sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O Mestre, de Paul Thomas Anderson

 article image

Um mergulho através da alma humana

Cada novo filme deste que é um dos maiores diretores da atualidade, gera uma grande expectativa. Não é diferente com O Mestre, filme que vem em seguida a Sangue Negro, onde Anderson explorava as ilimitadas possibilidades do protagonista Daniel Day-Lewis. Neste novo filme, os atores além de serem brilhantes, rendem em interpretações absolutamente fascinantes, como no caso de Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman.
Phoenix, irmão de um dos maiores atores de Hollywood, o precocemente falecido River Phoenix, é mais conhecido pela interpretação do vilão de Gladiator, o imperador louco que rivaliza com o personagem de Russel Crowe. Em O Mestre, Phoenix faz o papel do marinheiro Freddie Quell, uma mistura de alquimista, boxeador e alcoólotra, que se encanta pelo guru Lancaster Dodd (Hoffman). 

Lancaster Dodd viaja o mundo pregando uma espécie de religião espírita, que acredita que o corpo é somente um vasilhame, ocupado pela alma durante determinada encarnação. Nossa alma muda continuamente de corpo, e podemos, através de métodos de regressão, vislumbrar as nossas vidas passadas. Esse guru, que é colocado constantemente contra a parede por céticos de todos os tipos, também fica em evidência aos olhos do espectador: ficamos na dúvida se se trata de um completo charlatão, ou se ele realmente acredita naquilo que prega.

No caso do marinheiro, Freddie Quell é um tipo completamente incomum, com uma inteligência que parece voltada para a própria maneira desapegada de encarar a vida. Sua liberdade é absoluta, mas como conciliá-la com a sua função de seguidor desta espécie de seita de seu amigo Dodd. A amizade entre os dois, uma espécie de fenômeno único no universo, é no fundo o que costura a trama do filme. Neste solo não pisam os personagens clichês que o cinema americano nos apresenta todos os dias, ou mesmo aqueles tipos pretensamente populares com que o cinema brasileiro busca imitar o americano. 

Em O Mestre, o que vemos não são vilões nem mocinhos, mas homens que buscam formas de estar no mundo. O que o filme nos mostra é a possibilidade de liberdade, principalmente aquela que se dá através do desenvolvimento do afeto entre as pessoas. 

Se passei tanto tempo escrevendo sobre a interpretação dos atores, assim como sobre a história que o filme mostra, é porque estes aspectos se sobressaem em meio à primorosa estética fotográfica, e à música absolutamente dosada, que compõem esse filme. O que vemos, apesar da ousadia estética, é um filme que se detém nos aspectos mais simples e importantes da cinematografia clássica: contar uma história com boas interpretações. 

Se pensarmos como Eisenstein, na sua teoria de que o filme funciona como um espetáculo de circo, e cada um dos seus elementos pode ser concebido como uma atração ligada às outras, podemos perceber que o domínio do diretor da linguagem cinematográfica se baseia na orquestração destas atrações em torno da interpretação dos atores. Tal como no teatro Nô japonês, que considera o trabalho dos atores o que há de mais difícil e mais importante, e todo o resto é supérfluo, Anderson se cerca dos melhores atores para realizar o seu projeto. O filme, em última instância, é um mergulho na nossa própria humanidade.
---------------
Fonte:  http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/o-mestre-de-paul-thomas-anderson/ por Francisco Taunay
Veja trailer:  http://www.youtube.com/watch?v=fq3xXeQMFQ4&feature=share&list=UUJmCTfaqgP5AWqfQCF21fPg

Nenhum comentário:

Postar um comentário