L.F. Verissimo*
Velha piada: qual é a diferença entre um visitante
francês e um visitante judeu? O visitante francês vai embora sem se
despedir, o judeu se despede mas não vai embora. Nós tínhamos uma tia – a
famosa tia Peregrina – que seguia o método judeu.
Quando a tia Peregrina começava a se preparar para sair, sabíamos que aquilo era apenas o início de uma longa retirada, prolongada por assuntos que ainda não tinham sido tratados. A tia Peregrina podia ficar em silêncio durante toda a visita, mas na sua saída começavam a brotar assuntos e fofocas e revelações que tinham ficado esquecidas, todas lembradas pela tia Peregrina. A migração da tia Peregrina da sua cadeira até a calçada, que era onde a conversa ficava mais animada, podia levar horas. E se alguém sugerisse que voltassem para a sala e sentassem-se de novo para continuar a conversa, a tia Peregrina era a primeira a protestar:
– Não, não. Estou indo embora. Já me despedi de todo o mundo.
E não ia embora.
Durante muitos anos, a tia Peregrina fez parte do folclore da família. Quando alguém se atrasava para sair de casa, ouvia:
– Vamos, tia Peregrina!
Até amigos que nunca conheceram a tia Peregrina, mas conheciam sua fama, a evocavam para desculpar um atraso.
– Epa, desculpe. Dei uma de tia Peregrina.
Confesso que não sei qual era o parentesco dela conosco, nem que fim levou. Parte do seu hábitat, a calçada onde todas as conversas terminavam, ficou inabitável. Mas duvido que assaltantes e balas perdidas fossem impedi-la de contar a última. Sempre imagino a tia Peregrina sendo velada e, no momento em que vão tampar o caixão, levantando o dedo e dizendo:
– Esperem, tem uma que eu não contei.
Quando a tia Peregrina começava a se preparar para sair, sabíamos que aquilo era apenas o início de uma longa retirada, prolongada por assuntos que ainda não tinham sido tratados. A tia Peregrina podia ficar em silêncio durante toda a visita, mas na sua saída começavam a brotar assuntos e fofocas e revelações que tinham ficado esquecidas, todas lembradas pela tia Peregrina. A migração da tia Peregrina da sua cadeira até a calçada, que era onde a conversa ficava mais animada, podia levar horas. E se alguém sugerisse que voltassem para a sala e sentassem-se de novo para continuar a conversa, a tia Peregrina era a primeira a protestar:
– Não, não. Estou indo embora. Já me despedi de todo o mundo.
E não ia embora.
Durante muitos anos, a tia Peregrina fez parte do folclore da família. Quando alguém se atrasava para sair de casa, ouvia:
– Vamos, tia Peregrina!
Até amigos que nunca conheceram a tia Peregrina, mas conheciam sua fama, a evocavam para desculpar um atraso.
– Epa, desculpe. Dei uma de tia Peregrina.
Confesso que não sei qual era o parentesco dela conosco, nem que fim levou. Parte do seu hábitat, a calçada onde todas as conversas terminavam, ficou inabitável. Mas duvido que assaltantes e balas perdidas fossem impedi-la de contar a última. Sempre imagino a tia Peregrina sendo velada e, no momento em que vão tampar o caixão, levantando o dedo e dizendo:
– Esperem, tem uma que eu não contei.
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* Escritor. Jornalista. Cronista
Fonte: ZH on line, 17/01/2013
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