sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Por que Superman ainda é tão popular?

The Observer

Imagem do ator Henry Cavill como Super-Homem. Foto: 
Divulgação / Warner

O trailer do filme da muito esperada atualização da história de Superman, este ano, inclui um momento que parece subverter um dos mais famosos personagens da paisagem cultural americana. No início o trailer narra a conhecida história do menino vindo de um planeta distante, criado por fazendeiros do Kansas que tentam manter em segredo seus poderes e o chamam pelo nome humano de Clark Kent.

Mas, depois de salvar do afogamento os jovens que lotavam um ônibus escolar, Clark, um adolescente traumatizado, confronta seu padrasto, que teme que ele tenha revelado sua verdadeira natureza. “O que eu deveria fazer? Deixá-los morrer?”, pergunta Clark. Seu pai responde: “Talvez”.

É um exemplo chocante de ambiguidade moral no universo do Superman, onde tradicionalmente esteve claro o que é certo ou errado. Juntamente com uma trilha sonora tristonha e cenas que tentam ser “artísticas”, é a sugestão mais forte até agora de que o Super-Homem de 2013, interpretado pelo ator britânico Henry Cavill, será muito diferente.
Desde que apareceu pela primeira vez na Action Comics, em 1938, Superman se adaptou à mudança dos tempos. Depois do início da Segunda Guerra Mundial, ele mudou seu slogan de lutar por “verdade e justiça” para lutar por “verdade, justiça e o modelo americano”. Isso continuou na década de 1950, quando ele se tornou um símbolo do musculoso patriotismo americano, incapaz de errar.

Mas, enquanto o país enfrentava o turbilhão dos anos 1970 e adotava uma cultura mais diversificada, Christopher Reeve dotou o Superman de qualidades mais humanas. Na versão da saga dos quadrinhos para o cinema feita por Richard Donner em 1978, o sacrifício pessoal de repente se tornou parte da atração do Super-Homem.

Isso continuou até o filme estrelado por Brandon Routh em 2006, quando, com um cristão evangélico na Casa Branca e muita conversa sobre a guerra ao terrorismo ser um conflito com o islã, Superman quase foi representado como uma figura de Cristo. Ainda este ano, a última história da DC Comics fez Superman deixar seu trabalho no jornal para começar um blog.

“Superman muda com uma rapidez notável, no entanto consegue paradoxalmente projetar uma ideia de virtude imutável”, disse o professor Benjamin Saunders, da Universidade de Oregon, autor de um estudo acadêmico sobre super-heróis chamado Os deuses usam capas?.
Então, qual será a aparência do Superman de 2013? Mesmo com as imagens conhecidas da infância em Kansas e o alterego de Clark Kent, é provável que ele reflita nosso mundo moderno, que é incerto e teme o colapso, seja econômico, político ou ambiental. 

Ao buscar refletir estes tempos perturbados, Zack Snyder, que dirige o novo filme, chamado Homem de Aço e agendado para lançamento em junho, estará lidando com uma das figuras da ficção mais poderosas do século 20. Os fãs geralmente gostam de discutir qual super-herói venceria outro em uma luta, mas no reino do marketing de imagens não há dúvida — Superman sempre vence. “Ele é o primeiro super-herói global”, disse Larry Tye, autor de Superman: The High-Flying History of America’s Most Enduring Hero (Super-Homem: a história de alto voos do mais duradouro herói americano).

De fato, a influência de Superman é tão grande que ele lidera o crescente estudo acadêmico de heróis dos quadrinhos e seu papel na sociedade. Considera-se que essas figuras desempenhariam a mesma função social que os mitos da Grécia ou Roma antigas. São criaturas extraordinárias, que lutam por ideais elevados e nos dão lições de moral. “Precisamos de mitos que nos ensinem virtudes. Eventualmente, essas virtudes precisam ser personificadas por alguém. A mitologia sempre exerceu essa função”, disse o filósofo Harry Brod, professor na Universidade do Norte de Iowa.

Alguns levaram mais longe a questão das lições morais das histórias do Super-Homem, enxergando por trás delas um poderoso conceito filosófico. Em seu livro, Saunders dedica um capítulo a Superman, no qual sugere que a imensa popularidade do personagem é consequência de ele ser a personificação da bondade. “Em termos da cultura popular do século 20, ele capta a ideia de um ideal platônico do bem. Quando o Super-Homem é bem-feito, não me envergonho em chamá-lo de uma linda ideia”, disse Saunders.

Outros especialistas no funcionamento das culturas humanas vão ainda mais longe em seus esforços para explicar a extraordinária longevidade da figura de Superman.

O filme de 2006 que fez o personagem parecer uma espécie de Jesus Cristo talvez estivesse mais próximo do cerne do Superman que qualquer outra representação. Veja algumas das principais características do personagem. Ele cai na Terra vindo de um mundo longínquo no céu. Seu verdadeiro pai lhe transmite conselhos enquanto ele caminha entre os simples humanos.

A não ser que você pense que ele é Moisés. Com uma ligeira mudança de ênfase, pode-se olhar para a história original do Superman e ver um órfão de um povo cujo mundo nativo foi destruído. Ele é criado por uma família adotiva, que esconde sua verdadeira identidade. Não é um grande salto ver aí a história do exílio judeu no Egito.

Na verdade, as origens judaicas de Superman suscitaram um enorme interesse. Os criadores do personagem original dos quadrinhos, Joe Shuster e Jerry Siegel, eram judeus. Brod escreveu um livro, Superman is Jewish? (Super-Homem é judeu?) que identifica temas judeus na história. Alguns são religiosos, como os paralelos com Moisés, mas outros se baseiam em visões mais contemporâneas do judaísmo. Por exemplo, o Super-Homem é um forasteiro no mundo em que se encontra. Ele é literalmente um alienígena. Seu alterego, Clark Kent, é um esquisitão que se esconde atrás de óculos e posa como intelectual, em vez de um herói físico.

Ao colocar Superman nessas roupas, Brod vê se desenrolar uma fantasia masculina judia — mas que repercute entre os meros mortais de qualquer lugar. “Clark Kent é tímido. Ele é um nerd judeu. É fraco e covarde”, disse Brod. “Mas então… quem diria? Por trás desse exterior está o poder do Super-Homem. Todo mundo pode se relacionar com isso, mas acredito que é amplificado pela experiência judaica.”

Provavelmente não é adequado atribuir a popularidade do Superman a uma etnia, porém. Pois, apesar de ele ser visto frequentemente como americano, hoje se expandiu muito além disso.

Quando Tye pesquisava para seu livro, fez um apelo público de histórias sobre o Super-Homem. Ele queria que as pessoas lhe contassem o que o personagem significava para elas. Esperava que a maioria das respostas viesse dos Estados Unidos. Mas não. “Elas vieram da Europa e da África, de todo lugar”, disse Tye.

Afinal, talvez não importe como Snyder dirigiu O Homem de Aço de 2013. Ele pode levar Superman em uma direção mais sombria, pode fazer um filme mais adequado aos cinemas de arte que aos multiplex, pode fazê-lo representar o mundo ameaçador e confuso de 2013. Mas, afinal, quanto mais o Super-Homem muda mais ele continua o mesmo.

Pois o Super-Homem não é apenas um ser único que voa muito alto sobre nós. Na projeção de nossos desejos, esperanças e temores, o Superman somos nós.

A evolução de um herói
Ao longo dos anos, a criação das histórias em quadrinhos assumiu diversas formas no cinema — grandes e pequenas.

Superman
Esta série de 1948, de 15 episódios em preto e branco, foi a primeira aparição do Superman em ação ao vivo.

As aventuras de Superman
Estrelado por George Reeves, este programa dos anos 1950 é a primeira representação do homem de aço na televisão. Ele tornou Reeves famoso, mas até hoje há mistério sobre sua morte a bala em 1959, que foi considerada oficialmente suicídio, enquanto outros a consideram um assassinato.

Superman 1, 2, 3 e 4
Esse quarteto de filmes saiu entre 1978 e 1987, estrelado por Christopher Reeve. Para muitos fãs modernos do personagem, Reeve é a representação definitiva, embora o último filme da série tenha sido mal recebido.

Lois e Clark
Neste programa de sucesso, o personagem do Superman recebe um tratamento clássico de “comédia romântica” dos anos 1990, com a ação concentrada no relacionamento entre os dois personagens principais.

Smalville
Este programa de TV de sucesso, que foi ao ar entre 2001 e 2011, começou com um enfoque incomum para a infância de Clark Kent no Texas.

Superman, o retorno
Esta revisão de 2006 viu Brandon Routh interpretar Superman em uma visão claramente adulta do personagem. O Super-Homem de Routh luta com sua identidade e parece ter uma personalidade quase de salvador religioso.

Ver mais: Trailer legendado:  http://youtu.be/0H2lP7hvJbU
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 Fonte: http://www.cartacapital.com.br/cultura/por-que-superman-ainda-e-tao-popular/

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