sua condição inicial, o
fotojornalismo ganha o terreno da indústria cultural de forma mais
evidente e, por isso, pode se tornar um espaço de manifestação do
mitológica, criando uma dimensão onde as fotografias podem funcionar
tanto como dispositivo de espetáculo, quanto como mecanismo conceitual
de venda de roupas. Em ambos, a deformação do sentido está presente,
pois ela pode atender às formas que causam choque (no fotojornalismo e
na publicidade), mas que naturalizam a dor dos outros (no fotojornalismo
e na publicidade), fazendo com que a imagem participe de uma esfera de
consumo.
---------------
* Pesquisadora.
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/escrever_com_a_luz/2013/01/26
Nenhum comentário:
Postar um comentário