Luiz Felipe Pondé *
Lincoln está mais para Bibi Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, do que para Barack Obama
Obama não tem nada a ver com Lincoln. Ele quer se vender como o Lincoln
negro, mas é festivo demais para sê-lo. Ele é um Carter que tem a sorte
de ser negro.
Obama é um presidente fraco, demagogo e oportunista. O Chávez dos EUA
(apesar de que Chávez tem mais "cojones" do que Obama). Compará-lo a
Lincoln é uma piada.
Obama está mais para Bono Vox, que ganha muita grana com fotos de
crianças da África, dizendo coisas "legais" para gente que tem uma visão
de mundo de 12 anos de idade -coisa em voga hoje.
Lincoln foi um presidente que levou os Estados Unidos a uma guerra que
matou cerca de 2 milhões de americanos, uma "sangueira patriótica", como
dizia o crítico Edmund Wilson. A Guerra de Secessão, o Norte contra o
Sul, não foi uma disputa ao redor da abolição da escravidão nos EUA.
O que estava em jogo não era a escravidão acima de tudo, era o Sul
querer sair da União. Era o Sul querer ser livre para seguir seu modo de
vida pré-moderno.
Mesmo se os confederados (o Sul) tivessem aberto mão dos escravos,
Lincoln os teria devastado, porque o que estava em questão era o
controle político e militar do território e a expansão do modo moderno
de economia e sociedade.
Incrível como o pensamento público cai nesse papo de Lincoln "liberal".
Ser abolicionista na época não era ser liberal; no Brasil, o conservador
Joaquim Nabuco foi abolicionista. A "inteligência liberal" deve deixar
Lênin, Stálin e Fidel, nada festivos, muito irritados.
Lincoln está mais para Bibi Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, do
que para Obama. Lincoln invadiria os territórios palestinos e os
anexaria.
A guerra foi o modo pelo qual o Norte, industrializado, capitalista,
cético, materialista, portanto, moderno, invadiu e destruiu a
civilização aristocrática, rural, tradicional, pré-moderna sulista. Os
"ianques" (o Norte) conquistaram o Sul, assim como espanhóis,
portugueses, ingleses e franceses conquistaram as Américas e a África.
Os confederados queriam a independência. Lincoln disse "não, o Sul
também é nosso", e levou os EUA à guerra que fez do país definitivamente
uma nação moderna.
Lincoln era um cabra macho. Os "ianques" massacraram o Sul, roubaram
suas terras, mataram seus homens, violentaram suas mulheres. Soldado
sempre foi para guerra para ganhar dinheiro e violentar as mulheres dos
vencidos. Foi nessa guerra que inventaram a metralhadora, para matar
mais gente de modo mais eficaz.
Obama não seria capaz disso porque ele gosta de coquetel beneficente e
falar para jovens sobre música afro-americana. Ele jamais tomaria uma
decisão como essa, ele é fraco demais (paralisou os EUA no Oriente
Médio), preocupado em agradar o marketing liberal americano ("liberal" é
"progressista" nos EUA) e passar para a história como o cara mais legal
da América.
O máximo que ele faria seria levar os americanos para um show do Bono
Vox. Se Obama não fosse o primeiro presidente negro da história, não
teria sido reeleito, e depois de 48 horas do término do seu mandato
seria esquecido na lata de lixo da história.
Sua relação com Lincoln é a ideia de que ele seria um presidente a
deixar uma América "liberal", assim como Lincoln. Mas Lincoln não era
"liberal", ele não queria que os EUA perdessem território e grana.
Acho importante que as pessoas sejam iguais perante a lei, pouco importa se são héteros ou homos.
Minha crítica ao Obama não está em seu possível legado "progressista"
(que não é dele, mas dos Kennedy) em termos políticos, mas sim a sua
ideia errada de que os EUA devam seguir um modelo europeu centralizador.
Os EUA são o que são porque nunca foram centralizadores, e o governo
nunca esmagou o cidadão comum fazendo dele um retardado mental econômico
e moral como no Estado de bem-estar social europeu.
O problema com Obama é sua têmpera "liberal". Esta têmpera, cozida em
campus acadêmico, gosta de festa, greves de estudantes e professores
(ninguém está nem aí para esse tipo de greve porque a sociedade no seu
dia-a-dia passa muito bem sem alunos e professores universitários) e boa
vida.
----------------
* Filósofo. Prof. Universitário. Escritor. Colunista da Folha.
Fonte: Folha on line, 28/01/2013
Imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário